Hoje o dia iria se desenvolver devagar. Após as atividades intensas das jornadas recentes, precisava diminuir o ritmo. Achei que pegar uma barca para atravessar o Grande Porto e visitar as Três Cidades, conhecidas coletivamente como Cottonera, do outro lado seria um passeio agradável e calmo. Existe uma descida pelas muralhas bem ao perto do hotel e em menos de cinco minutos estava aguardando o pequeno barco, junto com uma dezena de outros visitantes. Comprei um bilhete para idoso de ida e volta. A travessia levava apenas quinze minutos e logo o catamarã estava adentrando o longo braço de mar que separa Senglea, cujo nome era homenagem ao grão-mestre da época de sua fundação, de Cospicua. Além destas, a ponta da península é onde ficava Birgu, originada nos tempos fenícios e a mais famosa das três, chamada também de Vittoriosa. Após o capitão estacionar, fiquei sentado por algum tempo no terminal para tomar conhecimento das redondezas através do mapa eletrônico. Quando o Imperador Carlos V, do Sacro Império Romano, cedeu a Ilha de Malta para os Cavaleiros da Ordem de São João, que haviam sido expulsos em 1522 pelos turcos de sua fortaleza centenária de Rodes, este lado na baía foi escolhido para instalação de suas atividades. Apenas em 1565, após a vitória definitiva sobre os otomanos, a capital foi transferida para Valeta. Todas as fortificações criadas nas Três Cidades tinham o objetivo de defender o único espaço cristão restante no Mediterrâneo das invasões de Suleimão. Inicialmente dei uma volta pelo promontório de Senglea, de cuja extremidade podiam ser observadas vistas maravilhosas tanto da capital do outro lado do porto, como das próprias vizinhas Cospicua e Birgu. O ingresso do Instituto do Patrimônio de Malta franquiava a entrada a duas atrações nesta parte do país, ambas em Birgu. Inicialmente fui visitar o Palácio do Inquisidor, sediado num edifício construído pelos primeiros cavaleiros da Idade Média para ser uma Corte de Justiça. Menos de vinte anos após a inquisição romana ter sido criada, ela foi instalada em Malta aproveitando o prédio em que se encontrava o museu atualmente. As várias salas mostravam, além da história e funcionamento da instituição, o gosto faustoso dos prelados da época. Estava cansado demais para fazer a segunda visita, ao Forte Saint Angelo. Cheguei a ir até a ponta para observar as muralhas defensivas e os panoramas, contudo deixei de aproveitar a gratuidade oferecida dentro dos 30 dias, tendo já visitado a fortaleza equivalente em Valeta. Às 14:30 h comecei a voltar para o terminal das barcas para usar a segunda perna da minha passagem. Achei que não conseguiria ficar na parte descoberta por causa do forte sol, porém a brisa do convés superior estava ótima. Pena que a travessia era tão curta. O que incomodou bastante, durante o dia todo, foi a torneira aberta em que se transformou o nariz.