25/jul/19

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27/jul/19

Fui pego pela gula. Há dois dias que vinha me entupindo de amendoim com casca. Não porque estivesse com vontade de comer amendoim, mas para terminar logo o pacote de 400 g que comprei num impulso impensado no supermercado mal provido e para não ter que carregar mais um item na viagem. As consequências se fizeram sentir na madrugada. Tive que ajoelhar cinco vezes no banheiro para me livrar da mistura de dois produtos simpaticamente nomeados em bósnio e croata. Kikiriki foi o vilão principal porém ele foi consumido junto com kukuruz, milho verde enlatado. Adicionado ao iogurte e lubrificado com uma variedade de líquidos como Coca-Cola, chá, achocolatado, suco de laranja e água, produziram um coquetel tóxico. Depois da náusea vieram as cólicas e a diarréia, junto com muito calor, muito frio e muito suor. Podia sentir cada volta da podridão nas alças intestinais. Para compensar uma noite não dormida resolvi sair bem cedo para confirmar visualmente a existência do ônibus para o aeroporto num horário próximo do real. As duas opções viáveis eram às 6:00 h e 6:50 h, apesar de poder entrar no das 8:30 h em último caso, com um pouco de correria. Quase congelei na manhã com sol apenas despontando e não pude me certificar da ligação. O motorista não apareceu até dez minutos após o prazo e eu percebi que o serviço não era confiável. Além do táxi poderia contar com um ônibus urbano cujo destino não conhecia direito. Ou, na alternativa mais ajustada aos meus padrões, usar do bem testado método antigo. A distância não é excepcional e já havia cogitado dessa necessidade, contudo, para me certificar do percurso sugerido pelo mapa eletrônico e não ser empurrado para vias inviáveis, decidi fazer uma caminhada de teste hoje, aproveitando que não estou tão ocupado assim. Antes dei uma cochilada deitado sobre a barriga, como ensinado pela Tia Maria Alice na antiguidade. Saí às 10:30 h torcendo para a revolução interna estar se acomodando. Levei duas horas e meia em passo lento e pude verificar a chance do percurso. O mapa eletrônico ficava me empurrando para a marginal ao longo do rio, mas eu teimava em seguir por uma rota que parecia mais direta. O que mais temia era a condição do terreno, porém encontrei boas calçadas o tempo todo. Passei no escritório da companhia aérea para confirmar que não era possível fazer o registro pela internet. Apesar das informações que dizem que o aeroporto da cidade não aceita essa modalidade recebi uma mensagem ontem sugerindo o processo e queria tirar a dúvida, já que estava presente no melhor local para encontrar as pessoas certas. Tudo que o funcionário falou, no entanto, foi que teria que realizar o procedimento normal duas horas antes do voo. Com isso fiquei sabendo que não há problema com a conexão. Aproveitei um banheiro limpo e tranquilo para eliminar os resíduos acumulados pelas pontadas esporádicas dos onze quilômetros do trajeto matinal. Ao sair do terminal sentei num banco para conferir o caminho de regresso mas a quantidade de fumantes, cinzas esvoaçando e a conversa constante me espantaram rapidinho. O sol estava arrancando o couro e logo surgiu uma grande nuvem cinza, ao mesmo tempo ameaçadora e salvadora. Para não repetir paisagens muito conhecidas resolvi aceitar a sugestão do GPS. A marginal é uma agradável ciclovia porém talvez não seja a melhor opção estando carregado. A instabilidade se aproximava rapidamente mas eu consegui chegar seco, ao som dos trovões e clarões de raios. A água, contudo, se resumiu a algumas gotas até virarem um temporal.