Para redimir a frustração de ontem pretendia pegar o barco para a praia de Elafonisi (leia elafoníssi) que saía apenas às 10:00 h. Não dava para ficar quase quatro horas na cama ou mesmo no quarto. Resolvi sair na hora de abertura do supermercado para substituir o galão de cinco litros de água que comprei por engano. Quando entrei no quarto no final da tarde percebi que se tratava de água deionizada e que, pelas instruções no rótulo, servia para baterias de carros e outras aplicações mecânicas. Estava tudo escrito em grego, com exceção do aviso em inglês sobre a não potabilidade do conteúdo, mas, depois de decifrar as letras, alguns substantivos pareciam palavras em português. Joguei tudo no ralo da pia, já pensando na aquisição dessa manhã. Voltei ao hotel para transferir parte do líquido para garrafas mais manuseáveis e saí novamente para assistir a partida da ligação litorânea diária das 8:30 h com os quatro ou cinco balneários servidos durante o verão. Aproveitei para comprar na agência de viagens próxima ao atracadouro o bilhete de ida e volta para a praia. Tinha esperança de encontrar o dono da pousada na recepção para solucionar a incômoda situação da dívida mas ele não estava lá. Resolvi utilizar o aparelho telefônico colocado à disposição dos hóspedes para emergências e chamá-lo, ressaltando que desejava fazer o pagamento com cartão de forma que ele não pudesse dizer que estava sem a máquina de débito. Quando fui recepcionado no primeiro dia acreditei entender que seu nome era Stélios porém, lendo as informações sobre o responsável no lado interno da porta do quarto percebi que havia um ene no meio. Contudo, ao fazer a ligação minutos antes sua mãe chamou-o da forma como eu havia originalmente compreendido. Pretendia solucionar a divergência durante o pagamento mas a oportunidade acabou passando. Saí definitivamente às 9:15 h para tentar conhecer o forte veneziano no alto da cidade antes de retornar ao porto para aguardar a embarcação. A pequena fortificação contava apenas com um pedaço de muralha e algumas fundações de paredes, contudo o lugar era um mirante privilegiado, descortinando os dois lados da península e suas praias para lá do centro. Ao retornar à orla sentei num banco do calçadão para esperar a saída do barco, no qual entraram umas cincoenta pessoas. A maioria resolveu ficar no andar de baixo e eu fui praticamente sozinho na coberta superior ensolarada. A primeira parte da navegação seguiu o litoral no mesmo percurso pelo qual eu caminhei ontem. Na Praia de Krios, onde começava a trilha pelas montanhas, o capitão fez o contorno de um belo penhasco e o panorama a partir de então era desconhecido. A viagem durou uma hora e foi extremamente agradável. Tentei observar a rota provável da trilha no alto da montanha mas não foi muito fácil identificar sua posição. Em alguns trechos o corte no morro era claramente visível porém em outros parecia que não havia continuação. Apesar de não adicionar muitos quilômetros ao podômetro fiquei satisfeito por realizar o passeio por esse meio de transporte. A aventura a pé tinha dificuldade muito superior a minhas habilidades de andarilho. O atracadouro ficava um pouco afastado da praia provavelmente por causa das águas rasas e pontilhadas por pedras. Uma fila indiana informal foi sendo formada enquanto os passageiros se dirigiam ao foco da atração. Elafonisi fica numa península em frente a uma ilha. Contudo a profundidade do oceano é tão pequena que só em casos de maré muito cheia é que a travessia precisa ser feita por dentro da água. Não foi o caso hoje e pude andar de um lado a outro pela areia. O lugar é realmente muito bonito, com dunas, diversas enseadas e enorme quantidade de rochas no mar pouco profundo. Uma característica única é a coloração rósea da areia provocada por restos de conchas. O material é tão especial que placas informavam que existe lei proibindo levar o produto como recordação. O retorno do barco apenas às 17:00 h permitiu aproveitar bastante o sol. A ideia não era original e a quantidade de pessoas era bastante grande. Todavia existia espaço de sobra para todos, especialmente para quem estivesse disposto a caminhar para mais longe do movimento maior. Saí com uma hora de antecedência para não ter problema de perder a condução que, ao contrário do que imaginava, não ficou o tempo todo estacionada no cais. Com quinze minutos de atraso a barca começou a receber os visitantes, em sua maioria os mesmos que haviam feito a viagem pela manhã.