Desci às 7:45 h para encontrar o Manollis trabalhando nos documentos contábeis. Novamente ele não quis receber alegando que tinha que terminar o movimento dos hóspedes que saíam. Me mostrou rapidamente as atrações da região, de que eu já tinha conhecimento a partir das pesquisas de antes da viagem. Se o nome da cidade tem um som conhecido não é coincidência. Ele é uma homenagem ao filho mais famoso da ilha, o filósofo que desenvolveu o teorema do triângulo retângulo. Ele costumava ensinar seus alunos numa caverna das montanhas, porém ela não é muito próxima e o acesso parece ser difícil. Não fazia parte dos planos. Na saída da cidade ficam alguns vestígios de casa dos tempos helenísticos e, pouco mais acima, o teatro antigo. Fiquei algo frustrado porque palco e arquibancadas de madeira e metal foram erigidos sobre as pedras originais para permitir utilização moderna. No entanto, é possível ver as fundações sob o trabalho recente. Subindo as encostas por mais algumas centenas de metros fica um mosteiro que oferece bela paisagem do centro da cidade e de toda a baía. Há também a entrada de uma das diversas cavernas que, atualmente, serve de depósito de entulho e outra, dentro do convento, em cujo fundo foi construído um oratório. Na parada seguinte tinha intenção de conhecer uma maravilha da engenharia hidráulica do século VI a.C. Pelo que havia lido já previa o final da história, contudo quis constatar de perto a inviabilidade. Na entrada do parque um cartaz em vários idiomas elenca as dificuldades da empreitada para o turista moderno. O túnel de mais de um quilômetro de comprimento foi construído a partir de 550 antes da era cristã para levar água de uma nascente até a cidade. Foi escavado a partir das duas extremidades, que se juntaram com precisão incrível até para a ciência atual. A visita é desaconselhada em uma série de situações e, no meu caso, o que mais dificultava era o chão escorregadio e a necessidade de uso de calçado fechado. Andar por 1.000 metros em ambiente escuro e claustrofóbico também não deve ser muito agradável. Algumas pessoas se juntavam na entrada, porém acho que eram guias. Os poucos visitantes que vi se aproximarem não chegaram a tentar a proeza, retornando do portão, como eu. E ainda assim o valor do ingresso era um absurdo. Claro que não entrei. Para economizar chinelo e não repetir caminho resolvi descer a encosta por um atalho de terra que reencontraria a estrada mais à frente. Apesar das incertezas e de achar que estava andando por propriedade particular em alguns momentos, não surgiu nenhum obstáculo. A rota passou para o plano e seguiu por vários quilômetros paralela ao mar até o desvio para a zona arqueológica do Templo de Hera. Este foi um dos maiores santuários da Grécia antiga e, ao contrário do que havia imaginado, tinha muitos visitantes. Não sei se foi por falta de troco ou pena, mas o bilheteiro cobrou apenas meia entrada. Havia muitas placas informativas, garantindo um passeio instrutivo além de agradável. Samos foi uma ilha muito rica e influente na antiguidade devido ao comércio o que justifica a grande quantidade de vestígios arqueológicos, não apenas em sítios delimitados como também em ocorrências isoladas espalhadas por toda a redondeza. Pitagório era a capital naquela época, o que explica a importância e abundância de achados. No final da baía fica a cidade balneária de Ireo, quase na curva da ilha e com uma bonita série de praias. O litoral todo até o centro é uma extensa zona praiana com solo forrado por uma mistura de pedras grandes e areia, porém não percebi muito interesse estético. No retorno, perto do Templo de Hera no qual cheguei por vias pavimentadas, não encontrei trilha litorânea e fui obrigado a caminhar um trecho por dentro do mar. Chegando na cidade fui conhecer o Castelo de Licurgo, que o meu conhecimento arquitetônico diz que é do período medieval. Em seu interior foi construída a igreja símbolo da cidade, ao lado de um cemitério. Os gregos são especialistas em inventar nomes para diferenciar os inúmeros santos e templos que a crença popular vem acumulando ao longo dos tempos. A Catedral dentro do Castelo foi nomeada em honra da Metamorfose do Salvador.