Saí às 8:00 para esperar o trem das 9:15 h para Pádua na estação. Era preciso fazer uma conexão em Veneza Mestre, o lado da La Serenissima que fica no continente. Como cheguei muito cedo no primeiro terminal daria para pegar o serviço regional anterior das 8:57 h, o que, aparentemente, não implicaria em alteração no horário da conexão. Percebi em tempo o engano, reparando que o percurso seria muito mais longo e me atrasaria para o segundo trem. Sairia quinze minutos antes mas chegaria meia hora mais tarde que o original e teria que aguardar outra composição para finalizar o deslocamento. Caminhei para a plataforma próxima onde estava estacionado o transporte originalmente planejado sem, contudo, indicação de destino. Não tinha muita dúvida mas achei melhor os painéis mostrarem a informação antes de entrar. Terminou a paciência e acabei subindo, depois de confirmar com um funcionário. Perto da extremidade mais afastada da plataforma, para onde me dirigi pensando em entrar num vagão mais vazio, não havia monitores mas o horário que se aproximava e a quantidade de pessoas que abordava se juntaram à confirmação do condutor para dar a coragem de que necessitava para me acomodar sem certeza absoluta. Passei trinta minutos adicionais na geladeira e o lado do litoral que escolhi para sentar só começou a ser aquecido pelo sol muito tempo depois da partida. Da metade para frente do itinerário as poltronas vagas esgotaram e viajantes seguiram de pé nas áreas das portas e nos corredores. Pelo menos passou o frio. Achei que ia ter um pouco de dificuldade para descer porque a minha parada era a penúltima e imaginava que todo mundo queria ir até o fim mas, ao contrário, todo mundo saiu. Mestre é uma grande interconexão de linhas. Parece que todos que desceram comigo entraram na mesma continuação. Como o segundo trecho era curto e a descida seria na parada seguinte resolvi deixar para entrar depois da maior parte dos passageiros e ficar perto da porta do trem de dois andares, já que nem pensava em procurar uma poltrona no meio da multidão por causa de quinze minutos. Só não contava com o monte de bicicleta que entrou junto comigo. Nem me dei ao trabalho de descarregar a mochilona das costas aliviando apenas o peso da pequena que ia no peito. O hotel reservado por quatro noites ficava um pouco distante do terminal mas o trajeto seguia uma linha quase reta por diversas vias que trocavam de nome. Em meia hora estava tocando a campainha e a demora me fez temer que tivesse que aguardar até o horário de registro às 14:00 h. Até perguntei alguma coisa para a italiana que estava de saída e fazia menção de segurar a porta aberta para mim, porém continuei tentando o interfone. Da segunda vez ouvi o ruído da tranca sendo aberta e subi um lance de escada até a recepção. Fui atendido por uma faxineira que destrancou o quarto e concordou que eu esperasse ali até a chegada da encarregada pelo check-in que, segundo ela, aconteceria em uma hora. A impressão inicial do quarto e banheiro amplos foi excelente, embora a conexão com a rede tenha parecido um pouca lenta nas tentativas iniciais, e não quis me instalar totalmente com receio de que precisasse empacotar tudo novamente e trocar de apartamento. Como ninguém veio me chamar após uma hora e meia fui até o escritório, onde a Sacchina realizou o débito no meu cartão. A diária incluía café da manhã que, trocaria com prazer por uma geladeira. Às 14:00 h comecei o passeio de reconhecimento. As pesquisas haviam apontado que Pádua tinha duas atrações principais: uma igreja do santo que carrega seu nome e outra com uma importante e extensa obra do pintor Giotto. A hospedagem tinha o mesmo nome da grande praça Prato della Valle, da qual era vizinha. Uma área ajardinada em formato elíptico com um canal que a circunda era adornado por inúmeras estátuas de figuras ilustres. A primeira construção imponente em que reparei foi a Abadia de Santa Justina, com suas várias cúpulas. A outra edificação com diversos domos era a Basílica de Santo Antônio, do século XIII. Dessa vez, ao contrário da Basílica de São Petrônio em Bolonha, aceitei a capa para cobrir braços e pernas à mostra, trocada por algum donativo. Na igreja de Pádua os locais mais procurados pelos fiéis eram a Capela das Relíquias e a Tumba do santo, com seus restos mortais. Voltei para a região do terminal ferroviário onde ficavam os Museus Cívicos. Eles incluíam a Pinacoteca, uma instituição arqueológica e a mais importante edificação da cidade, para quem desejava ver arte. A Capela dei Scrovegni, família aristocrática que construiu sua residência no terreno da antiga Arena Romana, teve suas paredes internas totalmente decoradas por Giotto em dois anos, a partir de 1303. Ele escolheu representar as vidas de Maria e Jesus através de quadros inspirados nos evangelhos, além de alegorias dos vícios e virtudes e dos retratos dos Apóstolos. A visita era fortemente controlada e só podia ser feita com hora marcada, com duração de trinta minutos. Achei que fosse necessário reservar com antecedência de alguns dias porém o movimento não devia estar muito grande e pude agendar a minha para a meia hora seguinte, tempo em que pude assistir um documentário introdutório descrevendo a atração. Após a igreja passeei pela Pinacoteca, onde o único artista cujo nome reconheci foi Tintoretto, apesar da infinidade de salas e pinturas, o que demonstra minha ignorância artística. Ao voltar para o quarto pude confirmar a lentidão da internet na transmissão das fotos, porém o processo não teve interrupção, que era o problema que mais incomodava em redes de baixa qualidade. Pelo menos no primeiro dia, a daqui foi demorada mas confiável.