O passeio de hoje seria, se tudo corresse como planejado, semelhante ao de alguns dias atrás, começando com o desânimo de levantar antes das 7:00 h. Implicaria na substituição de Rimini por Pesaro (leia pésaro) e de San Marino por Urbino, uma cidade medieval na montanha, presente na lista de patrimônios da UNESCO. Antes de descer do quarto fiquei satisfeito com a visão que minha janela proporcionava do céu. No entanto, ao sair pela praça que me levaria à estação, observei a quantidade de nuvens cinzas que cobria quase tudo. Por pouco não voltei imediatamente, pensando em passar a aparentemente inevitável tempestade dentro do apartamento. Num segundo pensamento, percebi que talvez o tempo ruim não chegasse tão longe quanto meu roteiro previa que eu fosse. As consultas haviam determinado que o trem adequado partiria às 7:35 h e vinte minutos antes estava tentando comprar a passagem de ida e volta para o percurso de quase duas horas. Tive que fazer várias tentativas até encontrar uma bilheteria que aceitasse o cartão e fiquei com receio por causa da pouca frequência dos horários para volta. Conclui que, na pior das hipóteses, iria gastar alguns euros inutilmente em longas viagens ferroviárias. O trem, que chegou em cima da hora vindo de paradas anteriores, já estava bastante cheio e peguei a única poltrona de janela vazia no vagão. Ao chegar no litoral o céu já estava bem mais limpo e o condutor entrou na estação de Pesaro às 9:30 h. A saída seguinte do ônibus para Urbino seria uma hora mais tarde. Eu estava com muita preguiça de fazer o passeio mas a compra do bilhete foi tão fácil que, quando percebi, já estava com a ida e volta na mão. Devia esperar quase uma hora e achei que dava tempo de andar pela cidade e ver o mar. Aqui também existia uma ampla rede de ciclovias e o percurso de 1,5 km por uma delas me levou para a agradável marina ao lado do Rio Foglia. Uma bela praia de areia, sem muita organização, se estendia a partir da foz do rio na Baía Flaminia e um quebra-mar com pedras extremamente convidativas queria me prender. Já havia decidido ficar um pouco mais por causa da frequência horária da ligação com Urbino. Duas razões me impediam de descartar os bilhetes já adquiridos: a cidade medieval parecia ser imperdível e nuvens diáfanas cobriam parte do céu. Mesmo assim o mormaço era tentador. Consegui juntar coragem e continuar a caminhada de volta para o centro. O encanto com o simpático balneário começou a se desfazer ao chegar à praia principal, nos moldes de tantas outras horríveis na costa adriática, com bares ocupando quase toda a faixa de areia. Uma diferença era a Praça da Liberdade, na metade da extensão, que apresentava um amplo calçadão circular com bancos e vista desimpedida para o mar. Entrei no ônibus das 11:30 h para subir a montanha. O trajeto poderia ser bem mais rápido mas a linha passava por muitas pequenas cidades para pegar e deixar passageiros. A rodoviária de Urbino ficava no subsolo do subsolo de um shopping construído na encosta da montanha. Peguei um elevador para subir seis andares de estacionamento e passei por quatro pisos do centro comercial até sair na Porta de Santa Lucia, uma das aberturas da muralha que permite o acesso ao centro histórico. O pintor Rafael Sanzio é o filho famoso da cidade e um dos atrativos do roteiro turístico é a entrada na casa de seu nascimento. Subi e desci diversas ladeiras para atingir o ponto mais alto da cidade, onde um parque abriga o monumento ao cidadão ilustre. Ali também foi construída a fortaleza, chamada Fortezza Albornoz. Atualmente abriga um museu arqueológico e o parque situado no interior das muralhas oferece uma vista fabulosa do centro histórico. Andei por algumas vielas estreitas e bem conservadas e cheguei ao nível da Praça da República, perto da qual ficam a Igreja de São Francisco e a Casa de Rafael. Em seguida o contorno do enorme Palazzo Ducale com suas duas torres de castelo de contos de fada me levou à Praça do Renascimento com a Igreja de São Domingos em frente à um pequeno obelisco egípcio e à entrada da antiga moradia dos duques governantes da cidade, que serve hoje como sede da pinacoteca. Não entrei no museu mas passei pelos dois belos pátios internos, abertos ao público. O último grande monumento avistado foi a Catedral depois do que iniciei o caminho de volta para pegar o ônibus das 15:30 h. O retorno para Pesaro levou uma hora e tive que aguardar mais 60 minutos para entrar no trem regional das 17:26 h, último transporte do dia. A visita foi um pouco corrida e descobri que tanto o balneário como Urbino mereciam uma dedicação maior. Ficou anotado para a próxima oportunidade. Essa região ficava na metade do caminho entre Pescara e Bolonha, as duas bases que escolhi, e o acesso para passeios de um dia se mostrou um pouco dificultado devido à distância. Quando entrei no trem ainda havia alguns lugares vagos mas, com todas as paradas no caminho, a quase totalidade do espaço foi ocupada. As malas e sacolas lotavam os bagageiros e o corredor. Torcia para que as doze horas passadas longe tivessem contribuído para limpar o firmamento mas parece que a situação se mantinha a mesma de quando saí pela manhã. A internet continuava um avião e, meia hora depois de chegar, tudo estava transmitido, agilizado pela preparação no trajeto longo.