Durante toda a primeira noite em Quimper senti um desagradável cheiro de esgoto. Descobri que fechando a porta do banheiro o odor ficava restrito àquele cômodo e, desde então, tive um problema a menos. Saí às 7:15 h em direção à estação para pegar o TGV para lOrient. Depois de 15 min de caminhada lembrei que havia esquecido do carregador espetado na régua de tomadas no quarto. Como ia passar o dia inteiro fora achei mais prudente buscar o item para evitar desgostos. Talvez por hoje ser sábado o portão do estacionamento estava fechado. Havia um botão pelo lado de dentro que permitia abri-lo porém, ao voltar deveria usar o cartão-chave, que não queria funcionar. Após várias tentativas a barreira foi aberta, mas não tive certeza se por mim. Como não havia ninguém na recepção, a leitora deve ter resolvido colaborar. O céu estava parcialmente nublado mas a temperatura de 11° C do início da manhã me fez repensar os trajes. Sabendo que o clima da Bretanha no verão é úmido com temperaturas baixas preparei a mochilona com alguns acessórios que normalmente não carrego. Cansado da passar frio, decidi trocar a bermuda pela calça do abrigo. Não trouxe tênis e continuo de chinelo. Comprei em São Paulo uma meia de dedo da Havaianas, porém ainda não cheguei a tal desespero. Com receio da profundidade do bolso achei mais aconselhável tranferir a carteira com os cartões para junto do passaporte no saco diário. Ao atravessar uma ponte sobre o Rio Odet perto do terminal ferroviário, reparei que o nome Duas Cornuálias aparecia ao lado do desenho de uma cabra bem chifruda. Provavelmente existe a relação semântica. Novamente consegui transferir todos os arquivos usando a rede da estação, porém não tive tempo de fazer os últimos testes por causa da meia hora perdida no trajeto desde o hotel. Fiz confusão com as passagens e carimbei a do retorno. Só fui perceber que era a errada quando não encontrei o número do carro no trem que esperava na via. A viagem leva apenas 40 min e a conexão Wi-Fi de bordo não funcionava. O percurso foi tão rápido que não deu tempo de os comissários conferirem o bilhete e o carregamento não foi suficiente para completar a bateria. O assento atrás do meu foi reservado para um menino que ia sozinho a Paris. A conversa com a mãe e o irmão ansiosos antes da partida foi bastante alta e incômoda. O terminal de lOrient é bastante moderno, diferente dos padrões normais. Ao sair sentei num dos bancos da praça frontal para definir os passos seguintes com o auxílio do aplicativo de mapas. Sem conhecer as atrações da cidade, segui em direção ao rio. lOrient também foi importante arsenal da construção naval impulsionada pelo rei Luís XIV, que concedeu o poder de exploração comercial para a Companha das Índias, instalada na metade do séc. XVII. Grandes partes das margens do Rio Scorff são, como em Brest, dominadas pelas instalações da Marinha. Não é bem o que estava imaginando. lOrient é uma cidade moderna e eu estava procurando a parte histórica. Não encontrei nada, ao menos perto do centro. No entanto, havia do outro lado do rio uma vila, Port-Louis, que prometia maiores aventuras. O problema foi descobrir uma forma de chegar lá. O mapa eletrônico não atrapalhou um pouco. A indicação da ligação marítima partia de um ponto no qual, após caminhar alguns quilômetros, descobri que não era a correta. Cheguei no terminal marítimo, uma bela construção moderna e estacionei no balcão de informações. A atendente informou que as barcas que atravessam para o destino que me intereessava partiam do porto de pesca, perto do qual havia passado 20 min antes. A recepcionista também esclareceu os preços e horários, sendo as partidas frequentes, a cada meia hora. Peguei a lancha das 13:00 h e aportei em Port-Louis depois de 10 min. Era possível ver a grande muralha, que imagenei, fosse semelhante à cidade murada de Concarneau, onde estive ontem. O local tinha mais aproximação com o Castelo de Brest, com ingresso pago e abrigando dois museus: o da Companhia das Indias e no Maririmo. O ingresso também incluía uma audio-guia. Iniciam percorri o passeio das muralhas, apreciando o mar à volta e as construções internas. Às duas instituições culturais ocupam edifícios de cada lado da Praça de Armas. Entrei primeiro no que relata as descobertas francesas, a construção e operação dos navios e os produtos trocados com o Oriente. O naval expõe objetos relacionados à navegação e tem uma grande seção dedicada à naufrágios e resgates marítimos. Na saída caminhei pela pequena distância até o centro da pequena cidade moderna, que não oferece muito para visita. Havia várias praias nas imediações e o tempo estava ideal para desfeutá-las. O traje invernal que usei foi muito útil na parte da manhã, mas totalmente inadequado a partir das 11:00 h. Talvez o próximo teste seja o da cebola, usando várias camadas. Mas, de qualquer forma, não vai ter jeito de evitar o tira e põe. Voltei na barca das 15:50 h e retornei para a estação de trem em 50 min de caminhada. Com uma hora de antecedência, tive oportunidade de recarregar parte da bateria quase esgotada. Mais uma vez não passou ninguém para verificar as passagens. Não entrei no centro hoje mas a festa continua. Uma grande tenda à margem do Rio Odet anunciava os resultados das competições e os vencedores eram saudados como numa mini quarta-feira de cinzas.