Após uma noite bastante agitada, sonhando em perder ou desistir da condução, acordei às 6:00 h, com tempo mais que suficiente para entrar no ônibus que partiria em uma hora. Imaginava um dia longo, envolvendo uma viagem rodoviária e uma caminhada de muitos quilômetros. Uma daquelas praias famosas, que sempre frequentam as listas das mais bonitas, adorna essa ponta de Creta. Não havia transporte público até o final, apenas até a cidade de Kasteli, também chamada de Kissamos (leia quíssamos), a mais próxima. Um passeio diário de barco, que incluía uma ilha com fortaleza da época da dominação dos venezianos e que também partia da mesma cidade portuária era uma possibilidade oferecida aos turistas em Chania. Alternativamente o percurso poderia ser realizado de carro até um estacionamento no alto da montanha. A viagem por mar não me interessava muito e, após passar várias horas analisando a rota veicular por diversos aplicativos no computador, resolvi caminhar pela estrada que entra pela península de Gramvoussa e sobe o morro. A descida para a praia do outro lado teria que ser a pé de qualquer modo. O percurso até Kasteli deveria durar perto de uma hora. Aqueles que fariam o passeio marítimo poderiam ir no ônibus das 8:30 h que os conduziria diretamente ao porto da saída do navio. O motorista fez um longo desvio para atingir umas vilas nas montanhas passando por uma estrada bastante sinuosa, o que acrescentou quase meia hora ao deslocamento antes do retorno à rodovia principal. Depois de entrar na cidade intermediária eu fui andando por meia hora até o ponto de embarque dos barcos antes fazer a pronunciada curva para o interior para continuar na rodovia pelas horas seguintes. Consultando o mapa eletrônico era possível identificar um caminho rente ao mar que parecia economizar alguns quilômetros. Entrei pelo atalho até divisar ao longe uma propriedade que dava a ideia de não permitir a continuação da rota. Achei melhor não confiar no desvio final e voltei para a rodovia principal. Pouco após a construção, que descobri se tratar de um grande hotel, surgiu uma guarita onde uma funcionária recolhia a taxa de admissão no parque natural, de que havia tomado conhecimento lendo uma placa pouco antes. Ao me apresentar fui cobrado em € 1,00 e, perguntando se o pagamento também se aplicava a andarilhos, parece que ela ficou com pena e me isentou do pedágio. O aviso falava claramente que o valor se referia a cada pessoa que entrasse na reserva e não somente aos motorizados, mas ela deve ter achado que eu já estava me sacrificando muito. A informação adicional que recebi foi de que a praia surgiria após nove quilômetros, que deveria acrescentar aos quatro ou cinco que já havia percorrido. Estava na península cujo cabo final era o último trecho de terra firme antes de chegar no continente europeu. Provavelmente ninguém nunca percorreu ou percorrerá aquela estrada a pé, mas o tráfego de veículos era muito grande. Em diversos momentos filas se formavam encabeçadas por um motorista mais lento. Pelo GPS pude constatar que a cota máxima que alcancei foi de 230 metros acima do nível do mar. Nos trechos de subida mais puxada o chão batido era substituído por concreto para facilitar a aderência. Três horas depois de sair do ônibus cheguei ao estacionamento que já estava lotado com todos os automóveis que me haviam ultrapassado. E toda aquela gente tinha como único objetivo completar a descida pela outra vertente. Cheguei a pensar em observar as condições da descida e me contentar com a vista do alto. Porém, se tantos velhos e crianças podiam encarar a aventura, não seria eu a desistir na última hora. Como aconteceu na descida para a praia de Preveli aqui também a encosta podia ser enfrentada por confortáveis degraus de pedra. O meu temor era que a distância percorrida me tivesse deixado com pouco tempo para empreender a volta contudo, eu havia estimado prazo maior para completar a caminhada e ainda estava com boa vantagem. Além disso a paisagem que se descortinava na minha frente não permitia a desfaçatez de sair com a tarefa incompleta. A praia de Balos era de uma beleza indescritível, com diversas Ilhas pontuando o mar e uma grande lagoa que se localizava no meio do istmo de ligação com o imponente Cabo Tigani na outra extremidade. O fato de ter apreciado o local do alto provavelmente me influenciou em escolher esta como a mais bela praia vista na viagem em detrimento da de Elafonisi, onde só pude chegar de barco, sem obter o panorama completo que imaginava poder ter tido se houvesse conseguido completar a trilha pelas montanhas. Pude passar uma hora andando pelas dunas, pedras, areias rosas e águas rasas antes de me obrigar a iniciar a subida. Do alto das dunas as pedras começavam a formar a escadaria de 500 degraus, segundo minha contagem imprecisa. Ao atingir o topo me admirei de não ter tido a sensação de aperto que a quantidade de carros parecia sugerir e fiquei imaginando o inferno que deveria ser o trânsito de tantos visitantes querendo voltar no final da tarde. Como resumo aproximado do passeio gastei uma hora de ônibus entre Chania e Kasteli, três horas na subida do morro, trinta minutos descendo as escadas, uma hora andando no paraíso, outra meia hora na subida das dunas e escadarias, duas horas caminhando até a rodoviária, uma hora esperando o ônibus e outra hora para chegar no hotel. Dez horas no total para completar os trinta e poucos quilômetros e conhecer um local imperdível.