O hotel recebeu o título de pior da viagem até o momento. Não pela distância inconveniente do centro, mas por vários pequenos detalhes. No banheiro não havia sabonete líquido como era normal, mas apenas um sachê de xampu, daqueles que precisa chamar o fabricante para abrir. A cama de solteiro não foi a primeira, porém poderia ser mais larga. Precisei usar o edredom como apoio das costas na parede porque o único travesseiro era muito fino. A iluminação era terrível e tive que improvisar carregando o abajur que estava escondido num canto para junto da cama a fim de auxiliar a fraca luz de cabeceira. Não havia mesinha ou qualquer outro apoio ao lado da cama e o jeito foi colocar a cadeira na frente da porta de saída para servir de suporte para a régua de tomadas, os computadores e as comidas. Quase que puxei a cama para a outra parede porque ficava tudo do lado errado. Não fiz isso porque tinha uma armário inútil onde gostaria de colocá-la e era para o lado de abertura da porta. Consegui evitar a medida drástica invertendo o uso da cama e posicionando minhas alterações próximo aos pés em vez de à cabeceira. Dessa forma o lado errado foi mais ou menos solucionado. Nem valia a pena mencionar a falta de geladeira que, de qualquer forma, não era tão comum nos outros alojamentos. Pela manhã, o corredor era local de encontro de vizinhos de quarto, que se juntavam para discutir em alto volume as atividades do dia. E sendo um hotel voltado a famílias com carro, não faltavam crianças de pouca idade chorando, correndo ou brincando. Eram coisas à toa, porém que faziam grande diferença. Antes de sair às 11:00 h, resolvi entrar na internet para tentar comprar a passagem para o destino seguinte. Era necessária uma transferência e apenas o primeiro trecho permitia reserva. Só iria saber se era uma aquisição importante no dia da viagem. O processo foi simples e gravei no celular uma cópia para apresentar para o fiscal. Em vez de pegar o caminho direto para o centro, decidi fazer o contorno de um grande morro isolado, o Monte dos Capuchinhos, que pretendia subir no fim da tarde para apreciar as vistas. Passei pelo Jardim de esculturas do Palácio Arenberg e entrei no Parque Francisco José, com laguinho e o Memorial do Imperador. O parque foi criado em 1888 como Jardim do Povo e, dez anos mais tarde rebatizado com o nome do governante para comemorar os cinquenta anos de seu reinado. Durante o regime facista a denominação original foi retomada com o intuito de apagar as lembranças do período monárquico. Além de um rinque de patinação e prática de hóquei no gelo, a área contava com uma piscina pública e várias quadras de esportes. O centro histórico estava cheio de palcos de eventos e as igrejas preparavam concertos musicais. A arquibancada ocupando toda a praça na frente da Catedral atrapalhava a visão, mas sempre tinha um ângulo para observar as atrações. Entrei na Abadia de São Pedro e admirei as construções da Catedral, da Igreja do Capítulo, a dos Franciscanos e a da Universiidade. O famoso festival de música da cidade estava em suas últimas semanas e achei meio confusa a apresentação da programação. Eram vários locais e os eventos não pareciam estar organizados por data. Como qualquer centro europeu, as ruas eram adornadas por muitas fontes e esculturas. Estátuas dos famosos como Mozart e Schiller ocupavam pedestais nas praças. Nos séc. XVII e XVIII a autoridade e poder da Igreja eram incontestáveis e alguns dos palácios atuais, que abrigam museus e galerias, serviam de moradia para a corte do bispo. O movimento nas ruas de comércio era grande, mas a cidade não estava superlotada. Deixei para visitar a Catedral, a Fortaleza e as instituições culturais do Palácio da Residência Antiga para o dia seguinte. Atravessei uma ponte de pedestres cheia de cadeados presos nas grades para andar pelo centro e iniciar a subida do Monte dos Capuchinhos. Fiquei surpreso com a quantidade de vias que cruzaamv o morro. Para conhecer tudo seria necessário mais de um dia de vigoroso exercício. O escritor austríaco de origem judaica Stefan Zweig, que morou na cidade entre 1919 e 1934, teve que se refugiar no Brasil após sua residência ser vasculhada pelos nazistas. Acho que era ela que passava por grande reforma perto do Claustro dos Capuchinhos. Outro conhecido representado no monte era o músico nascido na cidade e o principal chamariz turístico. Segundo uma placa na base do monumento de Mozart, foi naqueles jardins que o artista compôs a Flauta Mágica em 1791. O segundo dia de caminhada para o alojamento não foi tão estranho, tendo já conhecimento da disposição geográfica da cidade.