12/ago/19

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14/ago/19

O passeio do dia envolvia mais uma caminhada, agora para o outro lado da costa. Imaginava que a enseada de Vathys (leia vatís) apenas diferisse da anterior em Vlichadia por ficar numa entrada de mar bem mais profunda e parecer ser mais larga. Dessa maneira não acreditava em diferença no percurso, a menos da distância, bem mais longa. Às 7:00 h o sol nascente surgiu exatamente na direção da minha varanda e, ao contrário do habitual, fui forçado a fechar as cortinas. Quarenta e cinco minutos mais tarde estava entregando a chave na recepção para começar o novo dia. O mapa eletrônico insiste em indicar o trajeto que ele acha mais inteligente que, no caso, era de terra e atravessava as montanhas pelo ponto mais alto. Considerei essa opção fora de propósito e me ative à rota automobilística que segue o contorno litorâneo. Como mostra a experiência, o padrão é o da grande subida de uma vertente com estabilização por alguns quilômetros no plano alto e correspondente descida pelo outro lado, na ida e na volta. Não há possibilidade de percurso circular, a não ser enfrentando as alturas montanhosas. O início da estrada é bem chato, passando por diversas instalações industrias, a usina termelétrica, estaleiros, depósitos de ferro velho, a fábrica de cimento e o lixão, com tráfego de muitos caminhões, acúmulo de entulho e a inevitável presença de moscas. Com o distanciamento do centro a paisagem foi perdendo a característica fabril e retomando os aromas adocicados dos oleandros vermelhos e brancos, tão presentes na Grécia toda. Até que, depois da curva, surge a espetacular visão da enseada de Vathys, uma língua do mar que segue por algumas centenas de metros ladeada por altos penhascos carecas e terminando num amplo e verdejante vale. Ao contrário do que pensei, só existe uma praia bem pequena e o resto é cimentado. Geralmente a vista do alto me satisfaz e, para economizar pernas, retorno daquele ponto. O caso no entanto, era especial. Não se tratava apenas de mais uma praia, mas de uma ocorrência pouco comum, que merecia meu esforço adicional. Já havia usado quatro horas andando pelo trecho desde o centro de Pothia, com diversas paradas longas. Gastei meia hora adicional para descer. O local só estava cheio porque um barco de turismo trazia uma centena de visitantes que, depois dos mergulhos, voltavam à embarcação para desfrutar da refeição incluída na excursão. Em outras situações creio que pouca gente visita esta parte da ilha, do que notei pelo baixo movimento da estrada. Tinha impressão de que fosse achar a caminhada aborrecida, mas percebi como é fácil observar a beleza das coisas. Da fábrica de cimento e do lixão, da planta esquisita que brota do meio do asfalto com folhas em formato de orelha de burro e caule que cresce mais de um metro ou da melodia produzida pelas dezenas de sinetas das cabras ou ainda pela árvore solitária que surge no cume de uma elevação, sem nada ao redor. E tudo para terminar na deslumbrante enseada de Vathys. A visita não poderia ser melhor.