Já tinha um roteiro imaginado para a grande caminhada do dia mas a preguiça só me deixou sair do quarto às 8:30 h. Caminhei as três quadras em direção ao litoral e segui pelo porto turístico até a estação ferroviária. Fiquei impressionado com a quantidade e o tamanho das águas-vivas que nadavam nas águas escuras. Após dois quilômetros andando pela calçada cicloviária paralela à avenida costeira e afastada do oceano pelos trilhos reparei num desvio que indicava acesso ao mar. Atravessei a linha férrea e descobri um daqueles clubes pagos, num local sem areia mas com possibilidade de nadar no Mar Adriático. A simpática italiana que monitorava a bilheteria perguntou o que eu queria e me permitiu entrar gratuitamente por alguns minutos. A caminhada ia bastante lenta, com desvios e passo de tartaruga, e cheguei no balneário de Barcola às 10:00 h, horário em que pensava ter podido chegar na metade do itinerário pretendido. Tal como o número de águas-vivas me chamou a atenção também a quantidade de gente jogada nos quilômetros de calçadas ao longo do Mar Adriático. Na falta de praia os moradores montavam suas espreguiçadeiras em qualquer espaço com vista e acesso para o mar. Seguindo o roteiro continuei até o final do bosque de pinheiros paralelo ao litoral, passando pelo meio das centenas de banhistas, e cheguei na entrada do Parque de Miramare. Na metade do século XIX, depois de seu navio afundar nas imediações, segundo a lenda, o Arquiduque Maximiliano, futuro imperador do México, comprou o promontório e mandou construir um castelo onde viria a morar com sua esposa Charlotte e cercou-o com o imenso parque, aberto ao público atualmente. Quem gostava de passar temporadas lá era a cunhada Imperatriz Sissi, que ficou um bom tempo passeando pelos países da bacia do Mediterrâneo. Passei horas tranquilas andando pelas alamedas e admirando as fontes, monumentos e vegetação antes de prosseguir o passeio para o destino escolhido. Ao sair do parque subi ladeiras e escadarias de um hotel e peguei a auto-estrada que passa a 120 m de altitude em relação ao mar. Havia feito consultas no Google Earth em São Paulo e já esperava encontrar uma rodovia com acostamento. Mas fiquei surpreso com a presença de uma boa calçada, separando os pedestres dos veículos e ciclistas e pavimentada em quase toda sua extensão, a menos de pequenos trechos de terra e alguns pontos ocupados por mato alto. A encosta na qual a via se apoiava era ocupada por inúmeras residências e o acesso ao litoral era restrito a algumas descidas para os bares de praia. Como não era possível enxergar o mar a partir da estrada na maior parte do tempo, descer implicava no risco de encontrar um local desagradável e ter que enfrentar uma grande escadaria para voltar para cima. Cada conjunto de degraus e rampas equivalia a um prédio de trinta andares e, a única vez que arrisquei a descida, resolvi andar dois quilômetros pelas pedras da praia para evitar a subida pelo mesmo caminho. Os rochedos ofereciam local propício para descanso, contudo eu pretendia continuar o percurso por mais alguma distância e o horário, avançado por causa do passeio no Parque de Miramare, não permitia a perda de tempo. Acabei não chegando no ponto final que havia definido por não encontrar uma trilha que descesse o morro. Gastei mais de três horas para concluir o retorno até o hotel e tudo que queria era me entupir de Coca-Cola e chá gelados e passar uma hora no banho quente. Água fria só dava para enfrentar em situações muito extremas de calor, que não era o caso.