A maior novidade deste quarto era a descarga eletrônica, barulhenta e ineficaz. Suga como a dos aviões mas tem água. Todas as hospedagens têm se mostrado muito preocupadas com a economia de recursos naturais, resta saber se o motivo seria realmente ecológico ou apenas financeiro. Sugeriam com veemência que as toalhas fossem reutilizados e que as luzes ficassem ligadas pelo menor tempo possível. Nesse aspecto o verão ajudava bastante, já que não escurecia antes de 22:00 h e as amplas vidraças permitiam a entrada de luz natural até tarde. Também existia muita informação e exigência com respeito à pandemia. Contudo eram somente resquícios de tempos mais duros e raramente observadas. A previsão climática ainda não autorizava vacilos. Rennes é uma cidade do interior e mais quente. Porém, ao longo do litoral as condições eram bem mais variáveis. Para otimizar o espaço do saco de utilidades, saí às 7:45 h vestido em camadas. Levantei 15 min antes com o intuito de me certificar de que tinha todo o necessário, medida que tem se mostrado ineficiente com frequência no últimos tempos. Demorei uma hora em passo lento, tentando reconhecer as rotas possíveis, e cheguei na rodoviária 60 min antes da partida. Minha preocupação era com a lotação do transporte. Os operadores justificam como uma vantagem, porém eu vejo como ameaça, o fato de os horários coincidirem com os TGV que vêm de Paris. Com medo de perder a passagem, impressa num papel vagabundo, achei melhor tirar uma foto para armazenamento preventivo, em caso de necessidade. Comprei as passagens ontem imaginando que a reserva fosse obrigatória, contudo, parece que os bilhetes permitem a utilização em qualquer dia e horário. Havia três opções de ida na parte da manhã e de volta durante a tarde. Minha intenção era usar a primeira e a última com o objetivo de ter o maior tempo de visita disponível. O ônibus grande e gelado tinha estimativa de 1:15 h para atingir o Monte e saiu com aproximadamente 20 passageiros. A paisagem campestre proporcionou uma boa meia hora de cochilo. Um ônibus gratuito conduz os interessados pelos 3 km até o monumento. Inicialmente achei que ia fazer parte dos preguiçosos porém, após a viagem, achei que a caminhada espantaria o resto do sono. Apesar do sol, tive que vestir o casaco e só fui tirá-lo perto da hora do almoço, quando o céu limpou de vez. Logo no início do percurso foi construída uma barragem para regular o fluxo do Rio Cuesnon. A variação das marés é muito grande ao longo de toda a costa da Bretanha, mas principalmente na baía do Monte Saint-Michel, que por vezes faz com que a ilha da abadia seja cercada por água e em outras ocasiões permite a caminhada pelas praias formadas durante a vazante que, por sinal, é um dos passeios favoritos dos turistas aventureiros. A grande igreja construída a partir do séc. X pelos monges beneditinos deu origem ao vilarejo dentro dos muros, no sopé do rochedo, com suas poucas vielas estreitas, curvas e inclinadas, atualmente ocupadas em sua totalidade por estabelecimentos turísticos como bares, restaurantes e lojas de lembranças. Além de religiosa, a construção era também de grande importância militar, tendo evitado a invasão dos ingleses em vários episódios da Guerra dos Cem Anos. Após a Revolução, o mosteiro foi transformado em prisão, época em que foi criado um monta-carga para fazer subir provisões, cuja roda era impulsionada pelos forçados. Iniciei a visita pelo passeio da muralha, com belas vistas tanto das águas e áreas alagáveis quanto do templo acima. Planejava subir até o topo pelas ruas da cidade porém, como as defesas já tinham bastante inclinação, cheguei à altura da entrada do recinto religioso sem passar pelo centro tumultuado. O ingresso não incluía o audio-guia mas eu achei que ele seria importante para obter alguns dados e fatos históricos. Passei duas horas andando por corredores, torres e salões, o belo claustro, a Galeria dos Monges e a Sala dos Cavaleiros, cuja utilização não têm consenso entre os historiadores, a Sala dos Hóspedes, em que ficavam instalados os peregrinos importantes como reis e nobres, as capelas e áreas de assistência social aos pobres. Muito relevante era o Refeitório, onde os monges se reuniam para fazer refeições simples ouvindo a leitura da vida do santo do dia. A regra beneditina previa silêncio absoluto entre os moradores do convento e apenas eram permitidos sinais para comunicações importantes. As grandes atividades do mosteiro eram a oração, a contemplação e a meditação. Exagerei um pouco nas aquisições literárias mas a Idade Média é um dos meus temas favoritos. A descida pelo centro estava quase impossível. Acho que os visitantes preferem um horário mais tardio e a saída se dava por uma lenta fila indiana com as pessoas, inevitavelmente, parando para apreciar as vitrines e fazer compras. Havia mudado de ideia quanto ao retorno e pretendia entrar no segundo ônibus, das 16:00 h. Como havia muito tempo voltei a pé pela passarela usada por ônibus, carroças, bicicletas e pedestres. Depois de uma hora o ônibus para Rennes saiu e eu aproveitei a tomada, que não havia no trajeto da manhã.