O ônibus para as praias da outra ponta sai num horário mais camarada, às 8:30 h e, mesmo tendo que atravessar o canal para chegar no terminal de Otrobanda, não precisa correr tanto. Percebi que havia alguma coisa errada quando a ponte abriu comigo atravessando e não fechou mais. Esperei alguns minutos e não havia mais ninguém sobre a passagem escancarada e imóvel. Vindo da casa de máquinas, um passante me alertou que o fechamento só aconteceria dali a uma hora e os pedestres ilhados podem pular o grande espaço de pivoteamento e aguardar alguém abrir o portão automático. Ainda cheguei com vinte minutos de antecedência até a saída do transporte. A linha que ia pegar fazia a ligação com as praias Lagun e Knip a 35 quilômetros. Após uma hora de viagem desci antes do ponto final para percorrer a pé o pedaço que faltava e conhecer as diversas praias da região. A primeira era Lagun de apenas vinte metros de extensão. Cheguei bem na hora da nuvem mais escura e havia somente duas pessoas dentro da água e um pai brincando com o filho na areia. Cinco minutos foi o suficiente para riscar a atração da lista de locais a conhecer. Entre a estrada e o mar a pequena vila de Lagun é composta por residências coladas umas às outras, com a possibilidade de eventual observação da água para lá dos quintais. O único terreno baldio que possibilitaria alguma visão mais de perto estava coberto de mato espinhudo e não aconselhava exploração. Jeremi, a praia seguinte e um quilômetro à frente, era um pouco mais longa porém igualmente vazia. Mil e quinhentos metros adiante Knip Pequena, como o nome sugere, não era muito mais espaçosa que as anteriores contudo estava mais concorrida. No percurso para a vizinha Knip Grande havia um curto desvio que terminava num mirante abrindo para um pedaço de mar incrivelmente azul. Também pude ver a primeira iguana, que não nas mãos dos fotógrafos. Dizem que elas são uma praga por aqui mas foi a primeira que enxerguei ao vivo nos passeios rurais. Entrei num segundo atalho, porém este só levava a uma construção abandonada e oferecia visão restrita do oceano. A paisagem observada a partir do estacionamento no alto é fantástica e havia muito mais gente, inclusive os corajosos que se jogavam do penhasco nas águas transparentes. A ideia não era me juntar aos banhistas embaixo, porém o mapa eletrônico indicava uma pequena trilha que economizaria alguns quilômetros para voltar para a estrada principal. Estava no fundo da praia tentando encontrar o início da vereda quando alguém me interpelou. Perguntei se seria possivel acessar a rodovia por aquele lado e o simpático vendedor me acompanhou até o início do caminho. Acho que não teria encontrado a entrada sem auxílio humano. Após outro trecho de estrada cheguei à deserta praia Forti e, logo em seguida, à movimentada praia Grandi. Aqui é o local que muitos escolhem para nadar com as tartarugas sem ter que enfrentar passeios de barco para a distante Klein Curaçao. Entrando no Westpunt, a área final da ilha, conheci a pequena Kalki e tomei a estrada de terra que leva até as formações rochosas de Watamula, onde pode ser apreciado um grande furo no penhasco em que a água flui sob uma ponte de pedra. Com a entrada da maré, as gotículas espirradas delineiam mini arcos-íris. A palavra no plural fica feia mas o efeito é muito bonito, apesar de efêmero. Não mais que algumas centenas de metros dali fica a minúscula praia Gipy, onde três visitantes já ocupavam a totalidade da extensão de areia. A vista das grandes pedras desprendidas do restante do penhasco, contudo, é bastante impressionante. Quando saía da praia Grandi, pouco antes, houve a coincidência da chegada do ônibus de outra linha, que fez meia volta e retornou pela rodovia principal. Isso me alertou sobre a localização da parada e facilitou o retorno. Entrei no veículo seguinte que deveria passar aproximadamente uma hora depois de deixar o terminal no centro, segundo meus cálculos que se mostraram corretos. Já que este era um serviço circular, como a maioria das ligações daqui, não tive problema em acrescentar o tempo ao horário disponível no arquivo do celular e estimar quando precisaria estar de prontidão. Com isso pude desfazer um bloqueio mental que me deixava receoso de vir para essa ponta longínqua de Curaçao. Os relatos da internet que havia lido faziam questão de ressaltar a necessidade imperiosa de alugar alguma forma de transporte para os deslocamentos. Deu para perceber que o serviço prestado pela empresa oficial é totalmente confiável e eficiente. Há pelo menos seis ou sete partidas diárias para vários pontos e os veículos sempre têm trafegando com espaço livre. Levei duas semanas para chegar a esta conclusão.