Desci às 7:00 h para aproveitar o ótimo café da manhã oferecido pelo hotel. Essa é uma prática comum nas hospedagens de Atenas, contudo eles geralmente se restringem a pão com manteiga e queijo. O daqui tem ovos mexidos, melancia, pêssego em calda e azeitona. Na passagem pela recepção a antena do celular captou o sinal de rede e recuperou algumas mensagens da caixa postal. Além das duas do pai, havia a do Cartório de Santos que, em resumo, dizia que não adianta ser apressado. Responderam tudo que eu não perguntei e as minhas perguntas ficaram sem resposta. Vou ter que cuidar do assunto pessoalmente quando voltar. A outra mensagem era mais delicada porém não havia nada que pudesse fazer. O hotel de Milos informava que apenas agora perceberam a reserva feita, segundo eles mesmos, em março. Lamentavam o inconveniente, reconhecendo a falha, e anunciavam que não havia lugar disponível para as duas primeiras noites. Em troca ofereciam hospedagem no vizinho com um pequeno desconto. Enviei resposta aceitando a proposta, como se tivesse opção, e em breve recebi informação de que o George estaria com a van no porto a minha espera. Pelo menos não era a moto com o grego louco, metido a carioca, de Skiathos. Comecei a me preparar por volta de 11:00 h para pegar o metrô para o porto de Pireus. Tinha a impressão que dessa vez não precisaria ter a passagem em papel, e que o bilhete eletrônico seria suficiente. Mas, como teria que deixar o hotel antes do meio-dia, era melhorar esperar na porta da barca, sem enrolar muito. As obras intermináveis da frente da estação terminal continuam dificultando a travessia da avenida movimentada mas hoje, pelo menos, tinha algum movimento de máquinas trabalhando. Por alguma razão fiquei com a impressão de que é alguma extensão do metrô. Às 12:15 h já havia confirmado numa das inumeráveis agências de viagem do porto que a versão com código de barras que tinha no computador era realmente só o que precisava. Também tinha a sensação, pelo que havia observado desta companhia nas diversas ilhas, que não iria ser transportado por uma balsa tradicional com garagem para veículos mas por uma lancha rápida, daquelas em que o casco sai da água e desliza sobre lâminas. E isso significava travessia na parte interna, sem direito a sol no convés superior. O comprovante até tinha um número de assento definido. Como tinha que aguardar por cinco horas até a partida dei início à busca por um local sombreado e com cadeiras, nos moldes de uma sala de espera. O que encontrei atendia as necessidades mas também respondia pelo nome de abrigo de sem-teto. Nem a conversa interminável e nem as lufadas com odor característico me convenceram a procurar canto menos desagradável. De repente, perto das 14:00 h, um enxame de taxistas começou a formar uma longa fila dupla que só poderia indicar a chegada iminente de um navio grande. Claro que todos vieram fumar sob a sombra que me protegia. Intrigado com o deslocamento da fila sem que nenhuma nave entrasse perguntei a um motorista que confirmou a espera pelo transporte das 15:00 h, que não era o meu. O que me levou não era tão sofisticado quanto eu imaginava mas bem maior e tinha vaga para carros. O salão com as cadeiras de avião tinha muitos lugares vagos e eu tentei sentar numa poltrona que não era a minha. Logo vieram reclamar e eu passei para a sala da frente, que estava bem mais vazia e tinha o ar sensivelmente menos gelado. Até o último segundo fiquei na expectativa de aparecer alguém reclamando uma cadeira numerada, quando existiam várias fileiras totalmente livres. Como estava com os palpites sobre o barco totalmente equivocados usei o auxílio da secretária de bordo e encontrei a acanhada mas existente, área aberta do último andar, ao lado do heliponto, do canil e da chaminé. Os bancos que não comportavam mais do que duas dezenas de passageiros não estavam muito requisitados porém a limitada região era tomada por fumantes. A minha ilha é a última na sequência de três por onde passa o barco, o que explica a demora em chegar ao destino final. Achei um bagageiro onde pude armazenar as mochilas e ficar imune aos pedidos de troca, mas passei a maior parte do tempo ao sol do lado de fora. O George estava me esperando no porto e ele é um dos vários marinheiros gregos que passaram por diversos portos brasileiros. Creio que teria tido muita dificuldade para encontrar o endereço no escuro por conta própria. Na carona vieram mais duas gregas que, pela pressa, ele deve ter ido entregar noutro lugar. Destrancou o apartamento no primeiro andar e foi embora. Não explicou nada, nem que tinha que colocar o cartão para a luz funcionar. Saiu correndo do jeito que chegou. Não sei quanto tempo vou ficar aqui ou mesmo se vou ter que ir para o local original atravessando a rua. Primeiro ele falou em uma noite, depois em duas. Ele é bem confuso e nem sei se é o dono. Esperei meia hora para ver se aparecia alguém e depois comecei a me instalar. O apartamento é ótimo. Grande e com cozinha separada. A internet também pareceu excelente. Apenas pareceu. Deu um trabalho incrível somente para transmitir dois arquivos de texto. Fiquei tão desanimado que nem tentei mandar as imagens.