O principal responsável era o cansaço. Mas a previsão de 50% de possibilidade de chuva e de um céu encoberto pela metade, associado aos assobios das rajadas de vento que sopravam desde a noite de ontem foram motivos coadjuvantes para atrasar a saída do hotel. Acordei às 7:00 h e, apesar do céu bastante limpo e dos raios de sol que se insinuavam através da vegetação da varanda, virei para o lado para continuar o sono. Não durou muito e antes das 8:00 h já estava na estrada para a vizinha Praia de Damnoni. O trajeto fácil e curto não me animou a parar por ali, já que a intenção era conhecer mais duas enseadas a pouca distância. Achei que o caminho fosse mais complicado mas ele podia ser feito até por carros. A primeira era a praia de Amoudaki, uma curta faixa de areia, repleta de espreguiçadeiras. Me contentei com a vista do alto. Ao lado fica uma micro praia, só acessível pela descida dos penhascos ou pelo mar. Seguindo pela estrada de terra surgia uma grande região de rochedos e, logo a seguir, a praia de Amoudi. Foi ao andar sobre as pedras tentando chegar perto do precipício a fim de poder admirar o litoral com mais calma que o boné se achou no direito de voar. Os fortes pés de vento já me haviam alertado sobre a iminência de tragédia porém o caso foi tão repentino que não tive como reagir. E ele escolheu a encosta mais inclinada para estacionar. Já estava pensando em onde efetuaria a nova compra quando, inconformado, comecei a circular a região. Resolvi arriscar e larguei a mochila, os litros de água e tudo o mais que estava solto, principalmente os chinelos e iniciei a tentativa de resgate. Os pés nus garantiam aderência as pedras e aos poucos fui me aproximando do local de pouso. A volta foi um pouco mais vacilante, mas nada que não pudesse ser solucionado com um rastejar sentado. Saí da aventura apenas com alguns arranhões, que viraram diversão de uma legião de moscas pelos minutos seguintes, até a coagulação dos filetes de sangue. A partir de então uma mão esteve sempre na cabeça ou o chapéu preso firmemente sob alguma coisa. Apesar da distância da água resolvi estender a toalha numa região plana dos rochedos para aguardar a hora das próximas visitas a outras áreas da costa. Os metereologistas se enganaram totalmente mais uma vez. A pequena quantidade de nuvens se concentrava sobre as altas montanhas do fundo e o forte vento não deixava que houvesse acúmulo em torno dos picos como ontem. Com o tempo exuberante pude prolongar a preguiça até 14:30 h, quando comecei a juntar as coisas para dar a volta no penhasco e visitar o centro da cidade que tem me hospedado. Uma trilha contornava os enormes rochedos após a Praia de Damnoni e subia em direção ao Hotel Calypso. Ao chegar ao topo uma escadaria estreita de concreto conduzia à propriedade num belo trabalho de engenharia. Minha intenção não era conhecer a hospedagem mas para chegar do outro lado tive que caminhar pela estrada exclusiva e sinuosa que subia bastante antes de descer. Foi nesse trecho que teve início a intensa e assustadora ventania. Me senti na pele da Noviça Voadora e tinha impressão que levantaria voo junto com o boné em qualquer momento. O jeito foi carregá-lo na mão por mais de dois quilômetros até o início da praia de Plakias (leia plaquiás), quando o ar ficou menos agitado. Andei ao longo do quilômetro de calçada paralela ao mar e me aproximei da região das lojas, pensões e tavernas. Antes de voltar para o quarto passei novamente no longínquo supermercado.