Decidi arriscar a caminhada e saí com bastante antecedência, às 9:30 h. Percorri os quatro quilômetros em uma hora, procurando o lado sombrio, ou assombrado, das ruas. A primeira notícia desanimadora que tive foi a de que poderia ter comprado a passagem por um valor muito menor em uma empresa particular. Além disso estavam anunciando atrasos em várias serviços devido a problemas nos trilhos. Os engenheiros tinham duas horas para agilizar os reparos antes da partida do meu trem para Györ (leia djêer). Para não sair de Viena sem comer a especialidade pelo menos uma vez, pedi um Schnitzel de vitela enquanto aguardava o trem e carregava a bateria. O problema foi usar os frágeis talheres de plástico, que exigiam extremo cuidado, apesar da maciez e pouca espessura da carne. Entrei no primeiro carro e o temor com lotação logo se desfez. Sentei numa poltrona do vagão geladeira perto dos espaços para bicicletas e cadeiras de rodas. Logo apareceu uma chata falando que eu estava no lugar dela. Mudei para a fileira de trás. O trem apenas iniciava a movimentação quando passou a comissária verificando as passagens. A viagem deveria durar pouco mais de uma hora e, pelo que compreendi das pesquisas, não deveria haver imigração porque a Hungria fazia parte do tratado de fronteiras livres desde 2007. Tentei confirmar pela rede disponível, mas ela estava indisponível. Esperava me surpreender, porém não estava muito empolgado com a visita à Hungria e Sérvia. Pela segunda vez fui expulso do lugar em que estava e tive que me mudar outras três fileiras para trás. Felizmente a minha seria a parada seguinte e não teria que me preocupar mais. Aprendi que era bom fazer reserva. De fato, não houve checagem de espécie alguma durante o trajeto ou na chegada, e nem percebi a fronteira. O terminal era meio antigo e, como usei uma saída qualquer, não tive a melhor primeira impressão. Tinha uma lista virtual das coisas que gostava de fazer num lugar novo e, na estação de trem, uma delas era me familiarizar com as instalações, máquinas automáticas, horários, salas de espera, terminal rodoviário e bilheterias humanas. Com esse reconhecimento inicial percebi que havia um pouco mais de terminal, o que alterou a primeira percepção. No mapa, escolhi um itinerário diferente do sugerido, que tinha muita volta. Em poucos minutos estava numa região com mais cara de limites do centro histórico, contudo o hotel era para o outro lado. Tudo parecia perto e não andei muito mais que um quilômetro para chegar no alojamento. Toquei a campainha e fui atendido por alguém com cara de dona, que fez meu registro. Ela tinha acho que dois ou três papéis na mão e logo identificou meu nome. Pareceu bastante simpática e sua hospedagem, por alguma razão, entrava na categoria de pensão. Era um local pequeno, com apenas treze apartamentos espalhados por três andares, mas muito bem cuidado. O item no topo da relação a verificar na hospedagem era a internet. Na recepção não havia sinal, provavelmente pela situação cavernosa do recinto. No quarto, contudo, consegui conexão rapidamente, inclusive com o provedor, que passou a ter importância aumentada depois dos incidentes em alguns dos hotéis na França. Meu quarto ficava no último piso e só havia escadas. A pequena janela, mais parecida com uma lucarna, obrigava o uso de iluminação artificial o tempo todo. Outro ponto que merecia análise na chegada era a tomada, para confirmar que poderia ligar os aparelhos na parede. Isso não parecia ser problema na Europa, porém em alguns países precisava pensar no adaptador. Desci às 16:30 h para uma volta rápida de exploração. A apenas uma quadra do hotel ficava o rio que não era o Danúbio, mas uma de suas derivações. Num cotovelo do curso de água ficava a Cidadela, fortificada outrora, contudo com apenas alguns trechos de muralha na atualidade. Aparentemente, as portas que davam acesso à fortificação não existiam mais. Esta região parecia ser a de mais apelo turístico, apesar de haver poucas pessoas caminhando pelas imediações. Tudo pareceu ter um toque bastante religioso, talvez por estar ao redor da Basílica Nossa Senhora da Assunção. A centro era pequeno, muito limpo e arrumado, mas parecia faltar alguma coisa. Talvez mais visitantes. A área comercial próxima estava mais movimentada. O itinerário de uma hora foi suficiente para estabelecer minha situação geográfica e estudar as possibilidades de vistas para os próximos dois dias.