Não conseguia decidir entre as alternativas possíveis para a viagem de hoje e deixei para escolher com a ajuda da bilheteria automática no terminal ferroviário. Sem muita convicção comprei uma passagem de ida e volta para Ravena e pude pagar com o cartão. Já havia estado na cidade, que foi capital do Império Romano do Oriente na época das invasões bárbaras e onde a principal atração são os mosaicos bizantinos espalhados por várias igrejas. O percurso deveria durar quase uma hora e meia e havia pouca chance de encontrar o mar por perto. Ravena fica a dez quilômetros do litoral, que conta com várias praias famosas, todas de areia e organizadas ao gosto italiano e tão desagradáveis para mim. O trem entrou no terminal às 9:10 h e eu estava meio sem rumo. Não tinha muita vontade de visitar os monumentos e, ao atravessar a passagem subterrânea que cruza os trilhos, dei de cara com um grande estacionamento de ônibus turísticos de onde saíam vários enormes grupos guiados. Isso só me deixou mais confuso e decidi seguir para o lado contrário, em direção ao mar. A região era muito bem servida por ciclovias e seguindo por elas por vários quilômetros cheguei em Punta Marina Terme, um dos balneários que atende a área. Como previsto a praia não dava para ser frequentada mas as rotas de bicicleta continuavam para as cidades vizinhas e eu decidi passar o dia andando. As ciclovias eram pavimentadas, de chão de terra ou meras trilhas dentro de bosques. Fui ao Lido Adriano e continuei pela estrada, também usada pelos ciclistas, para chegar no Lido di Dante. A praia era um pouco menos organizada mas também estava muito cheia. Até fiquei com vontade de passar alguns momentos perto do bosque de pinheiros ao fundo porém me lembrei que ainda tinha diversas horas de caminhada pela frente. Para não repetir o percurso pedi ajuda do mapa eletrônico, que me fez percorrer um longo trecho de uma rodovia estreita, com bastante tráfego e sem acostamento. Além disso as margens estavam cercadas por mato alto. Na verdade o erro foi meu na interpretação da rota sugerida. Descobri após vários quilômetros sob estresse que havia uma trilha cicloviária paralela à estrada e num nível um pouco mais alto. Só me dei conta de sua existência quando percebi algumas vozes vindas de cima. Como o caminho de terra era muito próximo do asfalto a linha azul que define o roteiro sugerido confundia as duas vias e só percebi que o aplicativo estava apontando a trilha quando dei uma grande aproximação na tela. A linha tracejada aparecia claramente ao lado da cheia que indicava a rodovia principal. Nessa altura já estava na hora de cruzar o Rio Uniti por uma ponte sobre a estrutura de uma represa. Do outro lado a estrada asfaltada era bem mais tranquila e acompanhava grandes campos de cultivo. Voltei para uma trilha de terra para passar por baixo da ponte rodoviária que cruzava o rio ao longo do qual o caminho me conduzia. Cheguei na plataforma em tempo de ver as luzes do último carro fazendo a curva. Por causa de alguns segundos tive que aguardar uma hora pela partida seguinte. Eu até entrei num trem que sairia mais cedo e exigiria uma conexão porém fiquei na dúvida se a minha passagem poderia ser usada e acabei descendo no último minuto porque não encontrei nenhum funcionário a quem pudesse expor minha incerteza. Cheguei um pouco mais tarde em Bolonha e ainda tive que passar no supermercado. Também fiquei com um pouco de remorso por ter estado numa cidade com tantos monumentos classificados pela UNESCO e ter apenas feito uma caminhada pelo litoral, mesmo que ela tenha sido muito agradável.