O último dia completo na Itália amanheceu maravilhoso, como as previsões já indicavam. A vontade era aproveitar o sol na praia mas várias razões desaconselhavam a ideia. A distância era uma delas. Apesar da facilidade de acesso, era necessário pegar o metrô, mudar para o trem e ainda entrar num ônibus, para mais tarde refazer o trajeto na volta. Teria também que desencaixar as toalhas que serviam de separadores de livros na mochilona e depois rearranjar tudo. E sempre poderia acontecer um imprevisto no caminho dificultando o retorno. Tinha ainda que considerar a preguiça e a vontade de voltar para casa e não seria uma dia de calor, por mais maravilhoso que fosse, que compensaria toda a dor de cabeça. O hotel ficava quase na esquina da parada do ônibus para o aeroporto e não dava nem coragem de sair para passear pela redondeza. No entanto, faltavam vinte e quatro horas e já ia passar bastante tempo sem fazer nada no terminal aéreo de Lisboa aguardando a partida noturna para São Paulo. Com tudo isso, virei para o lado e continuei na cama até as 9:45 h, quando resolvi descer para o adeus e até breve. Mas foram as conversas na recepção quase na frente da porta do quarto, o incômodo muscular nas costas sexagenárias acumulado em cincoenta dias de reclinação desajeitada no colchão para operação dos computadores e a iminência da faxina que me convenceram a ir para a rua. Fui montando o roteiro à medida que caminhava, o que não era difícil em Roma, tentando passar por lugares ainda não conhecidos. Após atravessar a Esquina das Quatro Fontes entrei na igreja barroca dos jesuítas Santo Andre al Quirinale, projetada por Bernini no século XVII. Quase ao lado ficava a residência do presidente italiano no Palazzo del Quirinale e, pouco à frente, a Fonte dos Trevos e seus implacáveis guardinhas apitando para espantar os turistas mais afoitos. Passei por algumas ruas de comércio no centro histórico e encontrei outro monumento novo para mim, a Câmera de Comércio de Roma, que preservava na fachada as colunas do Templo de Adriano. Na sequência vieram o Panteão na Piazza della Rotonda e a Piazza Navona com suas três fontes e mais uma igreja barroca, dedicada à Santa Agnes em Agonia, de Borromini rival, como querem os críticos, de Bernini. O lado tétrico do templo ficava na Sacristia, que preservava o crânio da santa imolada no fogo pelos romanos. Continuei andando pelo centro e pelas marginais do Rio Tibre, passando pelo Castelo Sant'Angelo, mais algumas igrejas, a Praça das Flores onde ficava a fogueira que em que ardeu Giordano Bruno, a grande Piazza del Popolo e a vizinha Piazza di Spagna. Cheguei no quarto às 16:00 h para tentar dar uma última apertada no conteúdo das mochilas. Talvez tivesse que começar a carregar uma sacola extra para os livros.