Curioso e temeroso por saber se o feriado estava reservando alguma surpresa desagradável para mim saí do hotel pouco antes das 8:00 h, em tempo de chegar na rodoviária fechada. Naquele mesmo momento estacionava a bicicleta da vendedora e começava um grande repique de sinos na igreja próxima. Assim que a funcionária se desincumbiu de suas funções de abertura da loja entrei no escritório para perguntar as razões da festividade. Parece ser o equivalente à Nossa Senhora, com toda a importância que a religião tem na civilização grega atual. Encostei as mochilas no banco da praça em frente ao terminal e me preparei para aguardar pela saída das 9:15 h. Fiquei sabendo que esse é o único dos horários disponíveis em que é necessário fazer uma troca em Esparta na metade do caminho. Os demais cinco ou seis vão direto para Trípoli, onde terei que iniciar a última parte do trajeto. Pelo que me informou o vendedor na segunda-feira são apenas dez minutos para troca, mas eles sempre falam isso. Ainda estava sem saber se haveria continuação possível no dia santo e não me senti à vontade para inquirir a vendedora a respeito. De qualquer modo ela não saberia o que dizer e, no máximo, poderia telefonar para alguém, como já haviam feito nas vezes anteriores, sem obter resposta. Além disso ela não parecia tão interessada no meu destino quanto o atencioso e simpático funcionário do primeiro dia. Com um pequeno atraso e quinze passageiros o primeiro ônibus do dia partiu em direção à Esparta. A viagem era curta e às 10:00 h já estava na plataforma aguardando a conexão para Trípoli de ali a meia hora. A lotação dessa vez estava bem maior porque a linha ia para Atenas, mas consegui manter a mochilinha no banco ao meu lado. O primeiro motorista vez questão que eu a colocasse no bagageiro inferior junto com toda a bagagem, apesar da sobra de espaço dentro da cabine. Depois de pouco menos de sessenta minutos cheguei no ponto crítico, que estava me assustando desde que comecei a pensar nesse deslocamento. Fui diretamente para a bilheteria e senti grande alívio quando a vendedora falou que a saída para Nafplio (leia náflio) seria no final da tarde. Ao contrário do que havia descoberto na internet, a ligação era três horas mais tarde seguindo os moldes de domingo, justamente por causa do feriado. Como havia cogitado mais cedo haveria a possibilidade de eu entrar em mais um ônibus e seguir até a cidade seguinte, de onde o transporte para meu destino final é mais frequente. Porém a atendente não conhecia os horários e achei que não valeria a pena arriscar a sorte apenas para economizar duas ou três horas, tendo ainda que encarar outras transferências. Já estava mais do que contente por não precisar recorrer à medida mais extrema, como encontrar um hotel para passar a noite e perder uma diária das sete reservadas. Afinal, já estou conformado em gastar o dia inteiro quando tenho que trocar de base e cinco horas de espera adicional não ia fazer tanta falta. No caso de chegar com algum tempo livre havia programado conhecer a praia mais próxima do centro e por causa da padroeira tive que adiar a curta visita. Deu tempo para o céu encher de nuvens, chover e cair outro temporal. Na saída às 17:00 h o sol voltou a aparecer mas o céu continuava bastante nublado. O último trecho de estrada consistiu num belo caminho serpenteante para descida de uma serra até o Golfo das Argólidas, o terceiro grande corpo de água, ao lado do de Messini e do da Lacônia, no sul do Peloponeso. Nafplio não era de todo desconhecida. Quando visitei o Templo de Esculápio e o Teatro de Epidauro alguns anos atrás, aproveitei para passar a tarde na cidade, ocasião em que pude visitar o charmoso centro antigo e subir a montanha com o enorme Castelo. A hospedagem escolhida para passar a semana não ficava muito longe do terminal de ônibus e, para contrabalançar as demais, resolvi economizar nas diárias. Pelo preço baixo estava preparado para encontrar coisa muito pior, especialmente a internet. Ao ser recepcionado pelo Panaiotis às 18:00 h fui alertado de que talvez hoje fosse a única das sete noites em que poderia não haver ninguém para abrir a porta à noite. Ele disse que seu nome é a versão masculina da santa comemorada e ele teria compromisso com a família para festejar a data. A saída rápida para reconhecimento da redondeza era desculpa para verificar o supermercado do centro e na porta percebi que ele não funciona no feriado. Como estava perto resolvi retornar à rodoviária e comprar a passagem de volta para Atenas, onde vou passar uma noite antes de seguir para a última ilha. Achei que seria bom ter a viagem marcada com bastante antecedência para não depender de imprevistos.