Antes de acordar já havia desistido de repetir a viagem frustrada de ontem à Veneza. Aproveitando o embalo também dispensei o café da manhã. Saí do quarto às 7:30 h pensando em retomar a caminhada pelo anel fluvial com seus parques e ciclovias. Apesar de bem menos ameaçador o céu ainda tinha muitas nuvens e o sol demorou para aparecer. Ao longo do primeiro canal que comecei a percorrer percebi várias placas presas aos troncos das árvores com uma mensagem de boas-vindas. Inicialmente achei que se tratasse de propaganda política porém, à medida que caminhava, observei que eram as árvores novas as identificadas e o que achei que fossem nomes de pessoas eram as espécies vegetais. A frase que acompanhava o cartaz também era muito apropriada: uma árvore que cai faz mais barulho do que uma floresta que cresce. Conseguia imaginar muitas situações em que o dito se encaixaria. Já havia alterado em parte o roteiro imaginado trocando o percurso por uma rota mais urbana. Após atravessar algumas portas nas muralhas renascentistas e ler sobre a história local nos painéis ao longo das vias segui em direção à estação de trem com o objetivo de adquirir a passagem para a mudança de base de amanhã. Bateu um forte remorso e decidi comprar o bilhete para Veneza novamente. Ainda não estava muito tarde e o clima havia limpado bastante. Achei que perderia uma boa oportunidade se não revisse a irresistível cidade. A saída seguinte estava marcada para as 9:51 h, em apenas 30 minutos e chegaria com tempo suficiente para realizar o passeio com a única intenção de percorrer as vielas, ver a paisagem e tirar algumas fotografias. O trem de dois andares vinha de Bolonha e estava bem cheio. Não deu para escolher muito e sentei no primeiro lugar vago que enxerguei na parte de cima. Passei quatro horas andando sem destino fixo, lembrando que todos os caminhos em Veneza conduzem a São Marcos. Foi um passeio curto mas muito recompensador, tanto pelas vistas maravilhosas como por ter redimido a falha que o clima estava me induzindo a cometer. Havia muita gente visitando a cidade e, por vezes, era obrigado a andar em fila única para atravessar pontes ou ruas estreitas. Peguei o trem de volta quase no mesmo horário que o de ontem e encontrei lugar facilmente. Na chegada em Pádua voltei às bilheterias para adquirir a permissão para amanhã e precisei fazer tentativas em diversas máquinas até encontrar uma que aceitasse o cartão. Cometi a bobagem de comentar com a funcionária que prestava assistência aos inexperientes e ela queria me mandar para a fila dos vendedores humanos. Apenas permitiu que eu fizesse uma última consulta, e queria colocar a culpa no meu cartão. Deu vontade de esfregar a passagem na cara dela quando terminei de realizar a transação com sucesso. Aqui também esse pessoal acha que sabe tudo só porque veste uniforme e teve aula de atendimento.