Estava quase saindo, apesar do alerta da chuva, quando dei uma última olhada pela janela. Havia apenas reparado nas nuvens cinzas, porém, com olhar mais detalhado, notei o solo molhado e a garoa fraca e decidi aguardar os cinquenta minutos que o aplicativo metereológico sugeria. Não esperei tudo isso e senti alguns pingos logo que deixei o hotel. Segui pela avenida em direção ao centro histórico e o tempo foi melhorando paulatinamente até o céu ficar bastante desobstruído. O Rio Mur, ao longo do qual o trem fez parte do percurso de ontem, atravessava a cidade com bastante fúria, formando várias corredeiras. Ao longo das margens havia edifícios de formas inusitadas como o da Galeria de Arte. Uma ilha no meio das águas, não sei se natural ou artificial, servia de base para a instalação de um pequeno palco com restaurante e textos e gráficos referentes à inclusão social. Foi quando cheguei à outra margem que notei como faria falta a garrafa que havia esquecido no quarto. No início da subida para a Torre do Relógio no alto do Morro do Castelo, havia uma fonte propícia à complementação do líquido como acompanhante da aventura. Após debater internamente, decidi fazer apenas a circum-navegação do morro pela base, deixando a escalada dos degraus para mais tarde. No meio do circuito resolvi sentar no banco de um parque, mas fui expulso pelos mosquitos que faziam a festa nos meus tornozelos. Atravessei a Porta Paulo e passei pelo Museu Folclórico, instalado no antigo Claustro dos Capuchinhos. No ano 1600 10.000 livros protestantes foram queimados como parte do movimento da Contra-Reforma. Dois dias mais tarde o núncio apostólico ergeu uma cruz de madeira e posicionou a pedra fundamental do claustro no local. Na sequência visitei o Parque da Cidade e o Jardim do Povo e atravessei a Porta da Cidade para conhecer as construções imperiais. Um mausoléu contíguo à Igreja de Santa Catarina servia como túmulo para o Imperador Ferdinando II, do séc XVII. Ao lado ficava a Catedral, onde um professor dava aula de órgão a alguns interessados. Era mais palestra do que teclado mas ainda assim deu para ouvir alguns trechos. As ornamentações dos dois templos eram de tirar o fôlego e haviam passado por grande restauração recentemente. Um grande afresco do lado externo, protegido por vidro, representava as Pragas Divinas e foi executado após o sucesso de 1480 como agradecimento à expulsão dos invasores turcos, referidos como os gafanhotos e as doenças. Nos jardins do Castelo havia bustos de personalidades de várias épocas e atividades, porém o que me chamou mais a atenção foi o de um trovador do séc. XIII. Ali perto também se encontrava uma interessante escada em espiral dupla do alta da qual era possível apreciar uma vista da Catedral. Continuei admirando outras construções históricas como o Teatro da Ópera, uma confeitaria de 1569 e uma cervejaria do séc. XVII. A Praça da Liberdade, com o monumento ao Imperador Francisco I e a Praça das Carmelitas, com a Coluna da Trindade indicavam o caminho para a subida do Morro do Castelo. No alto ficava uma das estruturas mais famosas da cidade. A Torre do Relógio, mencionada desde o séc. XIII e atualisada no séc. XVI, quadrada com mostradores nas quatro faces, contava com o sino das horas, o sino das execuções, usado para convocar para a pena capital ou alertar para os toques de recolher e o sino de incêndio. Em 1809 Napoleão tentou por oito vezes tomar a cidadela de Graz, sendo sempre rechaçado pelo Major Hackher, encarregado da defesa. A paz só foi alcançada por um tratado. Cem anos depois ele foi homenageado com a escultura de um leão no topo do morro.