Mais um dia de transferência. Mais um dia perdido. Ontem à noite experimentei o adaptador de tomadas no quarto, apesar de não ser necessário, já que a parede possui uma instalação quase universal. Só não cabem os três pinos redondos brasileiros. Funcionou perfeitamente, o que mostra que a bondade do município praiano estava mais para propaganda vazia. O barco para a ilha de Gozo parte do terminal marítimo no norte, para onde é preciso viajar de ônibus por meia hora. Recebi um recado do novo alojamento pedindo confirmação da chegada 30 minutos antes. Tenho que lembrar de pesquisar as reservas levando em conta também a existência de uma recepção para evitar estes transtornos de avisos antecipados. Deixei o hotel às 9:45 h e em 15 minutos havia chegado no ponto de ônibus. Havia duas linhas com o mesmo destino. Talvez os itinerários fossem diferentes. Entrei no primeiro que encostou, junto com todos os outros que estavam esperando. O trajeto foi demorado demais. Foram três vezes mais do que eu havia estimado. Em parte por causa do trânsito causado por inúmeras obras nas pistas e também por o motorista percorrer vias muito apertadas para passagem de dois veículos grandes simultaneamente. Apesar de muito cheio, encontrei um assento no corredor, onde tive que me espremer com a mochila grande nas costas e a pequena no peito. Não me atrevi a sair do abraço delas temendo que não fosse mais encontrar lugar para tudo e, deste modo, tive que ir sentado na ponta do banco, sem poder mexer as pernas. Por 90 minutos. Foi quase uma tortura. O momento leve, se poderia ser chamado assim, foi quando os italianos que formavam a maioria dos passageiros, começou a receber as notícias da morte de Silvio Berlusconi. O ambiente esteve bastante barulhento desde a partida. Às 11:30 h o veículo largou os viajantes no terminal das barcas e a abordagem foi imediata. A travessia do estreito, que começou às 12:00 h, durou apenas 20 minutos e o bilhete só era pago no retorno para a ilha maior. Ao sair fiquei muito tentado a pegar o ônibus para a capital, já que estava temeroso de enfrentar seis quilômetros de subida, carregado e sob forte sol. O trajeto completado do outro lado do mar recentemente pendeu a balança para a caminhada. Foi cansativo. Acho que na próxima viagem vou ter que trazer novas costas. O andar térreo da propriedade é alugado para um escritório e a moça ao computador me informou que o dono entra e sai toda hora. No momento estava o Joseph que não tinha nenhuma ligação com o hotel, mas avisou o Manoel pelo telefone de que eu havia chegado. Eles foram inflexíveis com o horário, porém pude deixar a bagagem numa sala de despejo. Em vez de sair andando resolvi atravessar a rua e sentar nuns degraus à sombra para digitar algumas informações. Logo percebi movimento e voltei para o alojamento. As bagagens já haviam subido e só faltava pagar. Ele aceita apenas dinheiro vivo e, para facilitar o troco, me deu desconto de € 1,00. Às 16:00 h saí para o reconhecimento do centro e para encher a geladeira. Escolhi este alojamento porque ele ficava bem perto do movimento turístico da capital e era uma das poucas opções para as minhas exigências. Não contava com tantas ladeiras e os passeios devem ser ainda mais difíceis. O de hoje foi curto e fácil. Entrei na cidade murada, construída principalmente no período medieval e a principal edificação era a catedral, dedicada à Nossa Senhora da Assunção. A Cidadela era um local de dimensões reduzidas e, como fortificação, um de seus objetivos era acolher os habitantes dos arredores no caso de ataques piratas praticados, especialmente, pelos turcos. Um episódio que expôs as fragilidades das defesas foi a tragédia de 1551, quando os otomanos arrebentaram os muros e fizeram grande quantidade de escravos. As estimativas de vítimas, entre mortos e apreendidos, girava em torno de 5000 pessoas. Após o incidente, o recinto foi totalmente reformulado, segundo as táticas defensivas da época, e os moradores da vizinhança construíram pequenas casas nas quais poderiam se refugiar em caso de ameaças. Este era o principal motivo para justificar as extensas áreas internas hoje abandonadas. Os casebres mal arquitetados não resistiram. Além da igreja principal, alguns edifícios administrativos compunham o complexo. Ao começar a visita notei um placa com valores de ingressos, porém a entrada estava franqueada. Estando bem no meio da ilha e em local elevado, as vistas panorâmicas da redondeza eram excelentes, mostrando as distâncias e vales entre os pontos que espero conhecer. Não sei se apenas o localização era responsável, mas a ventania estava de levar o chapéu. Em vários momentos era mais fácil segurá-lo na mão.