A partida marcada para as 11:00 h deixava bastante tempo para fechar a bagagem com calma. Mesmo assim deixei o quarto duas horas antes da saída da balsa para percorrer o quilômetro e pouco até o porto com muita tranquilidade e vagar. Logo no começo do caminho existe uma inclinação forte porém curta e que exige algum esforço. O percurso serviu também de preliminar para o mais longo que vou encarar do outro lado. A hospedagem de Killini (leia quilíni) fica a quatro quilômetros do terminal marítimo e foi a única que encontrei para as duas noites necessárias. Tenho impressão de que aquela parada é ainda mais ponto exclusivo de passagem do que Poros e só não comprei passagens para chegar e partir no mesmo dia porque achei que ficaria cansativo demais. Além do mais queria ver se havia alguma atração na forma de praias por perto. Às 9:30 h, num típico e frequente ataque de ansiedade que tenho nessas situações, achei melhor voltar para a entrada do porto e perguntar no quiosque da companhia de navegação se estava aguardando no local correto. Na metade do caminho olhei para trás e vi um grande navio fazendo a manobra para ultrapassar o quebra-mar. A vendedora informou que aquele era o meu transporte e, assim que todos tivessem descido, eu já poderia embarcar. Grande parte dos passageiros que saiu a pé fazia parte de grupos em ônibus de turismo e, em vinte minutos o processo de desembarque estava encerrado. Como alguns carros já estavam entrando, fui me informar com o funcionário que controlava o acesso e, seguindo a típica boa vontade de alguns gregos, o primeiro só falou na língua nativa e o outro disse que teria que esperar até dez minutos antes do horário limite. Talvez fossem amigos os que chegaram cedo. Voltei para o abrigo de espera para me chatear com os ruídos de um jogo de tabuleiro com que se entretinham dois viajantes. Fiquei com vontade de tentar uma entrada clandestina. Apesar de a porta de pedestres estar barrada por uma corda, a garagem estava desguarnecida e um veículo inclusive se aproximou e entrou sem ser incomodado. Mas muita gente aguardava do lado de fora e achei melhor controlar meu impulso. Às 10:30 h, quando os portões foram liberados, subi para o bar onde deixei a bagagem. Logo em seguida percebi o salão com poltronas de avião e fiz a mudança. A travessia contudo não poderia ser realizada em outro lugar que não o solário da coberta superior, apesar do cheiro de fumaça e da fuligem. O capitão entrou no porto ao meio-dia e meia e em poucos minutos estava na estrada que ia para o hotel. Foi uma caminhada árdua de quarenta minutos, por uma rodovia larga e sob sol a pino. Felizmente não havia muito tráfego. Tentei evitar a consulta constante ao mapa eletrônico para não aumentar o desespero contudo não podia deixar de verificar se ainda não havia ultrapassado o ponto. Quando cheguei ficou claro que não precisaria ter me preocupado porque a identificação da hospedagem é bem óbvia e o portão automático, como que por mágica, estava se abrindo. Com certeza estava sendo esperado e o recepcionista veio me cumprimentar na saída de seu escritório. O Constantinos foi eficiente no registro e me mostrou o apartamento. O hotel é excelente mas fica no meio do nada. Tem um gramado imenso e cheio de árvores, sob as quais uma família de hóspedes fazia um piquenique. Os chalés estão espalhados pela propriedade e são muito mais elegantes do que minhas necessidades básicas exigem. É o tipo de lugar de onde não dá vontade de sair, seja pelas qualidades próprias ou pelo acesso penoso para quem está a pé. Contudo, apesar de o desejo ser contrário, saí novamente para conhecer a redondeza e o centro. A entrada para a praia mais próxima fica um quilômetro pela estrada em direção à cidade e foi minha primeira parada. Ela parece ser bastante frequentada pelas famílias do pessoal da base militar que ocupa o outro lado da estrada, em frente ao hotel. Atravessei o centro e segui por uma plantação de melancias meio abandonada, com frutos podres ou arrebentados espalhados por todo canto, até a praia de Kafkalida (leia caficalída). Fica evidente a razão de Killini ser o porto para ligação com as duas ilhas dessa parte do Mar Jônico. Mesmo com a bruma do horizonte é possível enxergar perfeitamente o perfil montanhoso, tanto de Kefalonia com seu enorme Monte Ainos (leia ênos), como a vizinha Zakinthos (leia záquintos), meu próximo destino. Na volta para o centro entrei num bar para perguntar sobre o ônibus que vou usar na volta para o continente daqui a uma semana e passei num ótimo supermercado. Não saí muito carregado porque vou ficar apenas duas noites e não adianta armazenar muita coisa além de vários litros de líquidos variados.