Liberado das tensões causadas pelas perdas dos cartões e dos passaportes, e ainda sob o efeito da diferença de fuso horário, dormi das 21:00 h até as 8:30 h. A atividade inicial do primeiro dia real da viagem seria caminhar até a estação Austerlitz para comprar a passagem de trem para a próxima base em Orléans. Depois de me camuflar com várias camadas, saí do hotel às 9:30 h. Após 5 minutos na rua decidi voltar para o quarto, não pelo frio, que nem estava tão forte, mas por ter esquecido o carregador do celular. Um dia de passeio gasta mais do que uma bateria. Caminhar pelas ruas de Paris é cativante, mais ainda do que Roma. Avenidas super largas com calçadas amplas e arborizadas, monumentos e bancos em todo canto, arquitetura maravilhosa, reconhecimento dos eventos históricos, respeito pelo pedestre.
Sem falar das pracinhas de cachorro em inúmeros cruzamentos. Não teria sido demais cancelar o resto da viagem e ficar apenas na capital. Passei por uma avenida com várias homenagens aos membros da resistência contra a ocupação alemã. Os habitantes de uma pequena ilha que se alistaram na Marinha Francesa Livre, os estudantes encarcerados em Paris por se aliaram a de Gaulle, tudo explicado em breves placas anexadas aos monumentos. Uma das construções foi erigida no final do séc. XIX para ser sede da Cidade Florida, conjunto de artistas importantes da época, como Rodin, Gaugin e outros menos conhecidos por mim. O intuito era criar objetos a partir dos despojos da Exposição Universal. O deslocamento foi lento porque a cada banco eu tinha que sentar para escrever, a cada placa eu tinha que parar para ler, a cada atrativo eu tinha que enquadrar para fotografar. Também tem muito morador de rua. E as padarias! Fui obrigado a comer um croissant. Às 11:30 h, quando cheguei na Estação Austerlitz, o tímido sol gerava um calor difícil de suportar com tanto agasalho. As camadas exteriores saíram com facilidade, mas para o de dentro precisaria de um pouco de privacidade. Entrei no terminal em renovação, depois de dar uma grande volta entre os tapumes, e me dirigi a uma das máquinas automáticas. Fiz todo o processo, porém o cartão VTM não foi aceito. Comecei a procurar por uma bilheteria tradicional e não vi nada parecido. Tentei novamente em outra máquina e desta vez pude adquirir o bilhete para sexta-feira perto da hora do almoço. Aproveitei o filtro no caminho para completar a garrafa de água de meio litro que havia comprado ontem no Carrefour do aeroporto, junto com dois sanduíches de atum, para comemorar o achado dos documentos. Foi bom ter trazido o carregador porque tinha tomadas sob os bancos para completar a bateria, que já estava pela metade. Encontrei um banheiro por € 1,00 que ajudou em todos os sentidos. Depois de ter separado a moeda foi que percebi que também aceitavam cartão por aproximação. Comecei a ficar irritado com a lentidão do carregamento por USB e tracei um limite máximo de 5 min. A estimativa era de 1:50 h para acabar o serviço. Saí do terminal às 12:45 h para continuar o passeio, com apenas 3% acrescentados ao telefone. A mochilinha ficou totalmente abarrotada, mas eu me sentia bem mais livre, mesmo com o frio do interior do prédio. Fora estava agradável, a menos que ventasse. Saí pela entrada principal, do lado do rio e encontrei a bilheteria que procurava antes de ter sucesso na compra. Atravessando a rua fica o Jardin des Plantes que, como o nome diz, tem plantas. Também tem um pequeno zoológico e vários museus. Já conhecia de outras vezes e não entrei. Atravessei o Rio Sena para entrar na ilha Saint Louis e, após outra ponte, cheguei na ilha principal, onde fica a Notre-Dame, que continua em obras e fechada até dezembro. Mais uma ponte e cheguei do outro lado do rio, a Rive Droite. Na praça das greves fica o enorme prédio da prefeitura, enfeitado para os Jogos. Claro que tinha um grupo se manifestando. Havia uma explicação por perto de que na Idade Média aquilo era um porto e mercado. O povo desempregado ia se reunir ali à procura de trabalho. Contraditoriamente o nome do local, porto de la grève, deu origem à palavra para o ato político. Voltei para o outro lado, a Rive Gauche. Das vezes anteriores sempre andava pelo lado direito do rio. Hoje decidi acompanhar a outra margem. Só fui até a altura do Museu do Louvre porque a bateria estava novamente no final. A intenção era ir até o Trocadero, onde fica a Torre Eiffel e parece que será um local importante durante os Jogos. Pretendia ir para o quarto, carregar o telefone e sair novamente, mas as nuvens escuras já estavam se acumulando e, às 16:30 h, ainda faltava uma hora para a carga completa. Obviamente, Paris não foi feita para ser vista em um dia. Os professores daqui tem um hábito que, acredito, seja saudável. Saem com seus alunos em fila, aprendendo a atravessar ruas de acordo com a sinalização e, os muito pequenos seguram uma fita que os conecta. Não sei se estas aventuras têm um destino específico ou é só para sair um pouco da escola.