As condições meteorológicas estavam menos preocupantes do que havia imaginado pelas previsões. Pude completar o percurso de dois quilômetros e meio em trinta minutos, ainda com um pouco de sol. Parecia, contudo, que a situação iria piorar drasticamente no destino final, com dois dias meio inaproveitáveis. Já na chegada à estação central de Saltzburgo as nuvens estavam inconvenientemente se adensando. O primeiro trecho de 45 minutos sairia às 11:11 h e ainda faltava pouco mais de uma hora para a partida. O atraso de cinco minutos não impediu a entrada no regional de conexão que esperava na plataforma ao lado. Estava bem cheio e eu fiquei num banco escamoteável junto com uma bicicleta e um monte de chinezinhos. O tempo continuava horroroso. Fiz essa reserva numa região lacustre e bastante turística, uma daquelas áreas que tem enfrentado excesso de procura. Talvez pela ansiedade de marcar um espaço no destino da moda não tenha tomado os devidos cuidados na hora de definir o alojamento. Além de caro, não reparei que o cancelamento gratuito só poderia ser feito até o fim de julho. Em outra situação teria alterado para uma localidade menos procurada. Esse trecho percorria os lagos e montanhas através de paisagens magníficas. Só dava para imaginar o que seria com o céu aberto. A parada do trem era do lado errado do lago e para chegar na cidade era necessário fazer a travessia num serviço que casava com os horários das chegadas e partidas ferroviárias. O trajeto lacustre levou menos de vinte minutos e, logo na chegada, dava para ver o grande movimento de turistas que vinham apenas passar o dia. O hotel não era exatamente central, o que nas condições era um bom sinal. Apenas oitocentos metros separavam o ancoradouro do meu abrigo por três noites, em uma região bastante tranquila. O temor que tinha de enfrentar chuva no percurso não se concretizou e, ao acionar a campainha sobre o balcão, fui recepcionado sem problemas. Havia recebido diversas comunicações através do Booking sobre as regras da propriedade, inclusive uma solicitando a alteração do cartão porque o cadastrado não estava sendo aceito e poderia até perder a reserva caso não solucionasse o problema nas vinte e quatro horas seguintes. O tom de ameaça me deixou um pouco irritado, porém fiz a alteração pedida, usando o mesmo cartão já cadastrado havia vários anos. Novamente neguei a necessidade de inclusão do café da manhã e pude pagar com o VTM, como tenho feito sempre, apesar de eles dizerem que davam preferência a dinheiro em papel. O quarto era excelente, inclusive com uma varanda com vista para a montanha e um pequeno trecho do lago. Não consegui, contudo, fechar a porta e desci para reclamar na portaria. Junto com a recepcionista estava a dona e ao falar que o problema era na varanda, parecia que ela já sabia do que se tratava e disse que o marido subiria em breve. Ao aparecer e me mostrar o truque do empurrãozinho, desejou boa estada e deu tchau. A minha preocupação ainda era com o tempo e, depois de verificar a boa conexão com a internet, resolvi apressar a saída para me abastecer no supermercado quase na esquina. Com o tempo do jeito que estava não pretendia sair do quarto tão cedo. Era perto, mas bem insuficiente. Poucas opções e preços exorbitantes. Culpa dos turistas. Diferentemente dos demais hoteis, parecia que aqui o sinal de Não Perturbe era a regra e numa folha estava escrito que a placa verde deveria ser pendurada na maçaneta até o meio-dia se quisesse que o apartamento fosse arrumado. Por curiosidade olhei o verso, que era vermelho. Talvez fosse prudente pendurar para não ser perturbado, apesar de o recado no papel parecer bem explícito. O resto da tarde foi de garoa e montanhas escondidas por nuvens, que assisti da cama. A internet, apesar de boa, foi extremamente lenta na transmissão dos vídeos.