Em mais mais uma manhã de muita preguiça, desci para o refeitório poucos minutos depois das 7:00 h. O desjejum estava razoável, com sucos horrorosos. Tanto o de laranja quanto o de uva eram intragáveis. Foi bastante inconveniente a lotação pelo enxame de gafanhotos chineses, que fazia a maior algazarra e tornava o recinto pequeno e apertado. Meia hora depois as coisas já haviam se acalmado, com a guia devolvendo os passaportes a seus donos e levando-os embora. Por via das dúvidas pendurei o sinal de Não Perturbe do lado de fora da porta e voltei para debaixo do edredom. Saí às 10:00 h com a intenção de conhecer o Museu Nacional. O começo no subsolo, onde deixei a mochila, apresentava a coleção de fragmentos de pedras e monumentos do período romano circundando um grande mosaico recuperado de uma vila da região. O primeiro andar apresentava a exposição arqueológica, com explicações sobre a evolução humana e técnicas desenvolvidas. Um piso acima expunha a história da Hungria de uma forma que me deixou com muitas dúvidas. Não sei se deixei de ler algum texto importante, mas achei as informações dos diversos períodos um pouco escassas e não entendi diversos contextos. Durante as quatro horas em que estive visitando as salas da instituição, vi pouquíssimas referências à Áustria, aos Habsburgos, e ao Império Austro-Húngaro, como no Museu Histórico de Budapeste. Um setor refrigerado da sala do séc. XIX guardava o piano de Beethoven que, após sua morte, foi colocado em leilão e presenteado a Franz Liszt pelo arrematador. Além disso, outros objetos de uso do compositor húngaro foram doados ao acervo, como a espada cerimonial e a batuta, decorada com pérolas e esmeraldas, presente de uma princesa. O diretor da instituição cultural convenceu o artista a ser retratado após a primeira execução de sua obra em Pest, no saguão do museu em 1849. Estava fazendo uma última panorâmica antes de voltar para a rua quando um funcionário se aproximou dizendo que vídeos eram proibidos. Se, por um lado ele reforçou a impressão de um povo grosso, por outro fiquei satisfeito de entender as duas palavras que ele insistia em repetir: tilos (leia tilosh) vídeo. Proibido vídeo. Mas nem precisava falar. A aproximação era mais que suficiente. Já havia sido impedido anteriormente de entrar numa galeria com a garrafa de água de metal. Só podia plástico. Tive que colocar num armário do saguão da bilheteria. Durante a visita fiquei me perguntando se algum museu no mundo já havia inventado um dispositivo anrirreflexo. Hoje eles atrapalharam muito a visualização das pinturas e objetos nas vitrines. E para as fotos eram uma tragédia. Às 16:00 h comecei a etapa da caminhada pelas ruas mais centrais do centro. Foi um trajeto bastante movimentado e bem turístico. Vinte de agosto é o dia de Santo Estêvão, a maior celebração da Hungria. Pelos cartazes espalhados, as comemorações deveriam começar amanhã e várias barracas estavam sendo montadas nas principais praças. Reparei em estruturas ontem ao longo do rio, talvez para espetáculos de luz ou fogos de artifício. Na volta para o hotel passei novamente pelo Museu para visitar a loja. Não havia nada de muito interessante, mas peguei dois títulos fininhos. Na hora de pagar, uma das caixas não quis atender porque era função da outra. A outra tinha dado uma saidinha e voltava já. Já pode significar coisas diferentes para pessoas diferentes. Tava demorando muito e eu devolvi os itens a seus lugares. Deviam ser todos funcionários públicos, com futuro assegurado. Entrei mais uma vez no supermercado para comprar o gostoso suco de marca própria que eles produzem e, na fila para pagar, um húngaro não parava de olhar. Finalmente resolveu perguntar de onde eu era. Não sei como ele descobriu que eu não era conterrâneo. Quando falei em Brasil ele ficou todo animado, comentando com a moça do caixa e dando a entender que já havia feito o passeio. Como só falava húngaro e quase nada de inglês, achava que eu podia ter entendido tudo errado.