Com muita preguiça consegui sair às 8:00 h. Hoje era o grande teste das pernas, quando enfrentaria a caminhada até as ruínas da capital do reino micênico. A maneira mais cômoda seria entrar num ônibus de frequência razoável, porém minha ideia de passeio sempre dá prioridade ao percurso a pé. A distância não era absurda mas demandaria muito tempo de estrada. Depois de uma hora e meia andando por vias interiores chegou o momento de atravessar a rodovia principal que vai para o parque arqueológico. Era larga e não parecia ter muito movimento. Achei que dava para arriscar o uso do espaçoso acostamento com pavimento regular em vez de procurar a estrada paralela cujas condições não conhecia. Na primeira leva de veículos amontoados meu boné foi arrancado pelo deslocamento de ar de um grande caminhão. Seria um sinal para trocar pela rota mais tranquila? Analisando o mapa eletrônico percebi que a distância era praticamente a mesma e não teria que fazer vários desvios e entrar em atalhos de solo desconhecido. Fiquei do lado da certeza e continuei pela faixa lateral do asfalto, ignorando o aviso. Cheguei na cidade nova de Micenas às 12:00 h e levei um susto ao ver a enorme montanha que ficava no fundo. Depois de alguns minutos, no entanto, concluí que não deveria ser naquela altura toda e entrei na trilha que leva para as escavações. Como sempre o início era pavimentado e largo mas após alguns metros vira a maior pirambeira. Foi então que percebi que o aplicativo estava querendo que eu entrasse pela porta dos fundos. Achei que um sítio tão importante e famoso teria que ter um acesso mais razoável e consultando mais detalhadamente o mapa identifiquei a estrada asfaltada que vai até o estacionamento e a bilheteria. Não conseguia chegar a uma conclusão sobre o modo de retorno. Ao mesmo tempo em que queria andar tanto na ida como na volta, não pretendia chegar em casa de madrugada e, pelas minhas contas, sobraria pouco mais de uma hora para a visita. Também não estava certo de querer entrar no parque, seja pelo valor alto do ingresso ou pelo estado de cansaço em que me encontrava. O mapa indicava um ponto de ônibus na frente de uma loja de lembranças e eu entrei para perguntar sobre os horários. Aparentemente havia a possibilidade de retornar de maneira menos cansativa mas ainda cismava que tinha que fazer tudo a pé. Depois de subir bastante finalmente cheguei na entrada da zona arqueológica da antiga Micenas, capital do rei Agamenon e importante participante da guerra contra os troianos. Sem pensar muito comprei o ingresso e comecei a olhar para os lados. O local era bem grande e eu não estava aproveitando a visita, apenas pensando no regresso . Quando percebi o óbvio resolvi deixar as preocupações de lado e mergulhar no passeio cultural. O pioneiro das escavações foi o mesmo alemão Schliemann que desvendou Tróia, na Turquia. Dentre as atrações mais famosas estão a Porta dos Leões, com a primeira escultura monumental europeia e o Tesouro de Atreu, com valiosos objetos descobertos numa tumba atribuída ao rei mítico. Além das muralhas e salas palacianas visíveis ao relento, um pequeno museu guarda os artefatos encontrados nos monumentos funerários. Em duas horas pude andar bastante pelas calçadas construídas entre as edificações em ruínas e admirar as paisagens imponentes da redondeza. O bilhete incluia a entrada do mausoléu do outro lado da estrada a algumas centenas de metros morro abaixo. Contudo eu estava alterando a decisão de voltar a pé pressionado pela coincidência de ter terminado a visita ao sítio principal exatamente na hora de aguardar o transporte das 15:00 h. A perspectiva de chegar no hotel perto de escurecer me convenceu a desistir da metade final da caminhada mas deixou um sentimento de incompletude.