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| Dubrovnik / Mostar - dom 21/jul/19 * 11,73 km * (66 fotos) | Mais fotos: | Álbum | Slide show | Vídeos |
A viagem rodoviária para Mostar na Bósnia e Herzegovina estava marcada para as 8:00 h e tinha alguma dúvida sobre o que fazer com a chave. A mesma da porta do quarto também tranca o portão da rua e havia chegado à conclusão de que deixaria tudo fechado porém destrancado. Ontem à noite o Tycho apareceu de surpresa com a desculpa de pegar uma faca para cortar um vasilhame plástico. Na realidade ele queria receber o pagamento. Deve ter um contador muito ineficiente e quando falei que já tinha pagado ele simplesmente deu de ombros e falou que meu plano com as chaves era o procedimento usual. Saí 45 minutos depois de levantar com o céu límpido e o ar gelado. O sol não se desvencilhou da montanha nem na reta final do porto, vizinho do terminal de ônibus. Meia hora antes da partida começou o embarque junto com um monte de espanhóis conversadores. Saiu no horário e lotado. A mochilinha teve que ir no chão. E o motorista ainda parou para pegar três passageiros que tiveram que compartilhar a única poltrona vaga. Após uma hora de viagem ocorreu a parada na fronteira. Todos tiveram que desce
r e em meia hora o ônibus estava a caminho do intervalo de descanso de quinze minutos. No ponto da cidade cinco novos viajantes e respectivas bagagens queriam entrar e ficaram batendo boca com o cobrador até se convenceram de que iam ter que esperar. Às 10:00 h foi a vez da policia bósnia. Nessa oportunidade foi o oficial que entrou no veículo verificando o documento de cada passageiro. Nada de carimbos, tal como na saída da Croácia. Apenas selecionou alguns para pesquisa mais detalhada no escritório. Achei curioso que a arquitetura de ambos os postos policiais era muito semelhante, inclusive o uniforme dos funcionários. Foi quando consultei o mapa eletrônico que constatei que estava novamente na Croácia. Os dois países têm esse acordo estranho, em que a Bósnia, que não possue litoral, é dona de uma curta faixa de terra com acesso ao mar que divide o outro país em duas partes. A segunda verificação foi somente para reentrar no país dos croatas. Tudo ficou mais claro às 10:45 h, quando houve a saída definitiva da Croácia. O policial pegou os passaportes e levou para a cabine para
carimbar. O cobrador voltou com todos, mas não devolveu. Menos de um quilômetro adiante foi a vez da entrada oficial na Bósnia, depois de o condutor ter furado pela contra-mão uma fila enorme de carros particulares para entrar no estacionamento dos coletivos. Os bagageiros foram abertos, por temor de clandestinos, acredito, e 40 minutos se passaram até a devolução final dos documentos chancelados pelo novo país. Uma oriental foi retirada do transporte para conversa pessoal. Ao contrário do que imaginava não percebi carimbo novo, nem de saída e nem de entrada. Na primeira rodoviária da Bósnia, depois de muita briga, o cobrador deixou dois dos doze interessados subir a bordo. Não adiantou apontar o machucado na cabeça nem advogar pelo casal de turistas. O fato que mais chama a atenção ao entrar no país é a presença de mesquitas, coisa rara de ver na cristã Croácia. Parece que o governo tenta estimular através das placas de trânsito o uso do alfabeto cirílico, parente do grego. Mas o poder econômico fala mais alto e tudo é anunciado com letras latinas. As línguas, apesar de terem no
me próprio para cada povo, são a mesma. Isso quer dizer que eu também não vou entender bósnio. Deixei a rodoviária e percorri os 600 metros até o hotel em menos de 10 minutos, chegando ao meio-dia e meia, bem antes do horário anunciado para entrada. Toquei a campainha, no entanto, e o Enver me atendeu e registrou. Ele é muito falante e explicou um monte de coisas sobre a cidade mas o que ele queria realmente era vender um passeio por três atrações das proximidades. Não disse não, porém, podendo evitar grupos organizados, prefiro confiar apenas nos pés e parece que as atrações não são tão próximas assim. O quarto é excelente, moderno como o resto do hotel. Só que já estava ficando acostumado com a geladeira, que não existe aqui. Contudo, a permanência relativamente curta parece não exigir esse conforto. O ponto fulcral do turismo em Mostar é a Ponte Antiga, reconstruída diversas vezes após catástrofes. A mais recente sendo a guerra contra a Sérvia na década de 1990. Outro assunto que atrai os turistas para a região é justamente a consequência do conflito recente. Tragédias nesse n
ível não me interessam e acho que um dia de visita seria insuficiente, porém dois o adequado. Reservei três noites para ter tempo de pensar no que não fazer. Às 14:00 h voltei à rodoviária para verificar a continuação da viagem e reconhecer o ambiente. Entrei na bilheteria, só que era a da estação de trem. Havia pesquisado esse meio de transporte, que parece bem mais interessante, especialmente pelo terreno que a ferrovia atravessa. Todavia eles só têm um horário bem cedo e um no começo da noite. São apenas duas horas de viagem e, nos dois casos, chegaria na capital em horário ruim. Voltei alguns passos para o edifico vizinho e comprei uma passagem rodoviária. Fiquei na dúvida entre duas das ligações da manhã e optei pela mais cedo, pela qual deveria chegar perto da hora do almoço. Havia passado pouco antes num caixa eletrônico, sem saber se deveria fazer algum saque em moeda local e de quanto. Foi bom ter tirado um pouco. Achei que todo lugar ia aceitar cartão porém a empresa transportadora só recebia em dinheiro vivo. Fiz uma tentativa de atingir o nível do rio pelo meio do mat
o. Consegui ver a água de perto mas também encontrei a casa dos mosquitos. Tenho que me lembrar do repelente se pretender chegar perto deste curso de água. É muito impressionante caminhar pelo meio de conjuntos habitacionais com as paredes totalmente perfuradas à bala e construções literalmente detonadas. Retornei para o lado turístico e fui conhecer dois córregos que deságuam no Rio Neretva e são atravessados por diversas pequenas pontes construídas pelos otomanos nos anos de ocupação a partir do século XVI. Todas já foram arrebentadas e reformadas diversas vezes e atualmente compõem um belo conjunto no centro histórico. A vedete e maior delas e a que cruza o rio principal, chamada simplesmente Ponte Antiga, e foi originalmente construída em 1566 pelos turcos. Passei por uma casa que exibe o filme de sua destruição na guerra recente. Deve ser muito deprimente assistir um ato tão selvagem. Passados trinta anos as cicatrizes continuam abertas em Mostar. Muitos edifícios atingidos ainda servem de moradia, mas uma grande quantidade dos mais delapidados está simplesmente abandonada.