Saí do quarto meio na corrida para pegar o trem. Só me decidi por este destino ao acordar às 9:30 h e as informações eram de que teria pouco mais de uma hora para pegar a ligação seguinte para Saint-Émilion, uma cidade medieval, no meio de vinhedos, até onde sabia. Comprei as duas passagens e fui aguardar na plataforma. As portas dos carros ainda estavam trancadas e os viajantes começaram a se acumular. A previsão falava em mais um dia quente, mas a nuvem no terminal tornava o vento gelado. Nem pensei em pegar o casaco ao sair do hotel. A curta viajem deveria durar apenas 30 minutos e também não imaginava passar lá mais do que as três horas até o retorno agendado. Parece que a principal atração da cidade era a degustação de vinhos. Eu porém, iria somente pela história e arquitetura. No séc. VIII começaram a aparecer as primeiras informações de um monge bretão morto na região. Logo os peregrinos iniciaram a escavação das rochas de calcário para edificar um santuário subterrâneo em sua honra. 300 anos mais tarde, uma igreja foi construída sobre a caverna, ao nível do platô acima. Tiveram início então as fundações do campanário que, por exercer muito peso, obrigou o reforço das grutas inferiores. A cidade cresceu dos dois lados do vale e se desenvolveu com o comércio do vinho produzido na região. Atualmente os turistas tinham os dois atrativos para invadir o povoado: história e bebida. Já na saída da estação ferroviária surgiram algumas grandes produtoras, ao lado dos campos cheios de parreiras e palacetes elegantes. A rua principal que servia de acesso ao centro enfileirava muitas lojas com exposição de vinhos. Diria que era uma oferta bastante variada, se conhecesse alguma coisa sobre o assunto. Inicialmente entrei no Claustro dos Cordeliers, ruínas revitalizadas por uma mistura de restaurante, bar e loja. Os mirantes de ambos os lados ofereciam panoramas magníficos da cidade abaixo A grande atração seguinte era a Igreja do santo, com um claustro espetacular anexo. Fui para a outra banda do vale para ver de perto a Torre do Rei. Segundo os informativos, de real a construção não tinha nada. Contudo, seu aspecto senhorial autorizava o apelido. Acho que dessa vez não fiquei devendo nenhuma visita importante. Peguei o trem das 15:00 h para retornar a Bordeaux, acompanhado por muita gente. Não dava para escolher muito e optei pelo primeiro assento vago que vi. Antes de deixar o terminal da cidade grande para ir ao supermercado, optei por antecipar a compra do bilhete para a base seguinte. Deu tudo certo e fui apenas confirmar a data nos meus registros. Cada dia uma confusão nova. Tenho que tomar cuidado para que isso não termine em alguma decisão trágica. O arquivo com a confirmação do hotel em La Rochelle mostrava que a admissão seria amanhã. Tinha certeza quase absoluta de que iria aproveitar mais um dia livre em Bordeaux. Mas, como havia comprado a passagem com data errada, fui até a bilheteria humana para tentar trocar. Peguei a senha e, antes de ser atendido, resolvi consultar novamente meus apontamentos. Foi então que percebi que havia entrado no arquivo errado, que estava defasado porque eu havia remarcado a reserva, justamente para ficar mais um dia em Bordeaux. Como eu mantinha os arquivos alterados apenas colocando uma letra x no início do nome, sem apagá-los, a classificação da lista em ordem descendente de data que estava utilizando me confundiu e mostrou a reserva cancelada. Joguei a senha fora e fui cuidar da vida. Qualquer dia, essas trapalhadas podem ter consequências mais desagradáveis. No quarto, completei a criação dos arquivos e fui para a estação ferroviária para transmitir os dados para o provedor. Antes de sair, sempre tentava abrir o aplicativo para o caso de algum técnico ter alterado a configuração que me impedia a utilização completa. Sem sucesso, novamente. O que achava curioso era que em Tours, quando apareceu o problema pela primeira vez, eu já estava no hotel havia alguns dias, sem ter nunca ocorrido a dificuldade. A internet da estação estava extremamente problemática hoje. Levei muito tempo para completar o serviço. Fiquei andando para cima e para baixo, por todo o edifício, por mais de uma hora, mas a velocidade de acesso e a consequente incapacidade de conexão aparentemente não dependia de posição. Finalmente, com quase duas horas de tentativas, consegui terminar usando a rede aberta de um dos restaurantes do local.