Um pouco miais assegurado pelas informações obtidas ontem no escritório de turismo e aproveitando o sol de uma jornada com ótima previsão meteorológica, decidi empreender a visita importante, porém difícil de realizar com o escasso transporte coletivo para o destino. Pretendia chegar à gruta de Lascaux, um Patrimônio da UNESCO, famosa pelas figuras artísticas desenhadas por humanos de eras primitivas. A viagem deveria ter início às 8:10 h e duraria quase uma hora e meia. A caminhada de 38 quilômetros era inviável e a única forma pública era pelas duas ligações rodoviárias, uma cedo pela manhã e outra após a hora do almoço. O ar estava bem gelado, mas o sol brilhava num céu totalmente azul e comecava a aquecer. Até levei um susto quando a motorista fez a cobrança. Acostumado com os preços exorbitantes dos trens, € 2,30 por 90 minutos de viagem pareceu de graça. Fiquei na dúvida se havia entendido corretamente e peguei uma nota grande, que ela achou grande demais e pediu menos. Definitivamente não era dos trajetos mais concorridos. Fui o único passageiro a entrar e a partida havia sido de uma parada anterior na praça do Teatro, no centro. No caminho entraram alguns poucos viajantes e cheguei às 9:30 h para o início da visita guiada. Na entrada era oferecido um aparelho auditivo que permitia ouvir as explicações do guia, no entanto era tudo em francês. A recepcionista aconselhou o uso gratuito de um tablet com dados em inglês, mas quando estavam todos no elevador para descer para o andar da visita, perguntei se não poderia ter também o sistema que todos usavam Acompanhei as explicações em francês, perdendo alguns pontos, contudo, foi bem mais interessante do que uma palestra gravada. O grupo de umas quinze pessoas foi instruído sobre o contexto e temas das impressionantes pinturas. A caverna verdadeira estava interditada para visitantes desde 1963 por motivos de preservação. O que estava disponível era a cópia do original, criada num edifico de construção arrojada. As salas simulavam o ambiente real, replicando todos os desenhos e suas cores. Apesar de ser apenas um cenário, as condições térmicas eram mantidas em niveis pré-históricos. Tremi durante toda a visita. A descoberta do sítio ocorreu em 1940, porém as pinturas foram realizadas há mais de 15 mil anos. Depois do percurso com o monitor, as salas do centro de interpretação ofereciam diversas atividades para aprofundar o conhecimento. Foi impressionante observar a criação artística de nossos ancestrais, que desenvolveram imagens de cervos, equinos e bovinos com muita fidelidade. Nas consultas anteriores havia percebido que no trajeto ficava uma outra cidade turística, que também era servida pelo trem. Imaginei voltar de Lascaux para Terrasson a pé, numa distância praticável de 17 quilômetros, semelhante à que empreendi de Vilandry para Tours. No entanto, lembrei do sufoco passado na estrada sem acostamento. Fiquei atento para as condições da via na ida e verifiquei que teria que andar pelo asfalto na maior parte do tempo. Não querendo repetir a experiência, decidi voltar de ônibus. O inconveniente é que só ficaria com uma hora e meia para a visita da gruta e não poderia usufruir totalmente do Museu. Peguei o ônibus das 11:30 h, junto com o passageiro excêntrico que havia entrado em Brive, de barba e saia. Estaria na cidade intermediária meia hora mais tarde. A previsão de céu limpo não se concretizou e fui acompanhado pela ventania gelada na segunda visita. O sol só aparecia de vez em quando e nem tive que tirar o casaco. Terrasson era uma cidade medieval agradável, erigida sobre uma colina à beira do Rio Vézère. A entrada na vila era feita pela Ponte Velha, construída em 1150, a pedido dos monges beneditinos que habitavam a abadia da época. Para tal feito de engenharia foi criado um canal para desvio das águas que deu origem à Ilha la Vergne, que ainda existe. Os restaurantes tinham muitos clientes, porém o movimento nas ruas era baixo. Subi as escadarias e andei pelo centro imaginando o que faria até 18:00 h, horário da partida do ônibus. Se passei pouco tempo em Lascaux, ele foi demais em Terrasson. Resolvi subir até o mirante depois do cemitério, cujos habitantes sempre têm a melhor visita. Logo que entrei na cidade, havia uma indicação para o Jardim do Imaginário. Contudo, achei € 8,00 muito dinheiro para conhecer mais um parque. Voltei para o ponto ao lado da ferroviária às 16:00 h. Comentei o outro dia sobre a compra desnecessária da passagem antecipada. Terrasson me provou errado. A bilheteria só abria entre 12:30 h e 15:30 h e não havia máquina automática. Fiquei com vontade de pegar o trem apenas porque havia partida uma hora mais cedo. Porém, achei que não seria adequado entrar sem a autorização. As multas tabeladas variavam com a distância viajada sem permissão. Se o culpado denunciasse a falta de bilhete por vontade própria, era algo como € 20,00 para os primeiros 25 quilômetros. O valor subia para € 100,00 se a falta fosse detetada em flagrante e dobrava para pagamento em data posterior. O motorista, extremamente pontual como sempre, era o mesmo que me trouxe de Lascaux. Também era o mesmo o barbudo de saia. Essa linha não podia dar lucro.