Na expectativa de experimentar o café da manhã acordei ainda mais cedo do que de costume. O Jakob não havia dito e eu não perguntei a partir de que horas seria servida a refeição e, aparentemente, eles comem mais tarde. Já não sou muito fanático por essa quebra de jejum matutina e não tinha muita expectativa com a oferecida pela família do dono. Saí às 7:20 h, sem sinal de movimento ou preparação. Patmos é conhecida como a Ilha Santa. Tudo porque alguém em sua caverna no ano 95 começou a ouvir vozes e passar o ditado para o papel, no que ficou famoso como o Evangelho de São João, ou simplesmente, o Apocalipse. Desde então o santo é venerado e um milênio mais tarde em 1088, os bizantinos tiveram a ideia de erigir um mosteiro fortificado para homenagear o patrono. Skala fica na parte estrangulada da ilha e o litoral oposto à baía e ao porto fica a menos de quinhentos metros em linha reta. O monastério, a atração mais reconhecida da ilha, fica na cidade vizinha de Hora (leia rróra) e a estrada que chega até lá subindo o morro tem um desvio para a praia do outro lado, que ainda estava nas sombras. Como estava muito cedo, desci a metade do caminho para ver do alto a costa meio sem graça e continuar dando a volta na parte alta da vila até surgir o fim da rota, na forma da estação de tratamento de esgoto. Foi boa coisa eles terem escondido a usina num canto da ilha porque o cheiro exalado é insuportável. Num equívoco imperdoável chamei Skala, onde fica minha hospedagem, de capital, porém ela é apenas o porto principal de Patmos. A capital mesmo é Hora, como tantas Hora pelas ilhas gregas. Voltei para a rodovia principal a caminho da edificação sagrada. Há dois lugares santos. A caverna em que ocorreram as conversas está envolta por uma série de construções edificadas ao longo dos séculos. Na hora que cheguei estava tendo uma missa e não entrei. Não sei se era apenas naquele momento ou os ofícios são contínuos. Após a gruta passei a subir a encosta da montanha pela trilha com chão de pedras que segue mais ou menos paralela à estrada. Em ponto mais baixo já havia divisado o caminho, porém ele pareceu rústico demais, não justificando o abandono do asfalto. Quando cheguei próximo à entrada do mosteiro fui alcançado por um ônibus que trazia um grupo de peregrinos idosos e achei melhor dar uma volta pela cidade antes de me juntar a muita gente. A Grécia é cheia de igrejas para todos os gostos e a capital de Patmos parece ser a essência da vila tradicional grega. Muita escadaria, becos estreitos, tudo branco e um templo em cada esquina ou final de escada. Só que aqui é tudo coroado pelo enorme Mosteiro de São João. Ele é muito maior do que eu imaginava e inclui uma pequena igreja e um museu com grande coleção de manuscritos, fragmentos de tecidos, afrescos e mármores, além de pinturas, objetos sagrados e relíquias. Nos tempos antigos qualquer assentamento era motivo para pirataria e para se proteger eles construíam verdadeiras fortalezas, mesmo para abrigar os santos. As muralhas do mosteiro foram edificadas entre os séculos XI e XVII. Patmos é a menor das ilhas que escolhi para essas férias e as distâncias curtas significam muitos destinos diferentes. Depois do monastério subi o monte do Profeta Elias, cuja porta estava trancada. Fui em seguida para uma praia no litoral oeste, porém o acesso passava por propriedade de empresa mineradora e, apesar de não haver ninguém de guarda, achei melhor respeitar o aviso no portão aberto. Na mesma estrada havia um desvio para o Mosteiro de São José que também estava bloqueado por um portão, esse bem fechado. Seguindo o circuito definido passei para o outro lado da ilha para conhecer os balneários de Grikos (leia grícos) e Petra, ao redor de uma bela enseada com o centro ocupado pela Ilha Tragonissi. Mais algumas subidas e descidas me devolveram às proximidades do hotel, caminhando ao longo das margens da entrada da profunda baía, junto com um grande navio de cruzeiro que se aproximava e deve atracar ao largo.