Às 4:30 h foi a vez da segunda parada, em Santorini. As estrelas já haviam desaparecido e a partida foi debaixo de chuva. Dando continuação ao pinga-pinga marítimo e sob tempo mais seco, o piloto atracou, depois de duas horas, no pequeno porto de Anáfi, de onde se podiam divisar as construções brancas da vila no alto da montanha. Mais quatro horas de navegação e a entrada foi no porto de Iraklio, a capital da ilha de Creta. O tempo estava horroroso, totalmente nublado e com bastante chuva. Subi para apreciar a atracação mas logo retornei para a poltrona, onde o frio não era tão molhado. Como a interrupção dessa vez foi mais longa para admitir o grande fluxo de passageiros a pé e de carro e também de muita carga, tornei a voltar para o deck coberto. Apesar de o tempo já estar um pouco melhor, o frio ainda era intenso e não consegui permanecer por muitos minutos.A ilha tem seu formato alongado dividido em quatro prefeituras, faixas mais ou menos horizontais, correspondentes a regiões administrativas. De leste para oeste elas são Lassithi (leia lassíti), Heraklion (leia iráclio), Rethymno (leia retímino) e Chania (leia rraniá). Planejei meu passeio para iniciar numa ponta e sair pela outra daqui a um mês. A capital fica no meio do caminho e ainda faltava uma parada para minha descida em Sitia (leia Citía), a cidade mais oriental em que vou pousar. Se levar em conta a informação da bilheteira em Atenas, o capitão deve estar bastante atrasado. O prazo inicial para a chegada era 13:40 h. A grande demora no porto de Iraklio, de mais de uma hora, permitiu que utilizasse a rede wifi gratuita dos ônibus da cidade e deu tempo suficiente de completar o diário de ontem. Além disso pude me aquecer com o sol generoso que reaparecia. Só no final da viagem foi que percebi que não estava conseguindo acessar a conexão do navio porque não havia comprado o vale. Não sei o que me levou a crer que ela fosse grátis e não entendia que usuário e senha ela solicitava. Pelas três horas seguintes o navio bordeou a costa norte da ilha, passando pelo aeroporto, a região mais turística da ilha, ao redor da cidade de Herssonissos (leia rrerssónissos) e a grande Baía de Mirabello, depois da qual surgiria minha hospedagem pelas próximas cinco noites. Pude ter noção mais definida do relevo que iria enfrentar, uma vez que planejava fazer vários passeios pela região. As subidas do Monte Likavitus em Atenas e da acrópole de Korinthos foram as primeiras tentativas de adaptação. O que me deixou bastante desanimado foi a quantidade de nuvens. Se continuar assim vou ter que substituir as toalhas de praia da mochila de caminhadas por casaco e calça comprida. Quando o sol aparece esquenta um pouco mas com ele encoberto o ar fica gelado demais. Para levantar o ânimo o barco atracou sob algum sol. Não havia tirado o casaco desde ontem e continuei com ele até chegar ao hotel um quilômetro adiante do porto. A recepcionista (dona?) me deu as informações básicas mas não quis receber adiantado. Disse que seria melhor ficar para amanhã cedo. O quarto é caprichado e a internet parece excelente. Não dá para comemorar muito antes do tempo porém o teste inicial foi muito bem. Deu até para ver que mudaram a previsão do tempo e agora a chuva, que deveria terminar hoje, pode continuar pelos próximos dias. Pelo jeito maio ainda não é mês de visitar a Europa. Quando fiz o registro perguntei o nome da funcionária e fiquei achando que não havia entendido bem, apesar de ela falar bom inglês. Imaginei que deveria ser alguma coisa como Ekaterina. Na descida para reconhecer a cidade, às 17:00 h, pude me certificar de que havia escutado corretamente da primeira vez. Ela se chama Nektaria e também me respondeu que a fruta é nektarine. Pretendia ir para um lado mas a placa turística me mandou para o outro, em direção à fortaleza Kazarma. Já estava fechada. Além de ela estar fechada, fui perseguido por um cão solto que não parava de me ameaçar. Depois de dois quarteirões ele desistiu. Desci as escadarias, que são em enorme quantidade nas transversais que ligam o mar à encosta, e segui para a rodoviária tentar verificar horários de ônibus para algumas cidades próximas. Na realidade queria apenas confirmar o que já descobrira na internet. E as saídas são poucas e inconvenientes, como imaginava. Dava tempo de conhecer mais uma atração de Sitia, que não é muito aquinhoada na área de atrativos. A zona arqueológica da cidade minóica de Petras estava fechada desde 15:00 h mas, ao contrário da Kazarma, funciona aos domingos. Iniciei a volta percorrendo a avenida beira-mar e desviei perto do supermercado pelo qual havia passado na ida. A hospedagem mais longa justifica compras maiores. De volta ao hotel pude confirmar a excelência da rede e completar o serviço em poucos minutos. Na verdade o wifi nem era tão perfeito assim. Tive problema de interrupção do acesso e precisei recomeçar o processo. Porém isso não durou nem 20 minutos e, comparada com a de Atenas, a daqui é excepcional.