Com medo da faxineira, pendurei o cartão de não perturbe do lado de fora da maçaneta até resolver o que fazer. Lembrei ontem de uma providência importante que estava deixando passar. Teria que reservar o trem para a próxima parada na Hungria. Consultei a internet, mas não conseguia definir a conexão. Resolvi então fazer as averiguações localmente. Viena tem vários terminais ferroviários e o primeiro passo era descobrir de qual sair. Em 2008, a última vez que estive na Áustria, o terminal principal era outro. Descobri a rota de quatro quilômetros, definindo praticamente uma linha reta desde o hotel. Não achava que fosse boa ideia caminhar com as mochilas, mas deixaria esta ansiedade para o dia da viagem. Dispensei o café da manhã e deixei o quarto às 9:00 h. Na ferroviária foi mais simples escolher a ligação porque eles ainda usam as antigas tabelas em papel, onde é fácil identificar as cidades atendidas. Achei melhor comprar de uma vez numa das máquinas automáticas e me livrar da preocupação. Fiquei atrapalhado com a quantidade de gente nas poucas bilheterias e acabei pegando o cartão errado. Usei o de crédito e, como o valor estava abaixo do limite, foi aprovado imediatamente, sem pedir senha e me dar tempo de trocar para o VTM. Pelo menos pude confirmar que o Black também funciona, para algum caso de emergência. Ao sair da Estação pude sentir a inclemência do sol. Até ontem as nuvens atenuavam um pouco o calor, porém hoje o céu estava completamente limpo. Segui para o Parque Schweizergarten (Jardim Suíço), mais uma área com vários lagos e jardins. O nome era um agradecimento por a Suiça ter recebido 60.000 crianças durante a guerra. Para se precaver contra novas revoltas populares como as de 1848, a cidade criou uma enorme linha defensiva que englobava vários prédios e fábricas, no que ficou conhecido como Arsenal, sede atual do Museu de História Militar. Numa série de galpões metálicos erigidos nas dependências estava tendo lugar o Festival Internacional de Dança. Esta foi mais uma visita que durou muito mais do que o planejado. Aliás, ela nem estava planejada. Após ter comprado a passagem, imaginava voltar em direção ao centro para chegar ao Rio Danúbio. No entanto, a grande mancha verde do mapa eletrônico me deixou intrigado e fui ver do que se tratava. Das vezes anteriores em que estive em Viena ela já existia, obviamenre, apenas não estava no momento adequado. A morosidade do passeio se deveu aos diversos quadros explicativos sobre a história e sociedade de várias épocas em relação à região. Felizmente um dos lados trazia as informações traduzidas para o inglês, caso contrário o tempo usado teria sido triplicado e a compreensão diminuída. Na sequência atravessei a rua para entrar no Parque Belvedere, composto pelos Palácios Belvedere de cima e de baixo, nos extremos de ampla esplanada com jardins inspirados em Versalhes. Depois da tentativa mal sucedida de invasão dos otomanos em 1683, Viena passou a se tornar uma cidade atraente para novas moradias e uma onda construtiva envolveu a região. Dentre os interessados estava o Príncipe Eugênio de Savoia, comprador de um extenso vinhedo em 1697 para substituir por sua residência, transformada atualmente em museu com importante coleção de pinturas austríacas e europeias. Não entendia a razão da minha fixação por conhecer a parte do Rio Danúbio que atravessava Viena. No entanto, foi uma das primeiras atividades em que pensei quando estava montando o itinerário. Teria chegado lá de qualquer forma, mas a ajuda do mapa eletrônico era sempre bem-vinda. O caminho não tinha nada de atrativo e eu estava com a sensação de que ficaria desiludido. Não foi o que aconteceu. Quando me aproximei da ponte que atravessava o rio, já fiquei impressionado. O nível superior era para os carros, o interno para o metrô e a lateral, sob a via dos veículos, era compartilhada pelos ciclistas e pedestres. Na margem mais próxima ficavam os atracadouros dos barcos que faziam os cruzeiros. Existia uma faixa de terra estreita e muito comprida, possivelmente mais de 20 quilômetros, dividindo o rio em dois. A ilha da Danúbio era um grande parque, com varias opções de lazer. Desci na outra margem, com um conjunto de prédios modernos e altos, e mais atividades de lazer à beira da água. Tem até caixas de areia e quiosque brasileiro para criar o clima no que eles chamam de CopaBeach. As águas permitiam banho, contudo eram um pouco turvas. Interessante também era a ponte flutuante para pedestres que me permitiu chegar até a ilha fluvial para retorno ao centro. Foi um passeio meio corrido, que merecia um dia completo. O caminho de volta também não apresentou nenhuma atração especial, já que a rota indicada pelo aplicativo contornava o centro histórico.