Com a previsão lastimável de três dias horrorosos pela frente estou completamente perdido na Grécia. Ao acordar às 8:00 h tentei passar algum tempo no terraço da cobertura mas nem o pequeno abrigo permitiu prolongar a observação do clima, completamente nublado, com garoa fina e vento forte e frio. As cadeiras molhadas impediram até mesmo a tentativa de tentar. Desci mais uma vez para o quarto pensando no que fazer durante 72 horas além de dormir. Pelo menos o acesso à internet continua excelente. A única opção realista seria comprar um livro mas, para isso, teria que aguardar uma trégua da chuva, difícil de perceber de dentro de quatro paredes e duas janelas por onde só se pode ver o chão do beco dos fundos. Poderia também ficar assistindo documentários e notícias no tablet, porém tudo tem limite. O sofá da recepção seria uma alternativa mas ficar sob os olhos da Christina, Maria ou qualquer outro também não seria muito atrativo. Eventualmente teria que sair do quarto para dar oportunidade à arrumadeira e ficaria contente de pendurar um sinal de 'não perturbe' na porta, se houvesse tal placa. Saí às 9:30 h aproveitando a trégua dos pingos e iniciei nova visita ao centro da cidade, andando por suas ruas turísticas, com lojas de roupas e lembranças, além de bares e restaurantes. O calçamento de pedras lisas é sempre um convite aos escorregões e tenho que redobrar o cuidado nessas condições. Percebi que encontrar algum livro em inglês seria tarefa quase impossível. A única livraria que achei foi um sebo com títulos apenas em grego. Após uma hora andando a garoa recomeçou e logo se transformou em chuva. Não era muito forte mas me obrigou a sentar num degrau de mármore na entrada de uma construção abandonada. Claro que outros fizeram o mesmo, cabendo aos meus vizinhos próximos dos dois lados a primazia de soltar fumaça na minha cara. E quando os fumantes não estão fumando são as moscas que atacam. Estava até torcendo para que a chuva demorasse a passar para que eu não tivesse que voltar para o hotel tão cedo. Mas ela durou apenas meia hora. Mesmo com o sol se intrometendo e ameaçando aparecer continuei sentado mais um pouco, quando resolvi procurar outra opção de ponto de vista. De volta em direção ao hotel descobri uma loja de lembranças com diversos livros em língua estrangeira. Como havia passado num mercado e estava carregado, deixei a compra para depois. Na recepção arrisquei perguntar se não haveria a disponibilidade de um quarto com varanda pelos próximos dias. Meio sem interesse a Christina respondeu negativamente, dizendo que eu poderia usar a facilidade do quinto andar. Não posso reclamar muito porque eu próprio falei que o terraço não tinha importância. Só não contava com um quarto tão soturno. Subi novamente para o solário para verificar as condições e percebi que o sol estava momentaneamente de volta, tendo inclusive secado as cadeiras de plástico. Saí para escolher a leitura e fui aproveitar o intervalo de estio sentado num banco da fortaleza de Bourtsi, com vista para os barcos de passeio pela costa. O vento estava muito forte e sabia que não poderia usufruir do lugar por muito tempo, especialmente tendo devolvido o casaco ao quarto ainda desarrumado. No entanto, apesar do frio, foi agradável comer uma torta de queijo observando o movimento e ouvindo os trovões. Às 14:30 h decidi que já havia dado bastante tempo para a faxineira e retornei ao quarto. Antes de subir aproveitei a presença da Maria na recepção e paguei o montante correspondente às sete diárias. Como a cama continuava desfeita imaginei que não haveria faxina hoje. Lembrei que o passaporte continuava retido e fui buscá-lo usando a oportunidade para saber se seria feita a limpeza. Segundo a Maria muitos hóspedes saíram, dando bastante trabalho à ajudante. Comentei que não havia pressa e subi para iniciar a leitura. Logo aconteceu a batida na porta e fui continuar o capítulo na poltrona do corredor. Quando o serviço foi completado percebi que a chuva forte havia reiniciado. Acho que essa vai ser a rotina dos próximos dias.