Mais um voo totalmente lotado. O embarque teve início apenas meia hora antes da partida marcada para as 2:40 h. Logo na abordagem estava sendo anunciada a duração de seis horas e vinte minutos até a Cidade do Panamá. A aeronave era um Boeing 737-800 e houve bastante confusão com a dificuldade de alguns passageiros em encontrar seus assentos. Apesar de toda a balbúrdia a decolagem ocorreu no horário definido originalmente. O pouso aconteceu às 6:00 h, três fusos horários a menos do que em São Paulo. O intervalo no Panamá seria de mais de três horas, suficiente para caminhar bastante pelo aeroporto. O terminal novo ainda não foi aberto, mas parece que não vai demorar muito para ser inaugurado. Ao menos os painéis de informação na enorme ala antiga foram atualizados e agora mostram todos os voos do dia. Pude então descobrir imediatamente que meu portão ficava na extremidade oposta. A internet grátis é boa mas vale apenas por meia hora. Quando o avião pousou, ainda no escuro, havia muitas nuvens no céu. Porém, após a manhã aclarar um forte sol tomou conta da sala de espera para me aquecer e obrigar a devolução do casaco para o interior da mochilinha. Felizmente não havia ar-condicionado suficiente para esfriar o ambiente iluminado pelos raios solares que atravessavam a grande área envidraçada. Não pude aproveitar muito, no entanto, porque logo que uma funcionária alertou para a mudança de portão, reparei que os passageiros já estavam abordando. A refrigeração de mais um Boeing 737-800 estava forte porém não requereu a proteção do agasalho. O voo de somente 1:45 h me devolveu para um fuso com defasagem de 120 minutos em relação à Brasília. A pequena lotação me deixou com os dois assentos vizinhos vagos e pude tranquilamente preencher o formulário da imigração enquanto outros viajantes se acomodavam. Do meu lado o frio estava suportável por causa do sol que entrava pela janela mas, quando mudei para a poltrona da outra janela para observar Aruba, quase congelei. O capitão já estava descendo, no entanto, e o sobrevoo quase por cima da ilha não possibilitou um bom ângulo de visão. Pouco antes do pouso das 12:15 h o avião entrou numa tremenda nuvem escura mas a dica é não se assustar porque elas estão sempre à vista. Após ter o passaporte carimbado pela policial e encontrar a mochilona sã e salva na esteira passei à primeira atividade, que foi encontrar um caixa eletrônico. A informação de uma funcionária me colocou na direção para a qual não imaginaria ter seguido. Apesar da pequena fila de correntistas, espantei o temor inicial de que o cartão recém substituído não funcionasse. A preocupação seguinte era saber se o motorista do ônibus poderia trocar uma nota que calculei pudesse comprar dez ou vinte passagens. Tentei antecipar o câmbio numa loja de conveniências mas a vendedora falou que só se eu comprasse alguma coisa. Não gostei da resposta, que era a segunda meio atravessada, e fui tentar a sorte na condução. A dificuldade do momento foi encontrar alguém que me desse uma informação confiável. Só recebi nova patada. Parece que a população local não é extremamente simpática. Com a informação fresca me plantei na calçada para aguardar o transporte, já imaginando que não teria muita paciência. Às 13:00 h decidi que valeria a pena fazer a primeira caminhada da viagem. A distância até o centro calculada pelo mapa eletrônico por vias interiores era de 13 km. Como não havia razão para tanta pressa, encarei o desafio, uma vez que a carga total que carregava não chegava a 10 quilos. Fazia bastante calor mas o sol era frequenttemente encoberto pelas nuvens em constante movimento. Não me lembrei de passar protetor mas não esqueci do boné. A primeira figura simpática surgiu na pessoa de um policial, aparentemente de folga, dirigindo um carro todo estourado. Fez questão de mostrar o revolver na cintura e insistiu em me dar carona. Recusei com a desculpa verdadeira de que queria caminhar. Os curaçenhos dirigem na mão certa mas muitos com volante inglês e as vias secundárias por que andei eram estreitas. Nos trechos menos movimentados aproveitei para digitar partes do diário porém, em várias ocasiões, era preciso interromper a tarefa e prestar atenção no trânsito. O ponto em que o guarda quis me ajudar foi justamente quando estava entretido e havia feito um desvio errado. Foi o suficiente para ele insistir mais ainda. Num dos trechos mais movimentados fui obrigado, para desviar dos veículos, a pisar com tudo numa poça de lama que me deixou lambuzado até o joelho. Após uma hora de caminhada o asfalto começou a apresentar um arremedo de acostamento e pude voltar a dividir a atenção com a digitação. Próximo ao centro o mapa me conduziu por uma rua meio esburacada mas que era bem mais tranquila do que a avenida central em que havia se transformado o percurso. Deu para perceber que devo encontrar vários cães soltos. A maioria parece de paz mas alguns se mostraram barulhentos e ameaçadores. Às 15:00 h, quando faltavam cinco quilômetros para chegar no hotel, fui pego de surpresa por uma forte chuva que chegou por trás. Não havia abrigo na imitação de calçada e tive que me contentar com o espaço entre uma árvore e uma casa que parecia abandonada. Quando apertou de vez não pude deixar de invadir o alpendre da propriedade, displicentemente protegido por um portão de ferro arrebentado e despencando. Dez minutos foi tempo suficiente para a nuvem passar e me senti liberado para seguir o caminho. Cansado de dobrar nas quebradas sugeridas comecei a adotar a rota segundo minha percepção do ambiente, aproveitando a presença cada vez mais frequente de calçadas razoáveis e evitando a visível subida de morro para onde o aplicativo tentava me atrair. Ao sair do aeroporto não considerei a hidratação, já que a ideia original não era completar o roteiro a pé. Contudo a presença mais constante de estabelecimentos comerciais me levaram a procurar um mini-mercado onde fiz a primeira troca dos florins sacados por meio litro de água. Ainda peguei mais garoa antes de encontrar o hotel, coisa não muito imediata porque o local marcado no mapa estava errado. Observando a reserva percebi que o endereço ficava para o lado oposto ao que seguia. Na recepção encontrei um chinês jogando videogame. Sem saber do que eu estava falando, chamou outro chinês com quem pude novamente confirmar a operacionalidade do cartão. O quarto é muito bom e a internet pareceu bem adequada apesar de um engasgo inicial. Como já estava andando havia três horas fiquei com preguiça de sair para procurar um supermercado. As lojas que existem são aquelas bem comuns nos países latinos, com todas as aberturas gradeadas com grossas barras de ferro e apenas uma pequena janela por onde entregar as mercadorias. A fase perigosa do passado parece ter ficado para trás e todos os estabelecimentos por que passei estavam de portas bem abertas. E sempre pilotados por orientais.