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| Nuoro - dom 22/jun/25 * 29,44 km * (35 fotos) | Mais fotos: | Álbum | Slide show | Vídeos |
Vários indícios mostravam que novos hóspedes passaram a noite no hotel. As conversas animadas de ontem no fim da tarde, a quantidade de alimentos muito maior no refeitório, as pilhas de pratos sujos na cozinha e um quarto desarrumado de porta aberta, me deixaram feliz pelo recepcionista/dono Luigi. Quando desci para o café encontrei apenas as duas italianas minhas vizinhas, que continuavam seu diálogo interminável. Dessa vez experimentei
a bolacha champanhe gigante, vendida em grandes pacotes no supermercado e que parece ser um produto típico. Não conseguia chegar à conclusão sobre a atividade do dia. O mais provável seria tentar a longa caminhada para uma zona arqueológica, porém achava que exigiria tempo demais. Na saída encontrei o Luigi, que queria saber para onde eu ia. Falei em Noddule, que ele havia indicado e se propôs a pegar o número de telefone do ônibus que ir
ia para lá. Inicialmente, por cortesia, falei que poderia ser útil. Como ele precisava procurar, falei que preferia caminhar e saí. Como sempre, a avenida dentro da cidade virou estrada movimentada. E a calçada virou nada. Após cinco quilômetros de estresse, finalmente o percurso desviava para uma estrada vicinal. Também sem acostamento, porém com movimento quase zero e muito silenciosa. Só se ouviam os pássaros, as cigarras, o vento nos
arbustos e o meu chinelo raspando no asfalto. De vez em quando cruzava com um carro, mas o mais comum eram os motoqueiros vestidos de ninja em suas potentes e barulhentas máquinas apostando corrida. Os insetos acharam que minhas orelhas eram grandes e apetitosas flores e não paravam de procurar comida lá dentro. As nuvens começaram a se juntar mais cedo hoje e o aviso de tempestade do final da tarde continuava ativo. Reparei nas proprieda
des ao redor que muitas árvores tinham a casa retirada desde o solo até dois metros do tronco. Logo pensei em cortiça, contudo não sabia a espécie. Depois de muitas curvas e de uma inclinação suave e constante que alterou minha altitude em 200 metros, cheguei no Complexo Nugárico Noddule. Havia muitos carros estacionados perto da cabana que servia de recepção. O atendente Mário, muito falador, tentou me explicar a história e as construçõe
s do local, no entanto era sistematicamente interrompido pelos visitantes. Num momento, em sinal de desculpa, falou que eles estavam no meio de um festival de três dias comemorando o Solstício de Verão, e não havia muita gente para ajudar. O evento tinha várias atividades, como aulas, meditação e exploração da natureza. Também me forneceu um texto plastificado com informações das estruturas. Para ter certeza de que eu entenderia, forneceu
uma cópia em italiano e outra em inglês, para comparar. A minha ideia era simplesmente dar uma volta pelas ruínas de pedra e encarar o retorno do extenso percurso, mesmo porque achava que a chuva se aproximava. A civilização nugárica era o povo que habitou originalmente a ilha e as construções do sítio datavam de mais de 3500 anos. Eram poucas as atrações. Um templo ainda não restaurado, uma cabana circular, instalações militares romana
s e a Fonte Sagrada, com indícios de culto à água, segundo o Mario. O achado mais importando era o teto do poço e a visualização era facilitada por um espelho e lanterna, que cada observador retirava de um vão na parede para revelar as pedras coloridas que formavam uma pequena abóbada. Ao som de trovões, retomei à estrada para andar os treze quilômetros da volta. Com a curiosidade aguçada, me aproximei de uma árvore descascada e, pude per
ceber que provavelmente se tratava de cortiça, realmente. No final da estrada vicinal, tendo que mudar para a rodovia estressante, cogitei de algumas formas alternativas. No ponto em que estava, passava a linha férrea, que deveria estar praticamente desativada. Considerei que andar pelas pedras soltas entre os trilhos não seria agradável. Outra possibilidade era a trilha de terra mais ou menos paralela à rota que estava tentando evitar. J
á deveria ter aprendido que dava para saber como iniciava uma trilha, mas nunca onde terminava. Contudo arrisquei. No começo ela estava razoavelmente bem conservada. Depois do primeiro quilômetro, não se via a continuação. Imaginei voltar e entrar na estrada temida, porém havia um túnel que passava por baixo da via. Tive até que acender a lanterna do celular para não pisar em local indesejável. Do outro lado a picada continuava no meio de
arbustos espinhentos. Estava bem ao lado do movimento, no entanto havia um fosso entre a floresta e o asfalto. Achava muito trabalhoso retornar tudo e insisti na procura de algum acesso. Com mais alguns escorregões e a necessidade de recolocar as tiras do chinelo, consegui sair do mato e andar no contra-fluxo até encontrar calçadas. A chuva se dispersou e não caiu em cima de mim. Cheguei no quarto todo espetado e pronto para o banho.