15/ago/19

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17/ago/19

A festa barulhenta no porto entrou pela madrugada. Acho que há tempos deve ter perdido o caráter folclórico. A rabeca nervosa fazia eco ao bar musical vizinho do hotel numa grande cacofonia e turistas se misturavam aos grupos de dança numa orgia frenética. A confusão do ritmo tradicional e do som moderno amplificado emprestava um caráter especialmente desalentador à confraternização. Pela manhã já havia decidido a atividade do último dia em Kálymnos e a opção não apresentava muita novidade: praia. A única incerteza era qual. Por desencargo de consciência fui visitar duas próximas ao centro, bem no canto depois do porto. Ficam a pouco mais de um quilômetro do hotel e são pequenas e forradas de pedra. A intensão era apenas ver como eram já que estava bem inclinado a voltar à Linária. Ao retornar ao porto para pegar o caminho de saída da cidade resolvi aproveitar a oportunidade de conhecer uma grande loja que comercializa o produto mais tradicional da ilha. Kálymnos é conhecida por recolher esponjas, uma espécie marinha que, aos moldes do coral, se fixa nas rochas do fundo do mar. Os mergulhadores locais vêm exercendo a atividade há séculos e com a tecnologia atual caçam os animais em até 40 metros de profundidade. Os vendedores são especializados no assunto e não se incomodam de atender a todas as curiosidades dos turistas. Pela terceira vez em três dias percorri o caminho chato para ir do centro até o outro lado das montanhas, onde está a maior parte de praias. Linária fica ao lado de um penhasco e é formada por uma curta extensão de areia. Atravessando uma área com algumas tavernas surge a parte das perdas que, para minha decepção, já estava ocupada por uma família de farofeiros. O espaço não é muito grande e eu optei por ultrapassar algumas rochas para me afastar um pouco da zona mais procurada. Ao longo da manhã diversas famílias foram se aglomerando no trecho com acesso mais fácil ao mar. Por volta das 13:00 h descobriram a paz do meu lado e eu não aguentei mais de uma hora grudado a um guarda-sol. Como cheguei mais cedo no hotel resolvi sentar pela primeira vez na varanda e observar o movimento da baía. Acabava de entrar um barco da guarda-costeira rebocando uma pequena lancha e um bote inflável, com o convés repleto de pessoas. Provavelmente tratava-se de nova leva de refugiados. Acho que eram todos do sexo masculino e os que carregavam alguma coisa seguravam apenas um pequeno saco ou mochila. Deve ser muito difícil recomeçar a vida em condições tão precárias. Contudo, pareciam estar sendo bem tratados neste primeiro momento.