As esquadrias das duas grandes janelas que davam para a praça não paravam de estalar enquanto o tempo esquentava a partir das primeiras horas do dia claro. Saí às 9:30 h, depois de retirar o cartaz de Não Perturbe pendurado na porta durante a madrugada, sem ideia do que fazer ou onde ir. Esperava que os ares me inspirassem. O céu estava bem limpo e não havia previsão de chuva para os próximos dias. Logo na saída descobri que um grande chamariz da cidade era um parque aquático do outro lado do córrego. Andei pela região dos banhos e piscinas e ensaiei uma entrada no Castelo. Achei melhor não ser apressado e deixar para outra ocasião. Apenas circundei toda a colina, entrando num parque que cercava a residência de Géza Gárdonyi, um autor da virada do sec. XIX para o XX, que escreveu um romance histórico, Eclipse da Lua Crescente, sobre o cerco otomano de 1552. Na entrada superior do castelo analisei com mais detalhe as condições do ingresso e um mapa dos atrativos da região em torno de Eger me fez considerar a visita imediata da fortificação mais interessante. Dessa forma teria um pouco mais de tempo para aventuras mais extremas. Ao meio-dia comprei o ingresso de velho com alguns acréscimos. O audioguia era sempre um estorvo e tinha que andar com um mapa com os locais de escuta, porém traziam informações interessantes. Comecei pela exposição no segundo andar do portão da entrada, com uma explicação sobre os tipos de armamento e forma de utilização no séc. XVI. A cidadela foi importante para evitar a tomada pelos turcos no cerco de 1552 sob responsabilidade do comandante Dobó, cuja estátua se elevava na praça central. Ele também emprestou seu nome a um dos bastiões que atualmente apresentava, em seus quatro níveis, alguns itens da coleção particular de armas doada por um aficionado. Num canto do castelo ficava a casamata, que guardava vestigios e história da antiga catedral gótica que existiu no local e foi destruída na época do cerco turco por uma explosão. A sepultura do romancista da tentativa de invasão ficava num dos bastiões do castelo, perto da colina do Calvário, que estava fechada para visitação. Na outra ponta da cidadela ficava a Sala dos Heróis, com estátuas gigantescas de personagens participantes da resistência contra os invasores. A parede do fundo lembrava o nome de todos os húngaros que perderam a vida no conflito do séc. XVI. Outro pavilhão registrava as condições do calabouço e a prática de torturas que ocorria na Idade Média. Vários pontos da murulha ofereciam belos panoramas do centro histórico e dos arredores da cidade. Uma das exposições salientava fatos importantes na vida dos dois personagens mais homenageados no castelo. O comandante Dobó, que evitou a vitória dos turcos e o escritor que relatou de forma romanceada suas experiências militares passados quase quatro séculos dos eventos. Para completar a visita, atravessei a rua para conhecer o interior da residência do escritor.