A previsão meteorológica de hoje estava bem mais animadora e a visão reduzida da janela do quarto também era positiva. Subi até a cobertura às 7:00 h para observar o horizonte e fiquei satisfeito com a condição ensolarada. Alguns chuviscos ainda eram possíveis na parte da manhã mas concluí que ficar na cama ia aumentar a preguiça e achei melhor sair imediatamente. A caminhada planejada seguia em direção ao centro da ilha e ao litoral do lado contrário ao de ontem. Como essa parte é mais montanhosa não havia tantas possibilidades de acesso ao mar sendo a área costeira limitada por altos penhascos em grande parte. Uma das praias mais famosas da ilha, a de Lalaria (leia lalariá) é exemplo de local acessível apenas por mar e várias excursões fazem uma parada lá, além de passarem pelas grutas da área. Não estava muito interessado no passeio já que os barcos utilizados são enormes, levando centenas de pessoas e as imagens que havia visto na internet eram meio assustadoras tal a quantidade de visitantes. Além do mais os dias ruins reduziram a disponibilidade de tempo para muitas visitas. Saí às 7:30 h preparado para enfrentar alguns desníveis consideráveis, pelo que mostrava o mapa eletrônico. Optei por percorrer uma rota um pouco mais longa porém com melhor pavimentação do que a sugerida pelo GPS, afinal a distância não seria muito superior a cinco quilômetros no total. Andando pelo asfalto e em nível mais alto pude notar que a rota de terra automaticamente escolhida seguia por um vale que, além de ficar na sombra, provavelmente seria marcada por várias poças de lama. Em menos de uma hora as ladeiras haviam me elevado a mais de 200 metros de altura e a recompensa eram as magnificas paisagens, apesar do vento gelado. Depois de atingir os 350 metros de altitude e ver mais uma enorme montanha pela frente, com uma bandeira grega no topo, fiquei na dúvida se conseguiria realizar o feito. Contudo a estrada me levava para baixo e em outra direção. Chequei a lamentar a perda de oportunidade de exercitar a perseverança. Entrei no Monastério Evangelistria (leia evanguelístria) pouco depois das 9:00 h durante uma cerimônia religiosa conduzida por dois padres ortodoxos. Andei um pouco pelas instalações me preparando para a etapa seguinte. Descobri que uma estrada muito mais direta e menos árdua conduzia ao monastério, mas isso foi só quando cheguei lá. Como a rodovia havia me levado para baixo antes de ultrapassar completamente a espinha da ilha tive que refazer a subida para realizar a segunda visita planejada. Estava na dúvida se deveria fazer os dois passeios no mesmo dia mas como ainda estava cedo resolvi tentar. O Kastro é outra atração característica de Skiathos e foi construido no topo de um rochedo. A fortificação já serviu como capital da ilha. No caminho, quase uma hora após ter saído de Evangelistria às 10:00 h, apareceu um desvio subindo outra montanha e levando a mais um mosteiro e que passaria por perto do pico que havia visto antes. Como a distância não era exagerada, apesar de ter que continuar subindo, resolvi me aventurar. O início era concretado mas logo deu lugar ao chão batido em boas condições e com algumas poças secando. Contornei o Pico Mytikas e reparei na corda que servia de corrimão para escalada de alguns degraus visíveis entre as pedras. Mesmo não parecendo impossível achei melhor continuar driblando os empoçamentos e tentar chegar ao monastério de São Haralambo, nome perto de impronunciável. Mais do que uma igreja eu estava à procura de uma visão ampla, especialmente depois que eu percebi pelo mapa que estava bem próximo da praia de Lalaria acessível apenas por barco. Não tinha muita esperança de visualizar o paredão mas sabia que estava andando sobre ele. Após alguns minutos descansando na entrada do mosteiro fechado iniciei ao meio-dia a caminhada para o Kastro. Apenas após seis horas andando pelas montanhas é que fui trocar de vertente na descida para a fortaleza. Estava com uma preguiça danada porque sabia que a única maneira de voltar era subindo tudo de novo. Aquele lado não tem transporte público mas o tempo ótimo, sem nuvem alguma no céu deu o empurrão que faltava. Iniciei a decida asfaltada às 13:30 h. Foi uma ladeira assustadora que levou quase uma hora. Pavimentada em seu maior trecho, porém com uma inclinação incrível. O suor dentro do chinelo exigia ainda mais cuidado. Não tive coragem de terminar a pirambeira até a praia e fiquei no nível da fortaleza. Não conseguia pensar em nada além da subida na volta. O Kastro foi uma cidade construída no século XIV como proteção contra os piratas e os restos de edificações que abrigavam 1.500 pessoas estão espalhados por todo o rochedo. Havia 400 casas e 20 igrejas. As muralhas acomodavam todos quando havia situação de risco e o único acesso era pela ponte levadiça de madeira. Por mais que tentasse, não conseguia me concentrar nos painéis informativos, e apressei a saída para enfrentar a inacreditável ladeira que precisava vencer. Comecei às 15:30 h e a tática que resolvi seguir foi dar passos curtos e olhar para a frente apenas para me posicionar. Do contrário mantinha os olhos no chão para não me desesperar. Acho que o treinamento psicológico deve ter ajudado porque em pouco menos de uma hora eu havia completado o infame trecho de quatro quilômetros de ladeira praticamente ininterrupta. Estava de volta na cota de 400 metros e pronto para decidir a continuidade do trajeto. Para não repetir o caminho da manhã deveria seguir num sentido, mas isso me levaria mais para longe da cidade. Resolvi refazer o percurso matutino que agora só dependia de uma pequena subida e o resto era só para baixo. Revendo a inclinação da ladeira fiquei espantado em como consegui subir aquilo tudo pela manhã. Deveria estar muito descansado.