O bilhete para o ônibus de Atenas já estava comprado desde o dia em que cheguei em Nafplio e foi só levantar um pouco mais tarde e caminhar carregado pelos 500 metros em dez minutos até a praça que serve de parada do transporte coletivo intermunicipal. A viagem deveria durar pouco mais de duas horas e acho que foi um daqueles itinerários inúteis que defini com muita antecedência. Poderia ter encontrado uma forma mais direta para pegar o barco para Milos amanhã. Cheguei à rodoviária ao meio-dia sem ter aproveitado a escala anterior numa estação de metrô. A distância não é tanta para justificar pelo menos uma troca de linha e a passagem por apenas duas ou três paradas. Já conhecia o terminal rodoviário de outras épocas e a rota para o centro havia sido devidamente rememorada com o auxílio do mapa eletrônico. O local inóspito, com ruas esburadas, cheio de lixo e rodeado por lojas de serviço mecânico e ferro velho, também ficava perto da Academia de Platão, um parque muito esquisito, com algumas ruínas e bastante mato. Poderia ter pegado um ônibus para mais perto do hotel mas, da mesma forma que o trem subterrâneo, também achei que seria trabalho demais para deslocamento de menos. Além do mais seria o único exercício do dia já que não tinha imaginação para fazer nada no resto de tarde na capital grega. Poderia ir para o porto para imprimir o cartão de embarque previamente e verificar o local de partida do navio. Porém achei que tudo isso poderia ser feito pouco antes da saída das 17:00 h de amanhã. O único sobressalto na recepção foi que quase fiquei no quarto do Andrea Moura por equívoco do atendente. Mas ele percebeu em tempo e me registrou corretamente. Não que isso tivesse importância porque, mais cedo ou mais tarde, ou ele na confirmação final ou eu no pagamento, iríamos notar o erro. Tinha a impressão de que o quarto era um pouco melhor do que o da primeira vez e consultei as fotos antigas para confirmar. Não era muito diferente. Dessa vez a vista era para a parede do prédio vizinho mas a cama era de casal. Outra mudança era a rede wifi. Eles resolveram assumir que ela não funciona nos andares e agora só está disponível no térreo. Apesar disso consegui um sinal fraco no apartamento que talvez seja suficiente. Como havia desistido de sair e passaria a tarde toda no quarto, iniciei mais cedo a digitação do diário. Meia hora mais tarde acabou a luz e ao perguntar no corredor para a arrumadeira ela soltou uma exclamação de quem já estva perto da saturação. Pelo menos o hóspede do quarto ao lado resolveu encerrar seus negócios e desligou o telefone. Sem energia elétrica para refrescar os líquidos na geladeira, para o uso da internet nem mesmo para carregar a bateria dos computadores ou ler alguma coisa e sem energia física para atividades externas, me restou deitar e pensar na vida e no fim próximo da viagem. Depois do cochilo terminei a transferência das informações e continuei a dormir.