Pelas janelas no alto da parede do quarto era possível enxergar uma pequena fresta de céu que se mostrava sobre o beco dos fundos. A visão não era das mais animadoras e o aplicativo de previsão meteorológica confirmou que o dia seria bastante nublado. O clima me manteve na cama por duas horas entre cochilos até encontrar coragem para sair do hotel às 8:30 h e iniciar o primeiro circuito de praias. Analisando mapas e informações pela ótima internet ontem à noite verifiquei que Skiathos é bem menor do que Skopelos e as altitudes são menos desencorajadoras. Escolhi a praia de Ligaries (leia ligariés) como primeira visita porque ela pareceu ser a mais distante acessível por estrada seguindo o contorno da ilha. Por outro lado, ela fica diretamente em frente da capital atravessando a montanha para a outra costa. Dessa forma pretendia conjugar um trecho rural com caminhadas litorâneas. No começo da estrada íngreme para atravessar a montanha para o outro lado da ilha havia a indicação de uma trilha mais íngreme ainda. Com um pouco de mato, mas parecia que o solo era forrado por lajes. Na dúvida sobre as condições e para aonde ia optei por continuar no chão de concreto. Não adiantou muito porque logo à frente, ao passar um hotel, o caminho se transformou em rota de terra. Contudo, a ladeira seguinte, de forte inclinação e que me levou à altitude de 200 metros, voltou a ser concretada, sinal de que veículos motorizados devem utilizar este percurso. Raramente, pelo visto. Na transposição de vertentes passei longo tempo comparando o mapa eletrônico plano e a paisagem tridimensional para tentar entender a geografia da ilha. A descida para a praia de Ligaries foi longa e tranquila mas, pouco antes de chegar, fiz um pequeno desvio para a aconchegante Tarsanas (leia tarssanás). Fiquei em dúvida se voltaria ao nível da água depois da ladeira íngreme, mas observar apenas de longe não foi suficiente. Também não estava com tanta pressa assim, apesar de ter percebido que não iria conseguir completar o passeio inteiro que havia planejado. A parada seguinte seria em Aselinos (leia assélinos) Pequeno e para ir até lá teria que ultrapassar mais uma montanha em um distância de pouco menos de cinco quilômetros e alturas de até 150 metros. Logo no início da nova subida havia a sinalização de entrada de trilha para um mosteiro. Eu passei reto. No ponto mais alto da subida alguém teve a generosa ideia de compartilhar, eu suponho, o pôr do sol, posicionando um banco da madeira de frente para o mar aberto. Às 14:00 h, após passar pelo litoral espetacular em torno da praia de Aselinos Pequeno comecei a pensar no retorno, desistindo das demais visitas por hoje. Incêndios florestais são ameaça séria na bacia do Mediterrâneo e, em particular, na Grécia. Nas ilhas não é diferente e não é raro ver hidrantes e extintores espalhados pelas matas ou carros de bombeiros estacionados em posições estratégicas ao longo das estradas. A descida pelo bosque para a praia de Aselinos Pequeno tinha varios desses equipamentos e poucos metros adiante na rodovia dois vigilantes aguardavam uma tragédia em seu caminhão vermelho. Após um quilômetro e meio andando para o interior surgiu o mosteiro para o qual seguia a trilha que havia encontrado anteriormente. Não sei como teria sido pelo outro mas acho que o meu caminho foi bem mais tranquilo, seguindo a estrada de terra, porém larga. O computador identificou uma estrada pela montanha, mais ou menos paralela a que usei pela manhã. Optei, no entanto, por um caminho mais costeiro, tentando evitar os desníveis drásticos. Ainda assim teria que voltar para a outra costa, o que envolveu mais uma travessia árdua antes de atingir o litoral do lado correto. A partir daquele ponto poderia entrar em um dos frequentes e lotados ônibus que fazem o percurso de dez quilômetros desde a capital passando por diversas praias. Contudo, apesar da quantidade de nuvens ter aumentado bastante, não havia ameaça e, como me sobrava ainda muito tempo, decidi continuar caminhando até o centro. Passei no supermercado e voltei para o quarto carregado e enfrentando o terreno acidentado da cidade por mais um quilômetro.