Havia escolhido o trem das 8:20 h para a primeira perna da conexão até Trieste. Tentei sair com um pouco de antecedência do apartamento para ver se conseguia entrar no de uma hora mais cedo e deu para chegar cinco minutos antes da partida. Como já estava tudo pronto não faria muita diferença se tivesse que esperar pelo horário de entrada no hotel às 14:00 h numa ponta ou noutra e sempre havia a chance de me registrarem antes. A ligação para Veneza era num trem regional de dois andares que saiu bem vazio e pude deixar a mochilona no banco ao lado. Ainda bem, porque não havia possibilidade de colocar nem a pequena, que tem ficado quase mais lotada do que a grande por causa dos restos de comida, no minúsculo bagageiro superior. Perto do final fiquei com receio de ter que me apertar com a bagagem nos pés e no colo para dar lugar a algum passageiro, mas isso não chegou a ser necessário. Cada trecho da viagem tinha aproximadamente duas horas de duração e o ar-condicionado do primeiro estava bem forte, mesmo com o ar frio do exterior ainda não suficientemente aquecido pelo sol, que apenas iniciava a subida perto do horizonte. A partir de Pádua o céu começou a nublar bastante e continuou fechado até Veneza, onde eu tinha quarenta minutos para fazer a troca. O número da plataforma ainda não constava dos monitores mas a consulta às tabelas de papel indicava para que lado do terminal deveria caminhar. O segundo trem regional já estava estacionado e eu aguardei alguns minutos antes de subir, até a informação do destino surgir e me dar certeza de que entrava no transporte correto. O vagão era dos mais tradicionais e o ar estava, felizmente, desligado. O trecho tinha muito menos movimento e o sol brilhou o tempo todo, afastando meu receio de que o verão estivesse acabando. O ar foi ficando mais gelado e, à medida que o sol subia no céu, a área ensolarada das poltronas ia diminuindo e eu ia me encolhendo junto à janela. Como a chegada estava prevista para antes do meio-dia contava em continuar parcialmente aquecido até o final da viagem. Não deu tempo. O trem começou a virar e fiquei na sombra, tendo que passar a hora que faltava na geladeira. O condutor entrou na estação terminal de Trieste às 11:41 h, como programado e, após uma rápida consulta nas máquinas de horários, iniciei a caminhada de um quilômetro e meio até a hospedagem. Achava que esse fosse um hotel no estilo tradicional e contava em, ao menos, poder largar a bagagem na recepção. Porém a pensão ocupava apenas um de três andares de um prédio residencial e um interfone facilitava a comunicação com o funcionário. No entanto, quando cheguei um americano acabava de tentar a ligação e ninguém respondia. Prestativo que sou, informei que a abertura seria somente duas horas mais tarde. Não sei se ele já estava cansado de esperar mas o fato é que foi rapidamente embora. Eu fiquei e logo surgiram moradores entrando e saindo e eu aproveitei uma das aberturas do portão para entrar junto. O fluxo de gente era tão grande que quase não havia necessidade da porta. Fiquei com a consciência pesada por ter mandado o americano voltar mais tarde mas subi o primeiro lance de escadas. Algumas pessoas conversavam na porta do hotel sobre o horário de entrada e percebi que um dos que subiu era o recepcionista. Pedi para largar o carregamento em algum lugar e ele me direcionou a um roupeiro. Com experiência nessas situações, já estava preparado para pegar apenas o que precisava, tirando a sacola arrumada de dentro da mochilona, a que acrescentei o passaporte que estava na mochilinha. De volta à calçada fui para uma praça comer o sanduíche que comprei no mercado do outro lado da rua e planejar meus próximos quatro dias. Fiquei interessado na possibilidade de ligações marítimas com algumas cidades do golfo que ficam mais perto das praias famosas. Retornei no horário de abertura da recepção e fui encaminhado pela Mary para um quarto simpático porém pequeno. O que mais incomodou, contudo, foi o não funcionamento da internet. Como a entrada de novos hóspedes era grande, a solução do problema com a rede ficou pendente por meia hora, enquanto eu me instalava. Não sei se eles fizeram alguma coisa mas consegui fazer a reconexão e parecia funcionar. Mas tinha impressão que iria ter algum trabalho com o acesso nos próximos dias. Não foi problema no momento. Fiquei no quarto fazendo várias pesquisas para aproveitar a conexão operacional e às 17:30 h saí para o segundo passeio. Antes do registro havia andado rapidamente pela orla e pela praça principal, tida como uma das maiores com vista para o mar na Europa, observando a arquitetura dos palácios que a rodeiam, dentre os quais o do Governo e o do Município. Antes de sair pela segunda vez fui até a recepção para esclarecer com a Mary uma dúvida a respeito da chave e também elogiei o pronto retorno do acesso à rede. Ela ainda não estava a par, dizendo que o técnico não havia respondido para finalizar o chamado. Depois de três ou quatro quarteirões no plano a cidade começava a subir a colina e foi nesse sentido que eu iniciei a caminhada. Já sabia mais ou menos para onde queria ir mas encontrei no caminho o gratuito Museu de História e Arte. Entrei sem muita expectativa e me surpreendi com a abrangência das coleções. A exibição não seguia padrões muito modernos de museologia porém as peças estavam bem identificadas e apresentadas em suas vitrinas. Um pouco mais de subida me deixou no topo do centro histórico, onde foi edificada a cidade romana e, mais recentemente, o Castelo de San Giusto. O mesmo santo emprestava seu nome à Catedral e à colina que oferecia visão panorâmica dos morros e de uma parte do golfo. Para completar as duas horas do passeio fui visitar a região do Canal Grande, com as igrejas de Santo Antônio Taumaturgo e a ortodoxa, além da coluna que homenageava o Imperador Leopoldo I, do Sacro Império Romano na virada do século XVII para o XVIII.