Consegui esticar o pescoço para fora da janela e enxergar uma fresta de céu azul. Com a previsão meteorológica de hoje e amanhã bastante desfavorável resolvi sair cedo do quarto, aproveitando que o dia havia amanhecido ensolarado. A ideia fixa era visitar a praia conhecida com as lajes de pedra e ficar por lá o tempo possível. Na volta da visita de ontem passei por umas formações rochosas bastante convidativas, porém considerei o local próximo demais do centro, apesar de isolado. Queria caminhar alguns quilômetros adicionais antes de me instalar e para isso a área rochosa no trajeto para Lumbarda parecia mais adequada. Logo de cara tive a primeira desilusão. O supermercado no qual me acostumei a comprar a garrafa de água pelas manhãs só abre nos domingos a partir das 8:00 h. Passar o dia sem o líquido é impensável porém aguardar meia hora pela abertura da loja também parecia fora de propósito. Os bares já começavam a abrir as portas mas iniciavam o funcionamento no mesmo horário. Passei por um mercado menor cuja proprietária arrumava a mercadoria e pedi uma garrafa grande. Ela igualmente não estava recebendo compradores contudo, de muito má vontade, me forneceu o item. Os habitantes da ilha de Vis são simpáticos por natureza. Os moradores da ilha de Hvar o são por necessidade turisitica. Os da ilha de Korcula, no entanto, como já havia notado, são bem menos abertos com os desconhecidos. A vendedora não chegou a ser rude, mas fez questão de mostrar seu desagrado com a intromissão inoportuna. Afinal, estava escrito na placa: abertura aos domingos às 8:00 h e norma é norma. Dessa vez resolvi ir para a praia pela estrada asfaltada, sem entrar no tranquilo desvio rural. Depois de me aproximar da primeira baía na cidade de Lumbarda contornei a via que circunda parte do morro e atingi a região que me interessava. Ainda estava cedo e não havia chegado mais ninguém, apesar de não ter muita dúvida de que o fim de semana seria provavelmente mais concorrido. Todavia, as lajes que tanto me atraíram inicialmente, seguiam acessíveis por todo o litoral até o balneário anterior em Soline. E, além das imensas rochas, também havia diversos trechos de praia forrada de pedras. Não era falta de espaço que comprometeria meu isolamento. Mas poderia ser falta de tranquilidade. Pouco depois de mim chegou por via marítima uma família croata e estacionou seu bote inflável a poucos metros. Uma hora depois foi a vez de um casal alemão, que veio pelo trajeto das rochas, como eu. A gota dágua foram a segunda e a terceira famílias croatas, estas com cachorro e crianças. Coincidiu com o momento em que o sol começou a se esconder atrás da floresta e a sombra a tomar mais espaço. Voltei algumas posições, para uma laje ainda ensolarada. O temporal marcado para as 11:00 h não apareceu, porém as nuvens começavam a se acumular rapidamente no horizonte visível. Havia outra previsão para as 14:00 h. Sinal de que não havia muito mais tempo. Quando o branco ganhava do azul por mais de 50% tocou o apito final. Juntei tudo e iniciei o trajeto de retorno, esperando chegar seco. Todo o percurso de volta foi sob sol e céu aberto. Aparentemente o tempo ruim estava indo para outro lado. O final da caminhada foi torturante, com o que parecia ser um quilo de protetor solar dentro do globo ocular. Ao menos foi só de um lado.