Encontrei uma área com várias espreguiçadeiras desocupadas e usei a excelente rede wifi gratuita para realizar as atualizações do diário. Fechei os olhos para tentar dormir um pouco, mas sempre surgia uma ideia nova para escrever, até que resolvi levantar às 2:00 h para ver se havia alguma informação sobre o portão. O painel havia sido atualizado, informando que o voo partiria do Terminal C. Para chegar lá deveria entrar no cômodo e eficaz transporte ferroviário interno gratuito para fazer o trajeto de poucos minutos. Acho que deve ter havido alguma reforma importante desta parte do aeroporto porque lembrava de ser uma região muito rústica no ano passado, quando estive aqui para fazer a transferência para Atenas. As salas estavam bem mais tranquilas que o local anterior, porém não havia os assentos com suporte para as pernas e estava bem mais frio. Às 7:30 h teve início o processo de embarque. Como o avião estava estacionado numa posição remota os passageiros tiveram que ser transportados por ônibus até a escadaria da aeronave. Na verificação prévia o funcionário que me recebeu consultou um livreto para ver se eu estava livre da necessidade de visto. Aparentemente muitos grupos turísticos estão usando este avião para ir para a Croácia. Australianos e chineses/japoneses. O voo com duração de 5 horas lotou, inclusive a poltrona solitária ao meu lado que completava a fileira mais curta, de apenas dois lugares. O movimento intenso de aeronaves atrasou a decolagem em 40 minutos mas, com as duas horas de ganho no fuso horário, a chegada estava prevista para o meio-dia. O capitão percorreu um belíssimo roteiro histórico do Antigo Testamento, sobrevoando o Golfo Pérsico e toda a Mesopotâmia, até chegar à Turquia e às alturas nevadas ao redor do Monte Ararat, na fronteira turca com o Iraque e a Armênia. Os panoramas continuaram muito bonitos por toda a viagem, pelo menos quando as nuvens não atrapalhavam. Quando passava sobre Belgrado, na Sérvia e ao longo do Rio Danúbio, o piloto anunciou a descida para Zagreb (leia zágreb), onde a temperatura atingia os 25° C. Vinte minutos após o pouso cheguei no início da fila gigantesca para passar pela polícia imigratória. Essa tarefa burocrática inicial sempre me deixa apreensivo, porém o único inconveniente foi a relativa demora. Não havia fila única mas parece que todos os guichês respeitaram o mesmo fluxo aproximado, o que me colocou em solo croata às 13:00 h. A primeira atividade foi sacar alguma moeda local, chamada de kuna. Como sempre a máquina só dispensou notas de valor mais alto. Imaginei que isso seria um empecilho para pagar o ônibus até o centro. Havia lido sobre a existência do veículo na internet e ao sair do terminal observei um ponto perto da avenida. Um croata já estava à espera e disse que o que deveria ter passado 15 minutos atrás não apareceu. Já havia imaginado o fim da estória, achando que deveria começar de pé direito. Não reparei com qual pisei na calçada primeiro mas sabia que iria completar o trajeto a pé. A distância calculada pelo mapa eletrônico era de 14 km, o que parecia razoável. Por enquanto foram 36 horas apenas de deslocamento. Agora, após ter o passaporte carimbado e entrar oficialmente na Croácia, é que começa realmente o passeio. Estive no país anteriormente por duas vezes. A primeira foi apenas visita de um dia à capital. Em 2009 estive em três cidades na modalidade bate-volta e passei duas noites em Split, a segunda maior cidade croata. Da capital da Eslovênia peguei um trem para Pula (leia púla), famosa pelo anfiteatro romano. Saindo de Zagreb conheci Rijeka (leia riiéca). E de Split fui de ônibus para a bela Dubrovinik (leia dubróvinique), num passeio bastante frustrado pela forte chuva. Dessa vez pretendia passar mais tempo em cada uma delas, além de muitas outras. Havia descartado de cara a hipótese de passar algumas noites na capital e comprei pela internet em São Paulo uma passagem rodoviária para a cidade litorânea de Rovinj (leia rovíni). Fiquei com receio de ter exagerado na quantidade de viagens logo nos dois primeiros dias, contudo, já havia feito a escolha. Os hotéis estavam reservados e os bilhetes comprados. O terminal de ônibus foi minha referência no cômputo da distância. Como é comum a caminhada começou com calçada e ciclovia, que logo desapareceram. Isso foi apenas num pequeno trecho sem muito movimento. Depois de alguns quilômetros o caminho retornou para a segurança. O trânsito é bem civilizado e cruzei vários faróis de pedestres. Como não conhecia o costume resolvi obedecer a todos de forma exemplar. Contudo, após perceber vários ciclistas passando no vermelho, ficou claro que as normas não são tão rígidas. Os últimos quilômetros foram penosos, mas levei apenas 20 minutos a mais do que as duas horas projetadas inicialmente. Não pareceu excessivo, levando em conta a falta de costume, o forte calor e a dor na lombar encurtada pelo peso das mochilas. Logo que saí do aeroporto reparei que sentiria falta do protetor solar, porém lembrei do boné com fácil acesso na mochilinha. A outra dificuldade foi não ter comprado um pouco de água antes de me aventurar. Só fui encontrar uma oportunidade de adquirir o produto quando cheguei na rodoviária. Tinha algumas questões a resolver antes da viagem. A maior companhia de transporte de passageiros do país é a Arriva, de propriedade da DB, a gigante de trens da Alemanha. Se não me engano, Portugal também usa os serviços da empresa. A página que consultei explicava sobre um cartão de fidelidade para desconto nos bilhetes. Todavia ele só pode ser expedido pessoalmente num escritório da companhia na Croácia. Que coincidência! Eu estou aqui. Trouxe a foto 3x4 que eles pediram e saí da loja com um número que, supostamente, vai dimimuir o valor já menor no caso de idoso. Resolvi também comprar a passagem para a próxima base na semana que vem. Entrei no saguão da estação e desci para a plataforma indicada. Às 17:00 teve início outra longa viagem, de cinco horas. Os problemas não haviam acabado. Enfrentei outra série de contratempos para receber a chave do apartamento no centro histórico. Depois de muitos desencontros finalmente conheci o Luka, que me mostrou a morada. Vou ficar num espaço com a cama e o terraço no andar superior e as demais dependências no térreo. Tudo só para mim. É muito mais do que eu preciso e a internet deve me dar um trabalho enorme, se é que vai permitir fazer alguma coisa. Ficou combinado que teríamos novo encontro amanhã no final da tarde em um local com disponibilidade de máquina para passar o cartão. Com tanta atividade nos dois primeiros dias não sei se vou conseguir acordar amanhã com energia total.