Ao olhar pela janela às 7:00 h me deparei com frestas de um céu bastante azul. Querendo acreditar no que via subi até o solário na cobertura e, de fato, havia muito espaço sem nuvem. Me apressei para iniciar a caminhada torcendo para que a previsão tão horrorosa quanto a de ontem estivesse equivocada. Saí do hotel quinze minutos mais tarde, deixando, inclusive, o livro e o casaco para trás. Em troca carreguei uma garrafa de água na esperança de ter muita cede no percurso caloroso. Atravessei a rua principal para pegar a estrada e senti o ar gelado das regiões ensombreadas, não pelas nuvens, quase inexistentes, mas pelas construções e relevos. Pretendia continuar visitando as praias do norte, de acesso mais difícil e, para tanto, segui pela rodovia costeira, através do istmo da Península de Kanapitsa (leia canapítissa) até a vila de Troulos (leia trúlos), repetindo o caminho que havia feito no sentido contrário no primeiro passeio na ilha. A partir de então teria que virar para o interior para atingir a outra costa. Após uma hora andando fiz um desvio para a pequena praia de Vromolimnos (leia vromóliminos), cuja estreita faixa de areia servia de base para duas, e às vezes três, fileiras de espreguiçadeiras. Não sobrava muito espaço para caminhar sem molhar os pés. Um desvio do desvio me levou até a vizinha praia de Kolios (leia cólios), de onde voltei para a rodovia principal. Nessa altura já começava a reavaliar a possibilidade de seguir com os planos originais. A quantidade de nuvens começava a aumentar significativamente e não podia crer que a previsão científica do aplicativo estivesse tão errada. Decidi inverter o sentido do circuito e continuar pela estrada principal onde, em caso de necessidade, poderia entrar no transporte coletivo de volta para o centro. Passei pela praia de Aghia Paraskevi (leia aía parasqueví) e cheguei em Troulos, local da entrada para o interior de que havia desistido. Fui conferir a praia lotada e verificar a condição preocupante do céu antes de seguir por mais alguns quilômetros, passando pela praia de Maratha (leia márata) até a última parada do ônibus em Koukounaries (leia cucunariés). Esta é uma região preservada por causa do parque natural que fica atrás da praia, coberto por pinheiros que cercam uma área alagada. A longa extensão de areia estava lotada, com cada vez mais barcos trazendo turistas dos arredores. Deve ser uma loucura com tempo bom. Estava decidido a retornar na hora do almoço em condução, porém as nuvens aparentemente estavam indecisas e as aberturas no céu me incentivaram a seguir até as duas praias seguintes, Banana Grande e Banana Pequeno, o ponto de encontro dos nudistas, separadas por uma bela formação rochosa que teria me atraído se o sol estivesse mais camarada. Estava adquirindo mais coragem com o tempo razoavelmente acolhedor e resolvi ver até onde conseguia ir. A parada seguinte foi na praia Aghia Eleni (leia aía eléni) que, junto com as duas Bananas, já se encontrava do lado menos acessível do litoral. Voltando um pouco pela estrada asfaltada havia um entroncamento com um caminho de terra que conduzia às demais praias deste lado. Logo apareceu um acesso no barranco que não tive coragem de enfrentar. Era íngreme demais para o meu gosto e, com toda a umidade do ambiente, tinha jeito de ser bem escorregadio, mais parecido com um vale aberto pela correnteza. Apenas depois da tentativa fui perceber que era outra descida para a praia da qual havia acabado de sair. Continuando na boa estrada de terra passei por um espetacular litoral recortado, onde a encosta terminava na bela praia de Krifi Ammos (leia quifrí ámos). Dessa vez me contentei em admirar a paisagem do alto. O céu já estava praticamente todo encoberto mas o conjunto de três praias seguintes era tão perto que arrisquei mais um pouco. De qualquer forma teria que seguir naquela direção para voltar à rodovia. Porém deu para entrar ainda em mais um atalho para a praia de Mandraki e na saída percebi que o casal que ia na minha frente desviou para dentro da mata onde havia uma trilha. Uma verificação mais apurada do mapa eletrônico mostrou que por ali se chegava à vizinha praia de Elias. Agora estava resolvido a iniciar o retorno, mesmo faltando a praia de Agistros, que só avistei de longe. Novamente andando por uma trilha dentro do bosque de pinheiros comecei a sentir os primeiros pingos mas o céu não estava muito fechado e consegui chegar na rodovia sem me molhar muito e bem em frente a um ponto de ônibus coberto. Me preparei para esperar, porém continuava com vontade de completar a pé o percurso. Como a nuvem mais ameaçadora já havia passado, decidi ser intrépido novamente. Só faltou combinar com o chinelo, que resolveu quebrar justamente em frente a um mercado que vendia calçados. Não precisei dar nem dois passos descalço e escolhi o par que parecia estar me chamando. A partir daí foi só repetir a rota de ida por alguns quilômetros para voltar para a capital. Não choveu mais e ainda pude passar num supermercado. Surpreendentemente a jornada foi muito boa, e pude acrescentar alguns quilômetros na média diária depois de dois dias entocado. Descobri que a Maria é nora da Christina e o filho, George ou algo parecido, estava na recepção. Ao tentar entrar no quarto não houve maneira de a chave encaixar na maçaneta. Desci para pedir ajuda e o George lembrou que esqueceu de me avisar que havia trocado a fechadura, que estava apresentando um pequeno defeito que eu já havia notado anteriormente.