As mochilas ficaram com 10 e 3 quilos. O resto foi no corpo. Após uma noite muito longa, cheia de cochilos, segui para os balcões da TAP. O voo para Lisboa deveria sair às 6:00 h e o despacho da bagagem abriria duas horas e meia antes. Mas precisei esperar mais uma hora depois para passar na fila da inspeção por raio-x. Foi uma confusão geral. Depois que todos estavam na fila aguardando a passagem pela inspeção, a assistente mandou todo mundo voltar e passar de novo no portal, porque a fila só abriria às 4:00 h. Então, todo mundo teve que sentar e esperar mais. A policial para quem perguntei disse que a próxima passagem só seria franqueada às 6:00 h. Informação não de todo verídica já que alguns voos partiriam antes deste limite. Não sei se era a mesma bagunça todo dia ou se era assim mesmo apenas nesse horário. Uma propaganda nos monitores se gabava de que Orly havia sido eleito o melhor aeroporto regional da Europa. Esqueceram de falar que seria bom os viajantes receberem algumas atualizações quanto aos procedimentos. E nessa zona de limbo, entre raio-x e porta de embarque, a internet ficava bloqueada e as tomadas estavam desligadas. Estava garoando desde ontem à noite. O voo no Airbus A321 neo, com três lugares de cada lado do corredor, tinha duração estimada de duas horas e meia. O cheiro do banheiro esteve particularmente forte. Deu tempo de passar o carrinho vendendo lanches. O segundo trecho partiria cinco horas após o pouso em Lisboa. Poderia desfrutar com tranquilidade da excelente Sala VIP, antes de passar pela imigração para deixar a Europa. Mesmo consumindo lentamente vários pratos no restaurante, desci para o saguão meia hora antes do surgimento do portão nos monirores de informação. Estava com um dos olhos nas telas e outro na loja da FNAC. Assim que apareceu meu destino, fui verificar se existia o adaptador que sumiu pelo bolso furado. Expliquei para o recifense meu drama e ele ficou abismado de haver um produto como o que eu descrevia. Após consultar várias caixas, ele encontrou um ao contrário. Falando com outro funcionário, encontraram um lote do que eu precisava. Perguntei se poderia testar e, inicialmente, ele recusou por achar que estava lacrado. Não estava, e deu para verificar que era exatamente o que necessitava. Na realidade, a melhor forma seria continuar usando a agulha, mas achava ela muito frágil e mais fácil ainda de perder. Decidi gastar os € 10,00 pensando na utilização repetitiva da próxima viagem. O ideal, pensando bem, seria comprar um celular mais avançado, contudo este era um investimento para o futuro. Por enquanto, o velho estava dando para o gasto, além do que estávamos bastante acostumados um com o outro. Mais uma vez, o passaporte português mostrou sua utilidade e pude ser atendido rapidamente pelo oficial, que me desejou boa viagem. O embarque foi uma bagunça e paradigma da desorganização. A TAP parecia ser, há muito tempo, a principal transportadora de brasileiros para a Europa e de volta para casa. Eram vários voos diários, para São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém e outras capitais . Na sala de embarque parecia tudo normal. Movimentado, porém sem sinais de descontrole. Para começar, a aeronave da Airbus A330 neo, na configuração 2x4x2, com as últimas fileiras com uma poltrona a menos no meio, estava estacionada do outro lado do terminal, o que indicava a necessidade de pegar um ônibus. Ou diversos para caber todo mundo. Um bom sinal inicial foi que os passageiros de mais gabarito, como eu, tinham transporte exclusivo. Os ônibus chegaram mais ou menos ao mesmo tempo, contudo não abriram as portas por vários minutos. Surgiu um transporte que pareceu mais VIP, porém também ficou estacionado sem permitir a saída dos ocupantes. Finalmente, o motivo ficou aparente, ao descer a turma da faxina. Temporariamente. Tiraram bastante lixo e voltaram para buscar mais. Às 12:20 h, no horário da decolagem, a entrada do micro-ônibus foi aberta para deixar três africanas entrarem em primeiro lugar. Oficiais diplomáticas? Sob garoa, os outros veículos foram descarregados e subi pela escada do meio, mais próxima do meu assento no fundão. Durante todo o processo de abordagem, a chefe dos comissários repetia mensagem padronizada afirmando a prioridade dada pela TAP à pontualidade dos voos e solicitando a agilidade dos passageiros em tomar seus lugares. Esta era mais uma ligação com lotação completa e logo ganhei um vizinho. Meia hora depois do prazo, o comandante iniciou o taxiamemto e a comissária apresentou repetidamente suas desculpas pelo atraso. As informações preliminares falavam em duração de nove horas e meia até São Paulo. Durante todo o deslocamento pela pista o tempo esteve seco, contudo, na hora da decolagem, alguns pingos grossos começaram a bater na fuselagem. Não demorei muito para cair num sono profundo e acordei com a mesma rapidez por causa do meu próprio ronco. Mais uma vez, a posição da minha poltrona significou que não teria opção de refeição. Fiquei com o razoável ravioli verde. Com mais uma longa sessão de sono o capitão chegou à metade do caminho, tendo recuperado algum atraso. A chegada estava estimada para 18:45 h. Noventa minutos antes foi servido o sanduíche de despedida. A mochila levou quase uma hora para ser entregue e eu sempre ficava na dúvida se eles iam escolher a esteira normal ou a de itens fora do padrão no canto longínquo do salão. Chegou na segunda. Peguei o ônibus gratuito para a estação do trem que o funcionário disse que só sairia em 45 minutos. A outra opção era trocar algumas vezes no caminho. Como não tinha movimento neste horário, foi a que escolhi por parecer economizar alguns minutos. Cheguei em casa às 21:15 h. Acho que do outro jeito levaria quase o mesmo tempo sem ter que mudar tanto.