Brigando com a preguiça deixei o quarto às 7:45 h. Não é por falta de local para conhecer que eu vou ficar parado. A saída pelos fundos da cidade conduz ao lado mais turístico da ilha, com vários balneários. Inicialmente havia programado caminhar até o mais longínquo, porém comecei a pensar que talvez devesse parar antes. Tudo ia depender do que encontrasse pela frente. Já no início do percurso, a menos de dois quilômetros do hotel, surgiu o pequeno Castelo Chysocheria (leia rrissorreriá, mas não precisa tentar pronunciar) dos tempos bizantinos. No outro lado do vale e de extensão bem maior ficam as ruínas da antiga capital, Hora (leia rróra), repetindo o costume de assim denominar a localidade principal, como na maioria das ilhas gregas. Tive coragem de escalar as ladeiras da primeira fortificação, porém o morro da cidade medieval amuralhada ficou fora dos planos. A vista à distância foi suficiente. Segui pelo vale até a saída para o lado das praias, pouco depois do aeroporto. Nesse ponto surgiu uma zona arqueológica que, segundo a placa mentirosa na entrada, estava aberta entre quarta-feira e sexta-feira a partir das 8:30 h. Originalmente havia um templo dedicado a Apolo e atualmente o vestígio mais visível é uma parede da basílica paleocristã. Mil metros adiante surgiu o desvio para a primeira praia. Estava decidido a parar assim que encontrasse um lugar razoável, mas Kantouni (leia cantúni) não se encaixava nos requisitos mínimos. E aí também ficou claro que o dia seria ocupado apenas por caminhadas curtas entre as várias praias, sem permanência longa em nenhuma. Um rochedo que entra no mar faz a separação com Linária, a praia seguinte. O mirante sobre a rocha entre as duas oferece belas paisagens, inclusive do leve nevoeiro que se acumulava nas montanhas. A praia vizinha de Linária quase me fez rever os planos pela décima vez. Aí podia encontrar todas as exigências: isolamento, solo forrado de pedras, grandes rochedos no mar e até sombra, para o caso de necessidade. Contudo iria continuar a procura. A parada seguinte podia, aparentemente, ser atingida pelos penhascos, como indicava a aventura de um casal. Eu, no entanto, preferi a rota longa pela estrada. Não me sinto no modo cabra ultimamente. Platys Gialos (leia platí iialós) pode ser dividida em duas partes. A primeira, mais agradável, estava vazia e tem muita pedra, mais ao meu estilo. A maioria das pessoas prefere o outro lado, mais longo e com uma mistura de pedras negras e areia, com algumas barracas perto do bar. Diversas praias em todo o país têm esse mesmo nome que, se não me engano, pode ser traduzido por praia grande. A seção mais tranquila também quis me atrair, mas desejava conhecer pelo menos mais duas possibilidades. Segui mais ou menos fielmente o mapa eletrônico e, depois de descer bastante, ele me deixou na frente de uma trilha bloqueada por um cabo de aço e cadeado. Não tive dúvida. Para não perder o costume dei a volta por um muro baixo e continuei pelo caminho esburacado sem saber ao certo onde ia parar. Como avistava várias casas e carros abaixo deduzi que podia sair dalí facilmente o que, de fato, ocorreu. Cheguei na cidade de Myrtiés, ponto final da jornada. Essa região é meio confusa, com uma sequência de quatro ou cinco cidades interligadas que não me deixaram identificar onde estava, apesar do GPS. A topografia peculiar contribui para a bagunça mental, tendo sido determinada pela proximidade da enorme montanha e o mar. Apenas uma faixa estreita é habitável e, para otimizar o espaço, eles construíram duas vias em alturas diferentes, uma para ir e outra só para voltar. Claro que isso não se aplica a mim, que gosto sempre de andar na contra-mão. Com o tecido urbano espremido dessa forma, os balneários se juntaram e praticamente formam um único todo. Para confrontar a beleza do pano de fundo uma rocha quase tão alta emerge do oceano a pequena distância, formando a ilha Telendos. Às 15:00 h comecei a retornar por vias menos duvidosas, subindo e descendo bastante. Afinal, tem uma cadeia de montanhas no meio do caminho. Ao me aproximar do centro fiquei muito surpreso em perceber que o aeroporto se encontra no topo de uma montanha. Para confirmar se isso realmente acontecia entrei no Google assim que cheguei no quarto e pude verificar a imagem do cume aplainado.