Desde as 6:30 h acordei várias vezes e sempre que via as nuvens através da porta de vidro do terraço virava para o lado para continuar dormindo mais um pouco. Precisava tomar uma decisão e, em vista da chegada tumultuada de ontem à noite, tinha a impressão de que ela seria drástica. Encasacado, saí às 9:30 h com a intenção de solucionar o problema pela raiz. Estava um pouco indeciso sobre como resolver o caso mas já conhecia a solução final. Iria desistir da reserva já paga e procurar outro lugar. A tentativa inicial óbvia foi a recepcionista que me ajudou com o endereço ontem. Antes de entrar estava meio resistente porque o visual parecia meio caro. Dei uma volta pela avenida do porto para procurar outras opções e vi algumas agências com as quais não senti empatia. Acabei tomando coragem e fui pegar os dados na escolha original. Quem pilotava o balcão era a própria Christina, que deu nome ao hotel. Depois de algumas contas ela verificou que havia disponibilidade para as sete noites e prendeu meu passaporte como garantia até a liberação do quarto após o meio-dia. Pedi permissão para utilizar a internet por alguns minutos, não só para agilizar o que estava atrasado mas, principalmente, para testar a qualidade. Como ela não entendeu a pergunta, ligou para a filha Maria, para quem me identifiquei. Ambas lembraram de mim depois das duas visitas aterrorizadas à noite. A preocupação da Christina era em me fazer entender que o novo quarto não teria terraço e eu replicava que o importante para mim era uma rede operante. Voltei para o hotel original que, sob todos os demais aspectos parecia muito bom. Estava receoso de encontrar o Miguel e dar a notícia pessoalmente. Pelo aperitivo de ontem deu para perceber que ele já incorporou o espírito malandro do brasileiro e não vai se sentir nem um pouco constrangido por receber diárias não desfrutadas. Mas se pudesse evitar o contato seria melhor. Fui sentar na varanda para admirar a maravilhosa vista das nuvens escuras sobre a baía, que perderia de qualquer modo em três dias ao mudar de quarto nessa mesma hospedagem. Depois de reempacotar os pertences não consegui descer a ladeira até a nova recepção antes que a garoa começasse. Todo respingado descobri que o quarto já estava preparado ao chegar às 11:00 h. Quando fiz menção de pagar a Christina não quis aceitar dizendo que o horário não era adequado para o funcionamento da máquina. Insistindo um pouco descobri que ela preferia que a filha fizesse a transação, provavelmente temendo cometer alguma bobagem. A falta de varanda não é o fim do mundo mas uma visão ampla seria bem melhor, especialmente para verificar as condições desse clima horroroso que se instalou sobre as ilhas gregas. Além disso, o quarto fica bem mais escuro e é preciso utilizar luz artificial o tempo todo. Subi ao solário do quinto andar e, além da vista ampliada e mais desimpedida do que da que tinha da varanda antiga, podia também ver as instalações do hotel anterior apenas alguns metros para trás e para cima. O tempo estava um pouco melhor mas não achei que desse para desistir do agasalho. Saí ao meio-dia sem muita noção do que fazer mas muito satisfeito com o acesso ao mundo nas palmas das mãos, à qualquer hora. A cidade está cheia de turistas e em algumas ruas é difícil andar. A primeira parada foi na fortaleza de Bourtsi, uma ilhota que abriga o Museu Naval, um teatro ao ar livre, alguns bares e um caminho circular sobre os baixos penhascos, conectada ao centro por um pequeno istmo. Foi aqui que achei que o casaco tinha sido um exagero até o primeiro sopro de ar mais forte. Tirei e pus de novo algumas vezes. Caminhei ao longo do litoral até a primeira praia do centro e voltei pela estrada que vira avenida. O casario esparramado pela encosta pode ser muito bonito mas causa uma grande dificuldade no deslocamento. A cidade está cheia de ladeiras e escadarias íngremes e longas. Depois das 14:00 h o sol voltou a aparecer com vontade. Talvez não precise mais me preocupar com este fator pelos próximos dias. Andei para o outro lado, até a cabeceira do aeroporto, ao estilo de Saint Martin. Só que a prainha se reduz a um monte de mato e o movimento é muito menor. A estrada que vai para lá tem bares e tavernas construídas em palafitas sobre a água e clubes e discotecas na outra mão. Sempre aproveitava para tentar avistar um supermercado, estabelecimento que não se acha em qualquer esquina. Pelo contrário, o mapa eletronico lista apenas três na ilha inteira. Claro que existem os menores, com preços mais altos e menos variedade. O melhor que descobri perto do hotel fica a cerca de um quilômetro e não abre nos domingos. Uma linha de ônibus faz a ligação entre as principais praias e, apesar da frequência de 20 minutos, todos os veículos e paradas por que passei estavam lotados. Retornei ao centro para andar pelas ruas cheias de lojas para turistas e para subir o mirante onde estão instalados a Igreja de São Nicolau e a Torre do Relógio. As vistas da baía, incluindo a fortaleza de Bourtsi, do porto e das montanhas são fantásticas.