Resolvi sair para a estação sem o quilo de roupa adicional, apenas o casaco. O trem partiria às 11:30 h e achei que deixando o hotel às 9:00 h teria tempo suficiente para caminhar, já que nada sugeria chuva iminente. Levei uma hora para completar os 4 quilômetros. Não morri de frio, mas poderia estar mais agradável. Como ainda tinha uma hora de espera, decidi tentar o carregamento novamente. Agora que tinha bastante bateria, a estimativa era de 30 minutos. Também consegui acessar a rede Wifi. O cadastro pedia para definir a idade através do calendário e tive que retornar mês por mês. Só voltei até 1979. Achei melhor interromper o carregamento e procurar informações sobre a plataforma de saída. Não ia arriscar perder o trem só para provar a ineficiência da SNCF neste ponto. Quando olhei o monitor as informações já apareciam. Havia muita gente aguardando e eu temi ter dificuldade para encontrar poltrona. No entanto, o trem era bem grande, de dois andares, e sobrou bastante espaço. O ar-condicionado do vagão não estava super gelado, mas também não estava no aquecedor. O trem, claro, era excelente. Mesmo a segunda classe é ampla e confortável. Mas não tem Wifi. Em compensação a carga é rápida. Descobri uma vantagem de usar casaco. Posso deixar um punhado de nozes ou castanhas no bolso e ir comendo aos poucos, como recompensar com açúcar o cavalo obediente. O bilheteiro passou e eu percebi que não é necessário seguir a ordem de carimbar antes de embarcar que estava marcada na passagem. Não havia encontrado as máquinas carimbadoras em nenhum lugar e estava um pouco apreensivo. A chegada foi pontual e iniciei a caminhada de dois quilômetros até o hotel. Havia acabado de chover e as ruas aparentavam não fazer muito tempo. Tenho cuidado em dobro para andar em superfícies molhadas, porém o calçamento não estava escorregadio. Ao chegar ao hotel toquei a campainha do balcão para ser atendido e não apareceu ninguém. Logo de cara reparei na escuridão do ambiente. Toquei novamente, com mais força, e olhei mais para dentro do corredor. Vi um velho, aparentemente mais velho do que eu, mas definitivamente em pior forma. Acho que não devia ter escutado da primeira vez e caminhava com extrema lentidão. Lentos aliás foram todos os seus gestos. Enquanto estava me atendendo apareceram duas pessoas. A moça desistiu quando percebeu a morosidade. Após encontrar minha reserva, entregou a chave antiquada, como tudo na casa. O banheiro tem privada desconjuntada, banheira e bidê. Não foi muito mais barato do que em Paris para estar tão degradado. O quarto era amplo, mas fora de época. A janela inclinada para o céu permitia boa claridade. Felizmente não tive problema para entrar na rede porque seria bastante difícil transmitir qualquer desejo para o recepcionista em francês. Não perguntei, porém acho difícil que ele fale alguma outra linha. Saí às 14:00 h com a volta de um pouco de sol e uma grande nuvem, escura e ameaçadora pro outro lado. Na recepção estava o velho cochilando. Toquei a campainha, mas ele não acordou. Apareceu alguém, que parecia filha, brigando com ele. Eu só queria saber se a chave ficava ou ia comigo. Ficou. Percebi logo que não daria para aproveitar muito. O sol que havia visto do quarto brilhou por um pequeno intervalo entre as nuvens cinzas. Passei pela Catedral e ameacei entrar na cidade medieval. Os pingos estavam engrossando e, pela cara das nuvens e som dos trovões, resolvi passar num supermercado e voltar correndo para o hotel, enquanto era apenas garoa. A previsão indicava chuva pelo resto da tarde, porém deveria melhorar amanhã e depois. Dava para perceber pela janela suja da minha mansarda o sol se esforçando para abrir espaço entre as nuvens, sem sucesso. De vez em quando escutava alguns pingos, mas não teve nenhuma tempestade. Não sei o que aconteceu com o tablet, mas de repente, ele parou de acessar a internet. Já desliguei e liguei várias vezes e não tive sucesso. No celular está funcionando tudo normalmente. A única vantagem do tablet é a tela maior. De resto faz a mesma coisa que o telefone.