Após alguns dias parado consegui vencer a preguiça e deixei o quarto às 7:30 h para tentar realizar uma longa caminhada pelas praias do sul da ilha de Kefalonia. Nessa parte eles têm um ônibus que sai num horário mais razoável mas a última das três voltas durante a semana é no meio da tarde, às 15:45 h, o que inviabiliza, se não a ida, pelo menos o retorno motorizado. De qualquer modo isso não me dizia respeito, já que pretendia completar os dois sentidos a pé. Nos primeiros doze quilômetros, até Skala, a estrada é essencialmente costeira e com alguns trechos ao nível do mar. Pouco antes de chegar ao balneário bastante turistico, às 10:00 h, após avistar as escavações do templo arcaico e de visitar o interior da pequena capela anexa, fiz um desvio para o interior e para cima para andar até o fim do trajeto programado na cidade de Katelios (leia cateliós). Após alguns desencontros com o mapa eletrônico retomei a estrada principal e mais movimentada mas logo surgiu uma descida para a praia de Mounda (leia múnda). Analisando a geografia percebi que poderia conhecer três praias com uma só descida e desisti da rodovia. Kaminia (leia camínia) é uma extensão da longa faixa de areia de Mounda e, de acordo com o aplicativo, havia um caminho do final da areia para a praia vizinha em Katelios, passando pelas rochas. De fato uma trilha podia ser identificada em alguns pontos devido ao solo amassado, porém a maior parte da travessia era pelas pedras. Já havia colocado o chinelo na sacola para andar pela areia e achei que teria muito mais firmeza se continuasse descalço. Venci os quinhentos metros sem muitos problemas mas resolvi fazer o percurso de volta pela estrada nas alturas. Teria que subir de qualquer forma porque um grande trecho do litoral só tem penhascos. Após uma hora de descanso em Katelios iniciei o retorno, que ainda previa uma parada intermediária na praia de Spithi, envolvendo descida e subida antes de descer novamente para Skala. No percurso de volta, ponderando sobre a conveniência de deixar a praia restante para amanhã, último dia na ilha com nada definitivamente programado, achei que poderia ser uma possibilidade de um pouco mais de exercício. Estava tão entretido nos pensamentos que nem percebi o desvio para baixo. Ele deve ser meio escondido e talvez meu subconsciente já tivesse decidido por mim. Entrei no balneário de Skala, sem dúvida bastante mais adaptado ao turismo, com muito mais movimento e lojas. Mas, principalmente, supermercados. Não entendo como Poros, uma ligação marítima importante com o continente pode conviver com tão poucas e tão mal abastecidas lojas de suprimentos alimentícios. Como tal não era o caso de Skala, não deu para me segurar com a variedade e cometi a loucura do dia. Tinha tudo que precisava, era muito mais barato e a máquina entendeu meu cartão na primeira tentativa. Na realidade nas duas primeiras tentativas porque, percebendo que poderia me abastecer com mais eficiência, retornei ao mercado para complementar a compra. Claro que me contive pensando nos passos seguintes, porém saí carregado para percorrer os 12 quilômetros faltantes até o hotel. Não foi das caminhadas mais tranquilas e parecia que não ia acabar nunca. Para completar, duas ladeiras antes do final, uma forte ventania começou a soprar. Em um momento, quando me aproximava do porto, uma rajada mais forte levou embora meu boné. Vinha tentando levantar os braços para tentar evitar a perda mas o peso das sacolas não permitia muita flexibilidade. Já estava dando adeus ao adereço quando ele resolveu parar perto do meio-fio. Retrocedi os metros necessários e, com dificuldade, me abaixei para recuperar a proteção de careca. Cheguei a vestir novamente mas o sopro mais forte seguinte me convenceu que a melhor opção era carregá-lo na mão. Fechei a porta do quarto na dúvida se deveria me jogar na cama, pular direto no chuveiro, ou emborcar um litro de suco de laranja. Fiquei com a terceira opção, que pareceu a mais essencial.